"De nada adianta fugir. Ele irá entrar na sua mente." É o que alerta o cartaz do novo filme de Rodrigo Grota, "O Homem Crocodilo", sobre Arrigo Barnabé, cantor e compositor londrinense, dono do icônico álbum "Clara Crocodilo", de 1980.

Realizado pela Kinopus, o longa-metragem terá a sua pré-estreia neste sábado (4), às 19h30, no Espaço Villa Rica, em um evento especial de sessão única, com a presença do artista, do elenco e da equipe de produção.

Os ingressos custam R$ 30 (inteira) e R$15 (meia-entrada), à venda na bilheteria ou no site oficial do Villa Rica.

Filme propõe uma viagem ao inconsciente estético de Arrigo Barnabé, um dos principais nomes da vanguarda paulista
Filme propõe uma viagem ao inconsciente estético de Arrigo Barnabé, um dos principais nomes da vanguarda paulista | Foto: Divulgação/ Kinopus

VIAGEM AO INCONSCIENTE

Com uma abordagem experimental, "O Homem Crocodilo" propõe uma imersão ao inconsciente estético de Arrigo Barnabé, grande nome da vanguarda paulista. A sinopse apresenta uma pequena cidade ao Velho Norte, onde um homem desapareceu e nunca mais foi visto. Sua voz, no entanto, ainda ressoa, às margens do subterrâneo. "Nada na natureza é natural."

Fugindo de um conceito biográfico, o objetivo de Grota, como diretor e roteirista, foi mapear a trajetória de Arrigo e a sua autenticidade enquanto um artista multifacetado e apresentar ao público o rico imaginário presente em sua obra.

Para isso, entre os variados recursos, foram utilizados arquivos da Kinopus, recitações feitas por Arrigo, acervo pessoal do cantor e uma trilha sonora que privilegia os seus mais diversos álbuns, reunindo aproximadamente 30 canções que mesclam ritmos eruditos com o rock e a MPB de maneira inovadora.

O elenco principal traz, além do próprio músico, a bailarina Ariela Pauli e a atriz Maíra Kodama. Fabio Tanaka, Jim Kleist e Stella Rea compõem o set secundário. A fim de resgatar e fortalecer a relação de Arrigo com a sua cidade natal, muitas imagens foram feitas em Londrina, explorando tanto a área urbana quanto rural.

Maíra Kodama e Ariela Pauli no elenco principal
Maíra Kodama e Ariela Pauli no elenco principal | Foto: Divulgação/ Kinopus

A ideia para o filme-ensaio surgiu em 2005, um ano depois de Grota ter assistido a um show de Arrigo em São Paulo e se questionado de que forma poderia traduzir a sua linguagem musical para o cinema. "O que seria o serialismo, o atonalismo e o dodecafonismo na estrutura da linguagem cinematográfica?", pensou, se referindo às técnicas alternativas de composição utilizadas pelo músico. A partir de uma longa pesquisa sobre vida e obra, o diretor conta que montou um mosaico unindo Arrigo a diferentes fragmentos, como a religião, a filosofia, histórias em quadrinhos, cinema japonês e sua infância em Londrina, por exemplo, até que o enredo criasse corpo.

No entanto, as gravações tiveram início apenas em 2019 e enfrentaram os desafios tanto da pandemia quanto do baixo orçamento disponível. O projeto foi aprovado no Edital de Arranjos Regionais, promovido pelo Governo do Estado do Paraná em parceria com a Ancine (Agência Nacional do Cinema), FSA (Fundo Setorial do Audiovisual) e BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul).

Arrigo, que se mudou para a capital paulista em 1970, se aventura por todos os caminhos proporcionados pela arte, sendo também pianista, escritor e ator. O artista chegou a atuar em outra produção de Grota, o longa-metragem "Passagem Secreta", de 2021. O filme, em que interpreta o vilão Rui, também será exibido neste sábado (4), às 16h, antes da pré-estreia de "O Homem Crocodilo", seguindo a programação do Villa Rica.

De volta a Londrina, o músico terá a experiência de retornar ao local que frequentava no fim da década de 60, para ver a complexidade do seu trabalho de uma perspectiva singular na tela do cinema.

Rodrigo Grota diz que filme partiu da indagação: "o que seria o serialismo, o atonalismo e o dodecafonismo na estrutura da linguagem cinematográfica?"
Rodrigo Grota diz que filme partiu da indagação: "o que seria o serialismo, o atonalismo e o dodecafonismo na estrutura da linguagem cinematográfica?" | Foto: Denise Pimentel/ Divulgação

Leia mais: Filme londrinense sobre o escritor Lima Barreto estreia na Mostra SP

DE LONDRINA À MOSTRA SP

Recentemente, o cineasta Rodrigo Grota esteve na 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, com a estreia de "Noite e Dia - Lima Barreto, Obra & Vida”, o primeiro documentário sobre um dos principais escritores do pré-modernismo brasileiro.

A Mostra teve início no dia 19 de outubro e distribuiu aproximadamente 360 filmes a diversos cinemas e espaços culturais da capital paulista até a última quarta-feira (1). A produção londrinense foi exibida em duas sessões: no dia 24 e na terça-feira (31).

Em entrevista à FOLHA, Grota conta que esta foi a segunda vez que teve a oportunidade de exibir um longa-metragem no festival, um dos mais tradicionais da América Latina. "Eu sempre frequentava a Mostra como espectador, desde os anos 90, para ver filmes raros, que eram mais difíceis de encontrar, então é sempre uma emoção diferente estar lá. É aquele lugar que você frequenta todo ano. Nesta edição, foi especial porque teve a presença dos quatro atores principais e boa parte da equipe e dos entrevistados no filme. Então era legal que, além do público presente, deu para quem fez parte da construção de 'Noite e Dia' estar na estreia também", diz.

Para o diretor, a experiência de assistir ao próprio filme e exibi-lo pela primeira vez com os recursos audiovisuais mais modernos oferecidos pelo evento também foi um diferencial.

Ele avalia como positiva a recepção do público, que gostou principalmente das recriações de cenas ficcionais da literatura de Lima Barreto no documentário. "A gente queria fazer uma reconstrução dos textos literários não no sentido de ilustrar aquilo que escrevia, mas de tentar reproduzir um pouco da potência da estética do escritor na linguagem do cinema, e daí naquela ideia de tentar centralizar a tensão do texto do Lima e ter uma construção visual que remetesse a um espaço visual totalmente diferente do texto literário", explica.

Outro detalhe que chamou a atenção do público foram os escritos mais íntimos do autor carioca, que geralmente são descartados no recorte sobre vida e obra e que foram evidenciados na produção.

Em Londrina, "Noite e Dia" será exibido em 19 de novembro, no 25º Festival Kinoarte de Cinema, no Espaço Villa Rica.

*Supervisão: Célia Musilli/ Editora.

SERVIÇO

Pré-estreia de "O Homem Crocodilo" (84 min, 2023), de Rodrigo Grota, com Arrigo Barnabé, equipe e elenco

Quando: sábado (4), às 19h30

Onde: Espaço Villa Rica (R. Piauí, 211 - Centro)

Quanto: R$ 30 (inteira) e R$15 (meia-entrada), à venda na bilheteria ou no site oficial do Villa Rica