O 'Gladiador 2' está nos cinemas: incompleto e exagerado
O diretor Ridley Scott está de volta ao Coliseu e às telas do mundo, mas a sequência de um filme emblemático apresenta problemas
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 13 de novembro de 2024
O diretor Ridley Scott está de volta ao Coliseu e às telas do mundo, mas a sequência de um filme emblemático apresenta problemas
Carlos Eduardo Lourenço Jorge/ Especial para a FOLHA

Quinze anos após o vazamento do roteiro da sequência do primeiro “Gladiador” (2002), a continuação oficial finalmente chega aos cinemas nesta quinta-feira (14), incluindo todos os multiplex de Londrina, cortesia de Sir Ridley e do roteirista David Scarpa (que também escreveu “Napoleão”).
O dilema de escalar Paul Mescal como o anjo vingador de Roma, herdeiro de Maximus Decimus Meridius vivido há duas décadas por Russell Crowe é (quase) garantia de que legiões de fãs da geração Z e da geração Millenial irão lotar as salas, ao lado de pessoas para quem o Império Romano é o “seu” Império Romano. Uma continuação de “Gladiador” parecia uma proposta particularmente interessante, considerando que vários dos personagens principais tinham morrido no final do primeiro filme. Mas...
Isso deixa Lucilla (Connie Nielsen), que ficou com o General Marcus Acacius (Pedro Pascal) depois de mandar seu filho Lucius embora para sua própria segurança. Lucius, agora com 20 e poucos anos, vive uma vida simples na Numídia, África, com sua mulher, até que o exército romano se agita a mando dos imperadores gêmeos Caracalla e Geta e começa a brandir espadas. Depois de perder a companheira morta por uma das flechas do General Acácio, Lucius se encontra em um navio negreiro com destino a Roma, onde é prontamente comprado pelo alegre traficante de escravos Macrinus (Denzel Washington).
Talvez isso pareça um pouco familiar para quem viu o original de Scott. Um sujeito barbudo com sotaque vagamente britânico quer vingança depois que sua família foi assassinada nas mãos de Roma; ele acaba abrindo caminho para a vingança como gladiador. A sequela atinge muitos dos mesmos pontos da trama do original, com a infeliz ressalva de que – com exceção de Connie Nielsen – o resto do elenco é somente razoável. Aqui, o confiável (quando em papeis intimistas ) Paul Mescal é pálida imitação de Crowe, embora isto se deva ao roteiro pouco inspirado e não à sua atuação – Lucius tem bem pouco alcance emocional além da raiva, embora isso funcione com grande efeito na batalha inicial de gladiadores entre ele e um bando de sanguinários babuínos.

TENSÃO EVAPORA
No filme há muita preparação para grandes momentos que acabam em um piscar de olhos. Da mesma forma, a tensão entre os personagens parece evaporar com muita facilidade, o que significa que é difícil ver realmente qualquer peso em suas palavras ou ações. Há uma frágil presunção de que uma instituição fundamentalmente corrupta pode ser mudada de dentro para fora com alguns bons homens. O filme é salpicado de algumas sequências assustadoramente monótonas e horrivelmente escritas, sobre poder, democracia e o sonho de Roma.
O desempenho over de Denzel Washington é refletido por alguns dos toques mais estranhos do filme, como a visão de um homem lendo o que parece ser um jornal em letras latinas, ou um busto estranho de um jovem Marco Aurélio que revela a verdadeira identidade de Lucio. Este lado bobo do épico de espada e sandálias colide com a representação mais severa e sangrenta da história de Lucio, repleta de espetáculos elaboradamente encenados no Coliseu, como uma luta contra um gladiador a bordo de um rinoceronte ou a simulação de uma batalha naval em arena inundada. Em comparação com as realistas encenações de lutas do primeiro filme, essas de agora são via CGI, o que desgasta a brutalidade do impacto visual-visceral, apesar do sangue aos borbotões.
Apesar do nível considerável de pesquisa aplicado ao design de produção, enquanto isso a estória aborda a História com um desrespeito tão irreverente pela verdade que o filme se assemelha a uma versão mais séria das sátiras de época do Monty Python. Sem nenhuma dúvida, diante deste o veterano “Gladiador” só cresceu nesses vinte anos.

