Novato na tribo
ReproduçãoMatheus Nachtergaele como Padre Miguel: os índios que contracenam com ele, cochicham em seu ouvido a maneira correta de pronunciar palavras em tupi-guaraniO primeiro contato de Matheus Nachtergaele com os índios não foi fácil. ‘‘No princípio, eles me olhavam desconfiados. Demorei a ganhar a confiança deles’’, afirma. Como Padre Miguel, era imprescindível para Matheus conquistar rapidamente a confiança dos indígenas, pois teria de contracenar diariamente com eles e interceder em cenas fortes como as de matança e domínio. A conquista aconteceu por meio da música. Matheus ficou responsável, juntamente com uma maestrina, de ensaiar com um coral de índios guaranis. ‘‘No início, eles estavam muito tímidos. Mas, é claro. Eles estavam chegando no estúdio que é uma loucura e tendo de aprender essas músicas’’, avalia. Logo, porém, a intimidade foi crescendo e, hoje, o ator até monta as cenas com a ajuda dos índios. ‘‘Às vezes, tento descolar umas ceninhas para eles’’, admite.
Índios e atores se divertem, principalmente quando um entra no território do outro. Para Matheus, por exemplo, a maior dificuldade está em falar o tupi-guarani. ‘‘Aprendi a falar o que eu tenho de falar. A pronúncia é muito difícil e a alma da língua é muito diferente’’, analisa. O jeito foi aprender como papagaio, repetindo o que os índios falavam. Em algumas cenas, os índios chegam mesmo a cochichar no ouvido de Matheus a forma correta de se pronunciar as palavras. ‘‘Sigo a minha intuição. De vez em quando, eu devo falar meio mal porque, quando eles estão em cena, eles fazem uma cara do tipo: ‘‘O que você falou?’’, diverte-se. Os diálogos em tupi-guarani, no entanto, não vão ser muito explorados na macrossérie, a não ser com o personagem de Stênio Garcia, que vai fazer o pajé e falar o tempo todo na língua indígena.
A convivência com a língua, na verdade, aguçou a curiosidade do ator para o aspecto histórico. ‘‘Resta tão pouco do tupi-guarani. Principalmente por causa da imposição da Coroa Portuguesa de se falar o português’’, verifica Matheus. Tal dado histórico tornou o ator mais consciente do massacre da população indígena e da responsabilidade de retratar uma época. ‘‘Isso aqui foi uma Terra de Marlboro. Há de se tomar muito cuidado sobre o que vamos falar ou como vamos mostrar porque a gente deve a eles’’, acredita. Matheus tem cuidado especial nas cenas mais fortes como as de matança. Faz questão de esclarecer que é ficção e se sente um pouco culpado por estar na pele de um conquistador. ‘‘Afinal, nós tomamos a terra deles. Estamos aqui em solo deles’’, constata.
(F.D.)