A banda americana The Lumineers que toca no Lollapalooza, entre os dias 3 e 5 de abril, é bem diferente do trio que passou pelo Brasil em 2014. Agora é uma dupla, e deixou para trás algumas limitações estilísticas que o rótulo "novo folk" impunha ao grupo.

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. | Foto: Divulgação

O cardápio de mudanças está em "III". O terceiro álbum do Lumineers é conceitual, fala de uma família, os Sparks, numa descida ao inferno pela dependência química que atravessa gerações. Longe de um apelo pop fácil, mas isso parece nunca ter sido preocupação para o guitarrista e cantor Wesley Schultz e o baterista Jeremiah Fraites, que formaram o Lumineers em 2005.

"É realmente diferente de tudo o que fizemos antes", diz Fraites. "Sei que não poderíamos lançar algo assim há 15 anos, mas, fazendo comparações, é a melhor coisa que já escrevemos." Trabalhar num álbum digamos, conceitual, seria uma transição na carreira do Lumineers? "Com certeza. Só não sei para onde estamos indo", diz o baterista, rindo. "Mas não somos mais a mesma banda."

O Lumineers realmente mudou. A saída da cantora e violoncelista Neyla Pekarek, que gravou os dois primeiros álbuns, "The Lumineers" (2012) e "Cleopatra" (2016), alterou bastante a dinâmica do grupo no palco, que agora excursiona com outros músicos contratados. Mas o método de composição segue igual. Schultz escreve as letras e cria com Fraites a moldura sonora.

Os discos anteriores, que empurraram o então trio para uma cena forte de grupos jovens de folk, como Mumford and Sons, produziram pérolas pop como "Ho Hey" e "Ophelia", hits mundiais.

"Quando começamos a trabalhar nesse álbum, tínhamos algumas canções. A ideia de contar uma história não veio antes, ela surgiu quando mexíamos nessas músicas. Tudo começou com 'Gloria', retrato de uma mulher atravessando problemas com sua família. Então o que de ruim acontece com essa família foi ganhando corpo, detalhes, falando do alcoolismo, das brigas."

Compor canções sobre dependências de droga e álcool é de certa maneira uma expiação para a dupla. Antes da formação da banda, Schultz era amigo de Josh, irmão do futuro baterista Fraites. A vida dos dois parceiros musicais foi marcada pela trajetória de Josh, que teve problemas com a polícia e morreu devido ao consumo de drogas.

"Não paramos para pensar sobre a viabilidade de um álbum sobre os efeitos da dependência em várias gerações de uma família. As músicas foram surgindo." Quando o repórter opina que o disco remete à literatura amarga de John Steinbeck, Fraites ri e agradece: "It's cool!"

O título do álbum, "III", tem uma referência óbvia ao fato deste ser o terceiro disco do Lumineers, mas também tem relação com a história da família Sparks. São três blocos de canções, cada um focando numa geração: mãe, filho e neto.

Fraites e Schultz chegaram a pensar no lançamento das três partes em EPs separados, mas depois decidiram por expor logo a história toda. As músicas de "III" formam uma pequena novela, com ritmo literário e um clímax, e assim a transposição para os videoclipes foi a mais natural possível.

A banda decidiu gravar clipes para todas as faixas. São dirigidos por Kevin Phillips, elogiado por seu longa de estreia, "Super Dark Times" (2017), uma história de amizade adolescente que termina em extrema violência. A união dos clipes do álbum já está definitivamente transformada em média-metragem, e "III", o filme, ganhou exibições em festivais recentes.

Sobre o show no Lollapalooza, Fraites admite ser complicado fazer um set menor do que o show habitual da banda. "Mas festival grande é sempre bom. Porque tocamos para uma plateia com muita gente que às vezes nem nos conhece. Se eles pularem e gritarem, é bom sinal. Se ficarem quietos, também vale, pode ser que estejam prestando atenção na gente."

THE LUMINEERS

Quando: De sexta (3/4) a domingo (5/4)

Onde: Lollapalooza Brasil - autódromo de Interlagos.

Preço: de R$ 440 a R$ 900 por dia