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Folha 2 5m de leitura

'O Promic está na vida das pessoas, dos hospitais às periferias"

Bernardo Pellegrini fala da cultura em Londrina e diz que a proposta de redução orçamentária do Promic é de "dois vereadores isolados"

ATUALIZAÇÃO
14 de dezembro de 2023

Walkiria Vieira
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem 'O Promic está na vida das pessoas, dos hospitais às periferias"

Com 20 anos de atividades, o Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura) é reconhecido pela sociedade de Londrina e região, além de ser referência em nível nacional.

Das ações que transformam o cotidiano das periferias a espetáculos de repercussão para além das fronteiras, a cena cultural londrinense pode ser delimitada, respeitosamente,  com um antes e depois do Promic. 

Assim como no ano de 2022, emendas na Câmara de Vereadores de Londrina à LOA (Lei Orçamentária Anual) de 2024 propõem a retirada de recursos do Promic para aplicação nas áreas de segurança, saúde e esporte. O programa pode perder R$ 3,2 milhões dos R$ 5,3 milhões previstos para o próximo ano caso as propostas sejam aprovadas.  Em entrevista à Folha de Londrina, o Secretário de Cultura, Bernardo Pelegrini, discorre sobre esse assunto e outros.

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Qual seu ponto de vista, como Secretário de Cultura, sobre a proposta de redução orçamentária de um programa que é tão significativo para a cidade?

Isso não é uma iniciativa da Câmara de Vereadores,  mas de dois vereadores isolados que tentam criminalizar a cultura e transformá-la em um bode expiatório dos problemas do mundo. 

A  cultura é um dos instrumentos que a sociedade tem para pensar um convívio mais equilibrado, mais justo , pois traz questionamento, reflexão, mudança de espírito, emoção. Acima de tudo, quando tentam criminalizar a cultura cometem um grande erro tentando iludir os seus eleitores e suas bases dizendo que cultura é para financiar fricote de artista e isso é uma mentira. Esse  é um dinheiro muito bem investido pois o Promic está na vida das pessoas: está nos hospitais, a exemplo do Plantão Sorriso, com as mulheres vítimas de violência, a exemplo dos trabalhos da Marina Stuchi, e na memória da cidade.

São investimentos nos meninos da periferia, nas linguagens como o hip hop e a grafitagem, tão marginalizadas. Investimentos no circo que vai para as todas as escolas municipais. Em Londrina, temos um modelo de cultura que atende toda a cidade dentro do espírito da cidadania. Se pensarmos, seguramente, o bem supremo, do povo, é a cultura.

A verba de que dispõe a pasta é a ideal?

Chama-me a atenção que ao dar visibilidade à verba de que dispõe a pasta da cultura, devemos esclarecer que o nosso orçamento é o mesmo de 15 anos atrás, sem a correção anual da inflação e sem investimentos.

A verdade é que a pasta já teve 1,5% do orçamento, o que significaria em torno de R$ 40 a 50 milhões de reais. Hoje, temos R$ 17 milhões. O poder que o secretário de Cultura tem diante desse contexto e do impasse é o de chamar a atenção da sociedade e trazer à tona a potência da comunidade cultural de Londrina, que não é pouca: temos 10 festivais. Agora mesmo no final do ano, temos a editora Grafatório com trabalhos estupendos destacando as artes visuais, como o livro de Arnaldo Batista, dos Mutantes, que estava esquecido, ou o Festival de Música encubando a Escola Pública de Música Popular que estamos tentando construir.

A questão do orçamento estou tratando diretamente com o prefeito Marcelo Belinati para no ano que vem conseguirmos recursos para reabrir o Museu de Arte, reabrir o Teatro Zaqueu de Melo e ter um pouco mais de recursos no Promic para expandir suas ações nas periferias e facilitar para essas gerações de meninos e meninas acessos a editais simplificados e recursos garantidos, com prestações de contas fáceis de fazer.

O que o Programa Municipal de Incentivo à Cultura representa para a população? 

O  Promic, ao completar 20 anos, merece todas as grandezas:  já investiu em mais de 1700 projetos socioculturais e transformou Londrina na primeira a aplicar o sistema municipal de Cultura. Somos reconhecidos em todos os lugares pela potência de nossos artistas, nossa comunidade cultural e existem os reflexos disso no cotidiano da sociedade, graças a esse traço de ativismo, beleza, presença e participação dos artistas.

Assim, é claro que os artistas estão preocupados com o destino cultural da cidade. Estamos vivendo um impasse, a questão orçamentária é fundamental e ao invés de tirar, temos que investir um pouco mais na cultura de Londrina.

Qual o poder do Secretário nesse momento?

A força que temos é o amor das pessoas pela cultura e isso não é consenso, não é unanimidade, nunca foi, como em nenhum setor é. Mas temos muita convicção de que saímos de um pesadelo, que foram os quatro anos de um governo que elegeu a cultura como inimiga e os artistas como bodes expiatórios, além de uma pandemia que aniquilou iniciativas fantásticas, lembrando que o segmento cultural foi o primeiro a ser atingido e o último a retomar à normalidade.

Assim, não é nada fácil e minha função é devolver para a cultura a importância que ela tem e que nós construímos nesses 20 anos, pois é uma política que atravessou governos e, mesmo assim, sobreviveu e, a cada momento damos contribuições para que Londrina siga como uma cidade inovadora, como uma cidade de vanguarda, afinal de contas, somos a quinta do Sul do Brasil. 

A pesquisadora Bruna Yamashita apresentou recentemente em Portugal, no Congresso Europeu de Projetos Socioculturais, estudo sobre o Promic e ficou todo mundo impactado com o alcance do programa. Cultura não é feita para os artistas, mas sim, feita pelos artistas por meio de políticas para a população,  assim como são as políticas para os idosos, para a mulher e as políticas para a cidadania. Espero que cada vez mais saiamos dessa fase para entrar num período de luz. 

Bernardo Pellegrini: "Minha sensação ao saber que 'esqueceram' de protocolar a emenda que daria continuidade às obras do Teatro Municipal foi  de estar diante de uma comédia,  um pastelão"
 

Qual sua opinião sobre o 'esquecimento' do líder da bancada do Paraná na Câmara para protocolar a emenda que daria continuidade à obra do Teatro Municipal de Londrina?

Minha sensação ao saber dessa justificativa foi a de que eu estava diante de uma comédia, um pastelão. Em um momento em que podíamos estar recuperando um grande projeto, saber que por conta de um "esquecimento" é deixada de lado uma emenda dessa importância é duvidoso.

Esse teatro irá se constituir como o maior teatro do País e foi fruto de um dos últimos concursos públicos organizados pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil. Desde o começo da gestão, tentamos buscar caminhos e é muito difícil acreditar que trata-se de um acaso, que foi um esquecimento e dá para desconfiar que o Teatro Municipal não está na lista de prioridades da bancada paranaense para entregar à cidade de Londrina esse presente maravilhoso.

A conclusão dessa obra magnífica formará um conjunto arquitetônico de importante localização que é o Marco Zero, perto da rodoviária, que é a primeira modernista do Brasil, com traços de Oscar Niemeyer, compondo um conjunto arquitetônico de grande significado para Londrina.

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