Milton Dória/DivulgaçãoPeça foi montada para comemorar os 10 anos do Grupo ArmazémO grupo londrinense Armazém Companhia de Teatro estréia hoje, em Londrina, seu novo espetáculo, ‘‘Out Cry’’, às 21 horas, no Teatro Zaqueu de Melo. A peça, com texto de Tennessee Willians (‘‘Um Bonde Chamado Desejo’’ e ‘‘Gata em Teto de Zinco Quente’’), fica em temporada até o dia 2 de março, com apresentações de quarta a domingo, sempre no mesmo horário. A temporada londrinense conta com patrocínio da Viação Garcia, Rua Canziani Shopping Center, Macroimagem, Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos, Cantina da Mama, Sercomtel e Secretaria Municipal da Cultura.
Esta é a primeira vez que ‘‘Out Cry’’ é montada no Brasil. Baseada num dos últimos textos de Willians, com tradução do londrinense Maurício de Arruda Mendonça, traz apenas Patrícia Selonk e Narlo Rodrigues no palco. É primeira vez que o diretor Paulo de Moraes escala somente dois atores. ‘‘Este ano, o Armazém completa 10 anos. E quando li a peça, no ano passado, achei que tinha muito a ver com a história do Armazém. Por isto resolvi montá-la com os dois atores que estão no grupo desde que começamos com teatro. É uma prova de fogo para eles, também. Ainda não viveram esta experiência, de segurar sozinhos uma peça de uma hora e meia. Eu acredito que é uma coisa pela qual tinham que passar’’ - diz.
Metalinguagem A peça fala sobre a paixão e a loucura inerentes à criação artística. Patrícia e Rodrigues vivem Clara e Felice, um casal de irmãos atores que encenam uma peça sobre dois irmãos, que também são chamados de Clara e Felice. Os irmãos/personagens têm medo de sair de casa depois da morte violenta de seus pais e os irmãos/atores descobrem que têm sentimentos e emoções semelhantes aos personagens. ‘‘É um texto de metalinguagem, o teatro dentro do teatro. Uma idéia que tem muito a ver com nossa história, principalmente porque os irmãos/atores lembram coisas que aconteceram com eles na carreira teatral que também aconteceram com a gente, no Armazém’’ - explica o diretor.
Esta semelhança é realçada por citações do texto que foram adaptadas para o Armazém. ‘‘A gente procurou ser o mais fiel possível ao texto, que traz uma linguagem rebuscada, mas com ritmo e frases curtas. Por isto pedimos para o Maurício de Arruda Mendonça fazer a tradução para nós, pois queríamos manter uma precisão mas tinha algumas coisinhas que precisavam ser mudadas para manter este ritmo. O resultado ficou o que esperávamos’’ - conta Moraes. Segundo ele, isto pode até causar certa confusão na cabeça do espectador. ‘‘Tem hora que você não sabe se são os irmãos/atores ou os irmãos/personagens que estão no palco’’ - brinca.
Entrosamento Para Patrícia, a experiência não poderia ser melhor. Principalmente porque a peça dá oportunidade de relembrar muitos momentos da carreira. Porém, segundo ela, o resultado só será certo se os dois atores tiverem um grande entrosamento no palco. ‘‘É fundamental que este entrosamento entre nós seja o mais completo possível; e a gente trabalhou muito este aspecto’’ - conta.
Narlo Rodrigues, por sua vez, encarou os ‘‘Felice’’ que representa na peça como um desafio. ‘‘Trabalhar sozinho com a Patrícia no palco é uma grande responsabilidade porque ela é uma grande atriz’’ - afirma. No começo, porém, o ator não sabia que o desafio seria tão grande. ‘‘Quando a gente leu o texto achou que seria fácil, pois tem muito a ver com a gente, com a carreira do ator em si. Mas a gente levou uma rasteira. Porque é muito mais difícil dizer a verdade, passar para o público aquilo que está sentido do que descobrir emoções de um personagem fictício’’ - explica.
Além do mais, a linguagem desta montagem é, segundo Rodrigues, diferente do que o grupo vinha trabalhando. Inclusive em termos de cenários e figurinos. ‘‘Nós temos que prender a atenção do público apenas com a palavra’’ - afirma. Os figurinos são simples e a cenografia, assinada por Paulo de Moraes e Gelson Amaral, não tem o mesmo apelo dramático de outras montagens do grupo. ‘‘Aqui, o cenário atua de forma lúdica. Tudo lembra ou parece uma brincadeira’’ - diz Moraes.
Década ‘‘Out Cry’’ é uma das duas montagens que o Armazém vai estrear ainda neste semestre, em comemoração aos 10 anos de atividades do grupo. A segunda montagem, ainda sem nome, é baseada num texto inédito do diretor Paulo de Moraes e de Maurício de Arruda Mendonça, com estréia prevista para maio, com a participação de todo o grupo.
Segundo Moraes, montar dois espetáculos de uma só vez é uma forma de marcar o aniversário. ‘‘Eu estava com a idéia de não fazer um espetáculo só. Queria movimentar o grupo, envolver todos na produção. Porém fazer duas grandes montagens ao mesmo tempo seria difícil. Quando li o texto de ‘Out Cry’ achei que seria perfeito’’ - diz.
Moraes diz que, desta forma, vai ser possível levar as duas produções em turnê. ‘‘Primeiro vamos fazer o interior do Paraná e São Paulo. Quando estrear o outro espetáculo, vamos passar para outros centros. Isto, aliás, resolve um problema para nós porque as temporadas no Rio e São Paulo acontecem de quinta a domingo. De segunda a quarta, a gente fica meio ocioso. Podemos apresentar Out Cry como uma opção alternativa, nestes dias e em horários diferentes nos outros’’ - conta.
Serviço: ‘‘Out Cry’’, espetáculo do grupo Armazém Companhia de Teatro, estréia hoje, às 21 horas, no Teatro Zaqueu de Melo (Rua Rio de Janeiro, 113, Londrina). Texto de Tennessee Willians. Com Patrícia Selonk e Narlo Rodrigues. Direção e iluminação de Paulo de Moraes. Tradução de Maurício de Arruda Mendonça. Cenário de Paulo de Moraes e Gelson Amaral. Música original de Daniel Loureiro. Temporada até dia 2 de março, de quarta a domingo, às 21 horas. Ingressos de quarta a sexta-feira, R$ 10; sábados e domingos, R$ 12.