Estilista revolucionária responsável pela criação de um mercado nacional de moda nos anos 1970, Zuzu Angel (1921-1976) se tornou uma das maiores militantes de sua geração contra a ditadura militar. Após perder seu filho Stuart Angel, de 26 anos, preso e morto pelo regime repressor vigente no país, usou toda a influência profissional que tinha para denunciar a violência praticada pelo Estado naquela época. Sua tragédia pessoal foi traduzida nos versos da música “Angélica”, composta por Chico Buarque em homenagem à brasileira.

Zuzu Angel: acervo de moda e lembranças de sua luta contra a ditadura fazem parte  exposição que pode ser vista na internet
Zuzu Angel: acervo de moda e lembranças de sua luta contra a ditadura fazem parte exposição que pode ser vista na internet | Foto: Instituto Zuzu Angel/ Divulgação

Em homenagem aos 100 anos de nascimento de Zuzu Angel, celebrados no último sábado (5), o site do Itaú Cultural disponibilizou um amplo e rico material sobre a estilista. A ocupação Zuzu traz novos olhares sobre ela, em conversas com Virginia Siqueira Starling, que está escrevendo a sua biografia, o estilista Ronaldo Fraga, que em 2020 lhe prestou homenagem no São Paulo Fashion Week, e a jornalista Hildegard Angel, sua filha caçula, que traz antigos sobre a mãe. O material produzido pelo Itaú Cultural para comemorar o centenário de nascimento de Zuzu Angel dá luz à postura revolucionária, tanto na moda, quanto na maternidade, no feminino e na militância. A proposta é trazer à tona mais olhares sobre quem foi Zuleika de Souza Netto, nascida em Curvelo, em Minas Gerais, e que se transformou em um dos maiores nomes nacionais e internacionais da moda.

“A gente tem de conhecer Zuzu a fundo porque ela nos ensinou e continua a ensinar o que podemos fazer com as nossas próprias mãos, com criatividade, e como achar força em um momento de dificuldade para poder falar o que acredita”, diz Virginia ao site do Itaú Cultural. “Ela fez o que achava que tinha de fazer. A gente não pode deixar passar essa história em branco e falar 'ah! ela enfrentou a ditadura', mas, sim, entender porque ela a enfrentou e porque isso era importante para ela”, complementa.

A biógrafa destaca, ainda, que, além de mãe, militante e estilista, Zuzu era uma empresária que acreditava na moda brasileira e que somente poderia ser reconhecida internacionalmente se fosse legítima. A afirmação é confirmada pelo estilista Ronaldo Fraga. “Zuzu Angel foi a primeira estilista a falar em legitimidade da moda brasileira, o primeiro nome feminino em um universo dominado por homens. Principalmente, se dedicou a este ofício, em uma época em que o Brasil era muito dependente das notícias do que era lançado na Europa”, analisa Fraga. “Imagina o que era se inspirar em Lampião e Maria Bonita em 1971”, diz.

A moda criada por Zuzu Angel também foi considerada revolucionária para o período e tinha a marca da brasilidade
A moda criada por Zuzu Angel também foi considerada revolucionária para o período e tinha a marca da brasilidade | Foto: André Seiti/ Divulgação

Para ele, a figura de Zuzu também é marcada pela coragem de usar seu ofício como costureira e criadora como uma forma de manifesto: “quando você vê a trajetória dela, entende que não é única só no Brasil; é única no mundo. Na história da moda você não tem um inglês, italiano, francês, alemão que tenha usado a moda de forma tão radical como denúncia do governo como ela fez. Acho que Zuzu, hoje, deveria ser estudada para além das escolas de moda”, conclui Fraga.

No site, o público pode assistir, ainda, ao depoimento dado por Hildegard Angel. Ela fala, emocionada, sobre o início do trabalho da mãe como costureira e a abertura da primeira boutique, dá luz aos conceitos de algumas das coleções de Zuzu, da legitimidade da moda brasileira, o início da carreira internacional. E a busca pelo filho desaparecido.

Serviço:

Ocupação Zuzu Angel

Onde - No site do Itaú Cultural: www.itaucultural.org.br 

Gratuito

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