Após escrever o romance “Ulisses”, que rompia com todos os padrões narrativos da literatura, James Joyce (1882 – 1941) começou a criar em 1923 sua obra mais radical, “Finnegans Wake”. O escritor irlandês levou 17 anos para terminar o trabalho, período em que perdeu parcialmente a visão. Publicado em 1939, o livro se tornaria a experiência de linguagem mais radical da história da literatura.

Rotulado como “obra intraduzível”, uma narrativa que deveria ser lida apenas em sua língua original, a língua inglesa, tornou-se a tentação dos tradutores em várias partes do mundo. No Brasil a primeira tradução foi realiza por Haroldo de Campos e Augusto de Campos. Lançado em 1962, “Panorama de Finnegans Wake” reunia fragmentos da obra em traduções baseadas na teoria da poesia concreta.

A primeira tradução integral do livro, realizada pelo professor da UFRGS Donaldo Schüler, começou a ser publicada em 1999 pela Ateliê Editorial dividida em 5 volumes com o título “Finnicius Revém”. O último volume chegou às livrarias em

2004. No último mês de abril, a Ateliê lançou uma nova edição reunida em um único Volume.

UM LIVRO E UM FUNERAL

Agora uma nova tradução integral de “Finnegans Wake” organizada pela professora da UFSC Dirce Waltrick do Amarante está sendo lançada pela editora Iluminuras. Com o título de “Finnegans Rivolta”, a tradução foi realizada pelo Coletivo

Finnegans que reúne professores e pesquisadores da obra de James Joyce: Afonso Teixeira Filho, Andréa Buch Bohrer, André Cechinel, Aurora Bernardini, Daiane Oliveira, Dirce Waltrick do Amarante, Fedra Rodríguez, Luis Henrique Garcia Ferreira, Sérgio Medeiros, Tarso do Amaral, Vinícius Alves e Vitor Alevato do Amaral.

O nome do livro Joyce teria retirado de uma antiga canção popular irlandesa intitulada “Finnegan’s Wake”. Uma balada que conta a história de um pedreiro bêbado que, durante o trabalho, cai de uma escada e racha a cabeça. Durante seu velório, os amigos começam a encher a cara e no meio da cerimônia uma briga começa com socos e garrafas voando para todos os lados. No tumulto, uma gota de uísque acaba caindo na boca do defunto, uma gota milagrosa que o traz de volta à vida.

Nas palavras de Dirce Waltrick do Amarante, na canção estavam presentes os elementos centrais que seriam desenvolvidos no livro: “O enredo cíclico, a morte e a ressurreição do herói, a comicidade como tom geral e uma mescla de ingredientes lúdicos e obscenos, além da descrição de um funeral tipicamente irlandês.”

Segundo a lenda, entre os íntimos Joyce comparava a história narrada em “Finnegans Wake” como uma brincadeira de telefone sem fio. Aquela brincadeira em que uma pessoa sussurra uma frase no ouvido de outra pessoa e essa pessoa sussurra o que ouviu, ou pensa que ouviu, no ouvido de outra pessoa e assim por diante. De ouvido

em ouvido, de boca em boca, a frase segue se transformando até chegar de maneira irreconhecível no ouvinte final.

Estruturada de maneira fragmentaria, a narrativa não possui começo, meio ou fim. Não existe distinção de tempo, tudo acontece de maneira simultânea. A invenção de palavras é uma das grandes marcas da obra, onde o experimentalismo linguístico é levado às últimas consequências. Há centenas e centenas e palavras-valises caracterizadas pela união de duas ou mais palavras em uma só, de um mesmo idioma ou de idiomas distintos. Existem menções de palavras em aproximadamente 60 línguas diferentes em “Finnegans Wake”.

Dirce Amarante, organizadora de “Finnegans Rivolta”, alerta para a atmosfera onírica criada pelo escritor irlandês: “Joyce concebeu seu livro como um sonho; e como em um sonho, há associações de ideias, sobreposições de fatos históricos e ficcionais, união de passado e presente. No universo onírico não existe precisão: as personagens e a narrativa entram em metamorfose, se confundem, se entrelaçam. Por isso mesmo não é possível esperar de clareza.”

Em resumo, o grande sentido da obra, e até seu personagem principal, é a linguagem.

Serviço:

Imagem ilustrativa da imagem Obras de James Joyce: a linguagem em estado onírico
| Foto: Reprodução

“Finnegans Rivolta”

Autor – James Joyce

Organização – Dirce Waltrick do Amarante

Editora – Iluminuras

Tradução – Afonso Teixeira Filho, Andréa Buch Bohrer, André Cechinel, Aurora

Bernardini, Daiane Oliveira, Dirce Waltrick do Amarante, Fedra Rodríguez, Luis

Henrique Garcia Ferreira, Sérgio Medeiros, Tarso do Amaral, Vinícius Alves e Vitor

Alevato do Amaral

Páginas – 720

Quanto – R$ 198

“Finnicius Revém”

Imagem ilustrativa da imagem Obras de James Joyce: a linguagem em estado onírico
| Foto: Reprodução

Autor – James Joyce

Editora – Ateliê Editorial

Tradução, introdução e notas – Donaldo Schüler

Páginas – 832 (capa)

Quanto – R$ 272