WILMAR KLEIN
O patchwork sonoro do ‘‘capitão’’ Kirk
ReproduçãoRichard H. Kirk com o vocalista do Cabaret Voltaire, Stephen Malliner: ‘‘ressuscitando’’ o projeto Electronic EyeEx-integrante da banda proto-eletrônica Cabaret Voltaire – que foi, entre 1974 (ano de sua criação) e meados da década de 80, uma das mais inovadoras da cena britânica – Richard H. Kirk tem desenvolvido, ao longo dos anos, uma intensa carreira-solo, com dezenas de discos assinados com seu próprio nome ou com os nomes dos projetos que inventa: Sandoz, Sandoz in Dub, Trafficante, Dark Magus, Nitrogen, Agents with False Memories, Sweet Exorcist, Al Jabr, Electronic Eye. Este último, após cinco anos na ‘‘geladeira’’, é retomado no CD (recém-lançado na Inglaterra) ‘‘Neurometrik’’, cujos 70 minutos de duração são divididos em faixas relativamente curtas (entre cinco e sete minutos) nas quais Kirk ‘‘costura’’ ambiências eletrônicas, efeitos dub, samples étnicos, tribais e jazzísticos, loops, noise, transmissões radiofônicas, diálogos, linhas de baixo e encorpadas batidas techno num patchwork sonoro dançável, no mais das vezes, mas também paranóico e sufocante. Tudo isso com uma produção caprichadíssima e acompanhado de encarte de 8 páginas no qual Kirk fala ‘‘pelos cotovelos’’ sobre tecnologia, opressão política, nova ordem financeira, o exército zapatista, entre outras coisas que nada têm a ver com a sua música. Ou melhor: talvez sejam o equivalente verborrágico de sua diversidade.
As in(ter)venções de Coulter, o versátil
Saiu pelo selo do ex-Swans Michael Gira, Young God Records (www.swans.pair.com), o excelente ‘‘INterVENTION’’, álbum de estréia do multiinstrumentista David Coulter, que já tocou com gente como Marc Ribot, Peter Hammil, Roger Eno, Talvin Singh e em grupos tão diversos entre si como Test Department, Pogues e o Kronos Quartet. Contando com as participações de Ribot, Steve Nieve (da banda de Elvis Costello), Terry Edwards, entre outros músicos do primeiro time, Coulter mostra, em 13 faixas gravadas entre 1996 e 99, toda a sua versatilidade. Para se ter uma idéia, o sujeito toca baixo duplo, guitarra, violino, acordeão, sax soprano e barítono, viola, harpa judaica, berimbau e mais uma dezena de instrumentos dos quais eu nunca ouvi falar. O resultado musical faz jus ao nome do disco: uma coleção de invenções/intervenções sonoras ricas em climas, texturas e surpresas. Sem favor algum, uma das mais consistentes e maduras estréias em carreira-solo nos últimos dez anos.
Selo minúsculo, grandes links
Se como eu você é um fanático pesquisador de sons inovadores, recomendo-lhe uma visita ao site da minúscula gravadora Intransitive: www.visionload.com/intransitive. Depois de conferir o minguado porém magnífico catálago do selo, vá ao melhor do site, os seus links, onde você encontrará entradas para as páginas de bandas e artistas com altíssimos teores de criatividade (e por isso mesmo à margem das grandes gravadoras). Destaco aqui alguns dos meus favoritos:
- bmb com. Grupo performático musical holandês que conta com a participação do ‘‘paisagista sonoro’’ Justin Bennet. Música abstrata para ouvidos treinados.
- Borbetomagus. Free-noise à base de guitarra e dois saxes. Se você acha que esta é uma formação limitada, procure conhecer este trio. Garanto que mudará de idéia.
- De Fabriek (e não ‘‘Fabreik’’, como está na relação da Intransitive). Outra grande banda holandesa, em atividade desde 1977. Overdose vanguardista.
- Farmers Manual. Um dos melhores grupos da cena eletrônica austríaca. Pena que a sua página seja uma das mais confusas da Internet.
- The Hafler Trio. Originalmente formado por Andrew McKenzie, Chris Watson (ex-Cabaret Voltaire) e Edward Moolenbleek, atualmente é um ‘‘trio’’ de um homem só: McKenzie. Nem por isso as colagens sonoras - especialidade do H30 (sigla da ‘‘banda’’) – ficaram menos criativas. Página complexa, com textos intrigantes.
- Outras páginas que vale a pena conferir: John Duncan, Keiji Haino (uma web page dark e muito bem construída), h.n.a.s., Lustmord (particularmente indicada para os fãs de música ambient sinistra), Nocturnal Emissions, v/vm e zoviet*france. Boa ‘‘navegação’’!