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Folha 2 5m de leitura

'O dia em que a Terra parou' volta a fazer sucesso por causa do Covid-19

Com letra premonitória, música de Raul Seixas tem busca triplicada nas plataformas digitais depois que a pandemia parou mesmo o planeta

ATUALIZAÇÃO
28 de março de 2020

Marcos Roman - Grupo Folha
AUTOR

Tentando pegar carona na onda da pandemia de Covid-19, quase 500 artistas ao redor do mundo registram músicas nas plataformas digitais com a palavra coronavírus no título. Apesar do movimento oportunista, até agora ainda não surgiu um hit que traduza o episódio dramático que o planeta atravessa. Na ausência de uma trilha sonora contemporânea, os brasileiros rebobinaram um antigo clássico de Raul Seixas. 

"O dia em que a Terra Parou" foi composta por Raul Seixas e Cláudio Roberto, letra foi inspirada em filme de ficção científica de 1951
 

Mais de quarenta anos após o seu lançamento, a música “O dia em que a Terra parou” voltou a fazer sucesso no país. A procura pelo hit nas plataformas digitais triplicou nas últimas semanas. E um vídeo com o título da canção postado no YouTube reunindo imagens de cidades famosas com ruas vazias por conta do isolamento social adotado para frear a propagação do Covid-19 já contabiliza quase meio milhão de visualizações.  

A letra que fala do dia em que pessoas do planeta inteiro resolveram que ninguém sairia de casa foi composta por Raulzito em parceria com o compositor Cláudio Roberto. O título da canção premonitória batizou o álbum que o artista baiano lançou em 1977. Na época, os autores revelaram que a composição havia sido inspirada no filme homônimo de ficção científica lançado em 1951. 

“O dia em que a terra parou” (Raul Seixas e Cláudio Roberto) 

Essa noite eu tive um sonho de sonhador  

Maluco que sou, eu sonhei  

Com o dia em que a Terra parou  

 com o dia em que a Terra parou  

 Foi assim.  No dia em que todas as pessoas do planeta inteiro  

 Resolveram que ninguém ia sair de casa  

 Como que se fosse combinado em todo o planeta  

 Naquele dia, ninguém saiu de casa 

 O empregado não saiu pro seu trabalho  

 Pois sabia que o patrão também não tava lá  

 Dona de casa não saiu pra comprar pão  

 Pois sabia que o padeiro também não tava lá  

 E o guarda não saiu para prender  

 Pois sabia que o ladrão, também não tava lá  

 e o ladrão não saiu para roubar  

 Pois sabia que não ia ter onde gastar  

 No dia em que a Terra parou (refrão)  

 E nas Igrejas nem um sino a badalar  

 Pois sabiam que os fiéis também não tavam lá  

 E os fiéis não saíram pra rezar  

 Pois sabiam que o padre também não tava lá  

 E o aluno não saiu para estudar  

 Pois sabia o professor também não tava lá  

 E o professor não saiu pra lecionar  

 Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar  

 No dia em que a Terra parou (refrão)  

 O comandante não saiu para o quartel  

 Pois sabia que o soldado também não tava lá  

 E o soldado não saiu pra ir pra guerra  

 Pois sabia que o inimigo também não tava lá  

 E o paciente não saiu pra se tratar  

 Pois sabia que o doutor também não tava lá  

 E o doutor não saiu pra medicar  

 Pois sabia que não tinha mais doença pra curar  

 No dia em que a Terra parou (refrão) 

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Inspirações apocalípticas 

Não é de hoje que os compositores brasileiros buscam inspirações apocalípticas na hora de criar suas canções. Em 1938, Assis Valente (1911-1958) apostou no bom humor e acabou dando vida a um dos chorinhos mais famosos da MPB. De forma divertida, a música “E o mundo não se acabou” conta a história de alguém que fez loucuras ao acreditar na chegada do apocalipse. Ao longo das décadas, a música ganhou inusitadas versões gravadas por nomes como Carmen Miranda, Ney Matogrosso, Adriana Calcanhotto e Paula Toller. 

“Pensei que o mundo ia se acabar 

 E fui tratando de me despedir 

E sem demora fui tratando de aproveitar 

Beijei na boca de quem não devia 

Peguei na mão de quem não conhecia 

Dancei um samba em traje de maiô 

 E o tal do mundo não se acabou”.  

(Trecho de “E o mundo não se acabou” - Assis Valente) 

 

Acometido na infância pela temida gripe espanhola que matou cerca de 50 milhões de pessoas no mundo todo, Nelson Cavaquinho (1911-1986) compôs na fase adulta um samba arrepiante que tem uma das melodias mais sombrias que já se viu no universo dos bambas, apesar da letra esperançosa. Composta em 1937 em parceria com Élcio Soares, a música “Juízo Final” se tornou em clássico que já foi regravado por nomes como Alcione, Zizi Possi e Clara Nunes.  

“É o juizo final  

A história do bem e do mal 

Quero ter olhos pra ver 

A maldade desaparecer” 

(Trecho de “Juízo final” - Nelson Cavaquinho e Élcio Soares) 

Já na década de 1990, Paulinho Moska e Billy Brandão compuseram “O último dia”, música que fez parte da trilha sonora da novela O Fim do Mundo, exibida pela Rede Globo em 1996. A canção levanta a dúvida sobre o que fazer nos momentos finais da vida. 

 “Meu amor 

O que você faria  

se só te restasse um dia? 

 Se o mundo fosse acabar 

me diz o que você faria?” 

(Trecho de “O último dia” - Paulinho Moska e Billy Brandão. 

Gosto duvidoso  

Se no passado a possibilidade da chegada do fim do mundo rendeu clássicos à música popular brasileira, o mesmo não pode se dizer dos tempos atuais. Em ritmo de axé e inspirado no coronavírus, o cantor Bruno Magnata, vocalista da banda La Fúria, postou um vídeo com a música “Senta no álcool gel”: “Passa o álcool gel/ banho de álcool gel/ dorme com álcool gel/senta com álcool gel”. O grupo é o mesmo que há dois anos fez uma música que debochava do ator Fábio Assunção.  

No Rio de Janeiro, MC Tchelinho lançou o "Funk do Coronavírus". Segundo ele, a música traz mensagens direcionadas às comunidades carentes do país: “Cuidado com a tosse, cuidado com os espirros/vamos se prevenir do coronavírus/ Corona tá na pista / eu vou ficar em casa / se liga aí os irmãos / e as minas da quebrada. " 

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