Dias atrás, quando o International Booker Prize anunciou os finalistas da edição de 2022, apareceu uma surpresa. Entre os finalistas estava um autor brasileiro, o gaúcho Paulo Scott concorrendo com o romance “Marrom e Amarelo”.

Um dos mais prestigiados prêmios literários europeus, o International Booker Prize consagra o melhor livro de ficção traduzido e publicado no Reino Unido e Irlanda. Publicado no Brasil pela editora Alfaguara em 2019, “Marrom e Amarelo” foi lançado na Inglaterra em 2020 pela editora And Other Stories com o título “Phenotypes” (fenótipos) e tradução de Daniel Hahn.

Não se trata de um prêmio fácil para os autores brasileiros. Paulo Scott é o segundo finalista em toda a história do Booker Prize. O primeiro foi o paulista Raduan Nassar, indicado em 2017 pelo romance “Um Copo de Cólera” publicado originalmente no Brasil em 1978. A edição britânica recebeu o título de “Cup of Rage”, lançada em 2016 pela editora Penguin Books com tradução de Stefan Tobler.

“Marrom Amarelo” aborda, com uma ampla gama de nuanças, o racismo e o colorismo na sociedade brasileira. Se o racismo é caracterizado pela discriminação de raças e etnias, o colorismo é caracterizado pela discriminação de diferentes tons de pele, tanto entre grupos raciais diferentes como dentro de um mesmo grupo racial ou étnico.

O romance narra a trajetória de Federico, um cientista social de 50 anos de idade conhecido por sua militância em movimentos negros. Em Brasília, atua numa comissão governamental que estuda mudanças na política de cotas para negros e indígenas nas universidades brasileiras. Insatisfeito com as fraudes no sistema de autodeclaração racial, manifestações de estudantes explodem pelo país. Uma confusão entre as definições de pretos, brancos, pardos, pardos-claros, pardos-escuros e outras variações na palheta de cor de pele brasileira e características fenotípicas. A solução apresentada pelo governo federal está em substituir a autodeclaração racial e análises subjetivas por um software de inteligência artificial com análises objetivas de raça e tons de pele.

No meio das discussões da comissão, Federico precisa viajar emergencialmente para sua cidade natal, Porto Alegre, com a missão de socorrer a sobrinha presa pela polícia durante um protesto de rua. Na cidade onde viveu a infância e a juventude assiste o passado retornar na forma consequências no presente.

Entre as várias nuances e camadas do colorismo abordado por Pauto Scott em “Marrom e Amarelo”, está a relação entre Federico e seu irmão Lourenço. Filhos de pai negro e mãe branca, Federico nasceu com pele parda quase branca e Lourenço nasceu com pele parda quase preta. Essa diferença influencia como o racismo atinge os irmãos na infância, juventude e idade adulta. As experiências de racismo vividas pelos irmãos são completamente diferentes e determinadas pela diferença do tom de pele de cada um.

Nascido em Porto Alegre em 1966, Paulo Scott possui quase duas dezenas de livros publicados, envolvendo romances, poesias e contos.

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. | Foto: Divulgação

Serviço:

“Marrom e Amarelo”

Autor – Paulo Scott

Editora – Alfaguara

Páginas – 160

Quanto – R$ 52,90 (papel) e R$ 34,90 (e-book)