As alterações ambientais e as mudanças climáticas provocadas pelo homem no planeta é fato. Uma realidade científica estudada e comprovada, embora existam pessoas que escolhem negar tal fato.

Em 2013 o antropólogo e filósofo francês Bruno Latour foi convidado para realizar uma série de conferências na Inglaterra. Ao escolher tema, se debruçou sobre o que nomeou de Novo Regime Climático: a questão ambiental que pode comprometer a vida no planeta e as sucessivas atitudes escapistas frente a uma realidade comprovada pela ciência.

Segundo a Teoria de Gaia, a Terra é uma grande organismo capaz de se autorregular, só que numa escala gigantesca
Segundo a Teoria de Gaia, a Terra é uma grande organismo capaz de se autorregular, só que numa escala gigantesca | Foto: iStock

As palestras, proferidas na Universidade de Edimburgo, deram origem ao livro “Diante de Gaia – Oito Conferências Sobre a Natureza no Antropoceno” que acaba de ser lançado pela editora Ubu. Bruno Latour parte da Teoria Gaia para demonstrar como, ao longo da história, a religião, o estado e a ciência determinaram a noção que a humanidade possui da natureza.

A Teoria Gaia nasceu no início da década de 1970 ainda como Hipótese Gaia. Criada pelo pesquisador norte-americano James Loverlock com a participação da bióloga Lynn Margulis (1938 – 2011) foi aprimorada ao longo das décadas.

Segundo a Teoria Gaia, o planeta Terra é um grande organismo vivo. Um organismo capaz de obter energia, regular sua temperatura, combater suas doenças, eliminar seus detritos, etc. Um organismo como outro qualquer capaz de se autorregular, só que numa escala gigantesca.

Bruno Latour: “Ou mantemos as condições que tornaram a vida habitável ou então não merecemos continuar vivendo”
Bruno Latour: “Ou mantemos as condições que tornaram a vida habitável ou então não merecemos continuar vivendo” | Foto: Reprodução

Bruno Latour demonstra que a Teoria da Evolução de Charles Darwin (1809 – 1882) considerava que os organismos se adaptavam ao ambiente, que o ambiente determinava a evolução das espécies. Com o passar do tempo os cientistas perceberam que os organismos também alteravam e determinavam o ambiente.

Bruno Latour faz conexão com a Teoria Gaia que defende que qualquer organismo do planeta promove uma reação bioquímica que não apenas se desenvolve em um ambiente, mas altera o ambiente em torno dele para conseguir evoluir melhor. Ou seja, cada organismo vivo que habita o planeta manipula intencionalmente o ambiente em que está inserido segundo seus próprios interesses de sobrevivência. Seja uma alga, um rato, um homem, uma árvore, uma bactéria, uma orquídea, uma baleia, uma capivara ou um vírus.

Nos dias de hoje a grande maioria das pesquisas científicas demonstram o homem como organismo responsável pelas grandes alterações ambientais que resultaram no aquecimento global. O desmatamento acelerado associado à incontrolável emissão de CO² alimentaram essa alteração ambiental em escala planetária.

Nas conferências de “Diante de Gaia”, Bruno Latour aborda como a humanidade alterou o ambiente segundo seus próprios interesses: “A capacidade dos humanos de reorganizar tudo em torno deles é uma propriedade geral dos seres vivos. Na Terra, ninguém é passivo, as consequências selecionam as causas que atuarão sobre elas.”

O próprio conceito de Antropoceno, criado em 1995 pelo químico holandês Paul Crutzen, coloca a atividade humana como grande responsável pela mudança da composição de carbono na atmosfera. Fato que deu origem ao aquecimento global, provocando o aumento da temperatura, o derretimento das geleiras e o aumento do nível do mar. Essas e outras alterações já podem ser consideradas como uma nova era geológica.

Bruno Latour escreveu uma introdução especial para a edição brasileira de “Diante de Gaia”. Termina o texto com as seguintes palavras: “Gaia não é a natureza virgem. Não é a deusa-mãe. Ela não é mãe coisa nenhuma. Não é sequer um todo, um existente global. É simplesmente a consequência das sucessivas invenções dos viventes que acabaram transformando completamente as condições físico-químicas da terra geológica inicial. Hoje, cada elemento do solo, ar, do mar e dos rios resulta, em grande medida, de modificações, criações e invenções de organismos vivos. Gaia são todos os seres vivos e as transformações materiais que eles submeteram à geologia, desviando a energia do sol para benefício próprio. É nessa rede, nessa trajetória de seres vivos, que alguns desses viventes encontram-se irreversivelmente emaranhados. Ou mantemos as condições que tornaram a vida habitável para todos os que chamo de terrestres, ou então não merecemos continuar vivendo.”

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Serviço:

“Diante de Gaia – Oito Conferências Sobre a Natureza no Antropoceno”

Autor – Bruno Latour

Editora – Ubu

Tradução – Marylua Meye

Páginas – 480

Quanto – R$ 89,90