Sátira divertida, original e irreverente sobre Hollywood e suas estrelas, “O Peso do Talento” traz Cage interpretando uma versão de si mesmo em ótima metacomédia. Na incontida ansiedade de ver suas salas lotadas como nunca nos dois ultimos anos, o exibidor londrinense menosprezou o público cinéfilo. Há alguns dias, um dos bons filmes do ano passou por aqui quase batido, com a cidade entregue às ambiciosas promessas dos blockbusters “Dr. Estranho”, “Top Gun” e “Jurassic - Dominion”.

Abafando a frustração, fieis apoiadores de Nicolas Cage, bem como seus detratores de carteirinha mal souberam que a comédia de ação “O Peso do Talento” estava em cartaz,desaparecendo subitamente. Cage é um dos astros maiores de Hollywood. Protagonizou mais de uma centena de filmes (cento e quinze, diz a lenda), conhecidos mundialmente. Ganhou diversos premios (Oscar e Globo de Ouro incluidos) ao longo dessa trajetória. Passeou por todo tipo de genero. O que mais poderia fazer alguem com este currículo? Acertou quem cravou interpretar a si mesmo. E isso é justamente o que se assiste em “O Peso do Talento”.

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O filme nos coloca no lugar de Nicolas Cage, interpretado por… Nicolas Cage. Ele está no crepúsculo de sua carreira, depois de ter vivido seus anos de glória. Sente que não há mais nada de novo para dar como contribuição, já que a indústria cinematográfica não mostra mais interesse por ele. No entanto, de um momento para outro, sua sorte parece mudar, pelo menos financeiramente (Cage é grande e contumaz devedor. De verdade). Isso ocorre quando Javi, um milionário espanhol excêntrico e fã dele, interpretado por Pedro Pascal (o vilão Max Lord de “Mulher Maravilha”) lhe oferece um milhão de dólares para comparecer à sua festa de aniversário. Quando este acordo estiver finalizado, a vida de Nick nunca mais será a mesma. E o rumo desta comédia idem.

“O Peso do Talento” é uma sátira divertida, não só sobre a carreira de Cage, mas sobre a própria indústria cinematográfica. O roteiro, co-escrito por Kevin Etten e pelo diretor, Tom Gormican, embora não corra muitos riscos, é uma proposta extremamente agradável, mesmo quando uma ação absurda enche a tela. O enredo faz uma crítica sutil, mas brilhante, da forma como Hollywood é administrada nos dias de hoje. Além disso, sendo um longa-metragem focado em Cage, há muitas referências a seus trabalhos anteriores. A cinefilia atenta vai rir, e muito. No entanto, deve-se ressaltar que este é um elemento que poderia ter sido muito mais explorado, e de forma melhor.

Mas o aplauso mais efusivo deve ser dirigido à química transbordante entre seus dois protagonistas. Nicolas Cage e Pedro Pascal são a dupla que não sabíamos que precisávamos. Desde o primeiro momento em que compartilham a cena, a interação entre os dois é fascinante. E esta é uma grande demonstração de talento, de ambos os lados. O relacionamento é cativante, natural, e em poucos minutos criam um sólido vínculo.

Ao final resta uma duvida. Quem é de fato Nicolas Cage ? Um grande ator com muitos filmes ruins? Um ator de sorte em vários sucessos aclamados ? Um campeão de exageros que muito raramente recorre à sutileza, ou um talento notável frequentemente desperdiçado em personagens ruins? A resposta definitivamente não é facil. E talvez seja porque ele é tudo isso ao mesmo tempo.

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