A música é uma forma de expressão. Seja ao cantar, tocar ou simplesmente ouvir. E isso acontece para todo mundo. Para algumas pessoas, a música pode ser mais clara do que a fala, a escrita e a mímica. É assim que acontece com Antônio Pellegrini, 16, que tem Síndrome de Down (SD) e possui o transtorno do espectro autista (TEA). A melhor forma de Antônio se comunicar é através da música. E que sorte a dele ter um pai musicista como Bernardo Pellegrini, que atualmente também ocupa a cadeira de Secretário de Cultura de Londrina.

“Eu percebi que, desde pequeno, o Antônio reagia com os diferentes ritmos: samba, bolero, blues, frevo… E para criar uma maneira de interagir, comecei a transformar toda a nossa rotina em música. Tem músicas repentistas, tem outras que criamos juntos, sempre inspirado nele e nas histórias que ele vivia”, conta Pellegrini. E, desta forma, o Antônio passou a associar alguns momentos com os ritmos da música, e a comunicação entre eles acabou fluindo mais fácil por compreender melhor as reações e vontades dele.

“O que a música diz? O que o ritmo entrega? As crianças com Down também são capazes de distinguir e entender isso, principalmente se estimuladas desde a primeira infância. A musicoterapia presente desde o início é de grande estímulo para reabilitar a cognição, a hipotonia, e o desenvolvimento da fala”, aborda o Professor Lydio Roberto Silva, musicoterapeuta e docente do curso de musicoterapia da Unespar/FAP, em Curitiba.

MÚSICA E SÍNDROME DE DOWN

Atualmente, a musicoterapia ocupa um ambiente importante quando se aborda o espaço biológico, psíquico, social e espiritual, este último não como religião, mas como a capacidade de transcender o tempo e o espaço. “A música é objeto mestre, porque quando você ouve uma música de 10 anos atrás, rompe a barreira do tempo-espaço e se ‘transporta’ para aquele momento em que viveu. A mesma referência que nós temos acontece com as crianças com Down que desde pequenos convivem com os diversos ritmos, e isso pode ser associado com a fase da aprendizagem”, completa Silva.

O estudo da musicoterapia é recente no Brasil, vem desde 1978, mas os efeitos psicossociais já são bastante explorados nas mais diversas áreas e cada vez mais encontra-se publicações científicas a respeito.

A música é completa para o desenvolvimento. Isto serve para todos os bebês, que a partir de três meses já podem frequentar as aulas. “Vejo na sala de aula que as crianças com Síndrome de Down são ainda mais ritmadas e animadas. Ter essa experiência desde cedo vai maximizar as oportunidades deles como adolescentes e adultos.”, explica Andressa Chinzarian Miguel, musicista, educadora musical do Ilece, em Londrina, e que está finalizando a pós-graduação em musicoterapia.

A musicista conta que os pequenos possuem uma agilidade de resposta muito grande, afinal o cognitivo deles ainda está sendo formado e neste momento a socialização com outras crianças também é essencial. Especialmente crianças com Down precisam estimular o tônus muscular e instrumentos como piano, bateria, chocalho, são grandes aliados para isso, assim como o cantar, para desenvolver melhor o tônus muscular dos músculos da face.

“O meu filho desenvolveu a fala através da música, aos 8 anos. Foi no momento em que o matriculamos na aula de música que as palavras soltas começaram a formar frases”, conta Noemia da Silva Cavalheiro, presidente da Federação Paranaense de Associações de Síndrome de Down, em Curitiba, sobre o seu filho Carlos Eduardo Cavalheiro, hoje com 34 anos e que aprendeu a tocar guitarra, bateria e piano.

REPERTÓRIO

Desde 2006, é comemorado no dia 21 de março o Dia Internacional da Síndrome de Down. O motivo da data é pela singularidade da trissomia do cromossomo 21. Para celebrar, Bernardo Pellegrini reuniu as canções criadas por ele para o filho Antônio, as 12 músicas serão apresentadasno espetáculo "O Mundo de Antônio", que acontece neste sábado (18), na Loja Ciranda, em Londrina, a partir das 10h. Com diversão, alegria, e vários brinquedos reunidos pelo Antônio, os dois vão fazer uma festa com as crianças que participarem.

Antôni Pellegrini: a música faz parte de sua história em casa ou no palco
Antôni Pellegrini: a música faz parte de sua história em casa ou no palco | Foto: Acervo pessoal

“A música, independentemente do Down ou TEA, é uma ferramenta para educar a criança, para aprender a história, o ritmo, as tradições. É um antídoto para emoções, para não ficar velho, não perder o sonho, o desejo. E por isso, vamos apresentar essa brincadeira entre eu e o Antônio”, explica Pellegrini.

Serviço:

'O Mundo de Antônio' - com Bernardo e Antônio Pellegrini

Sábado (18), a partir das 10h

Local: Ciranda - Rua Hugo Cabral, 656, Centro, Londrina

Evento gratuito