Imagem ilustrativa da imagem Nova temporada do espetáculo "Céus" chega a Londrina
| Foto: Léo Aversa



Depois de passar pelas cidades de Belo Horizonte e Curitiba, o espetáculo "Céus" chega a Londrina para uma nova temporada de exibições nesta sexta-feira (6) e sábado (7), às 21h, no Teatro Mãe de Deus. Dirigido por Aderbal Freire-Filho, idealizado por Felipe de Carolis e com texto de Wajdi Mouawad – autor do fenômeno "Incêndios" –, o espetáculo questiona o poder da arte diante do horror. As apresentações em Londrina contarão com tradução em libras e uma oficina de teatro gratuita no sábado. O espetáculo tem patrocínio do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura.

Isolados em um bunker, uma espécie de buraco blindado, os personagens precisam desvendar um iminente atentado terrorista. Especialistas no assunto, eles também são confrontados com o misterioso desaparecimento de um membro da equipe. Atravessado por temas de extrema atualidade, o texto de Mouawad caminha, portanto, para uma profunda discussão sobre o Terror e o mundo contemporâneo.

"A questão atual do terrorismo não é mais vista como um conflito entre Oriente e Ocidente. Na verdade, a peça caminha para uma discussão mais profunda, que vai muito além das divisões territoriais, muito além de questões religiosas", analisa Aderbal, que aponta as muitas diferenças entre Céus (2009) e Incêndios (2003), que fazem parte de uma mesma tetralogia denominada ‘Sangue das Promessas’, que se completa com as peças Florestas e Litoral.

Para o diretor, "Céus" traz uma discussão sobre as revoltas e a insatisfação da juventude em um mundo que a castigou sempre. Após receberem uma civilização construída por interesses que não são seus, a juventude ainda vê guerras os destruírem, tanto no exército que os recruta como, indiretamente, nas rupturas de gerações. "É uma peça nova, no sentido de ter uma dramaturgia contemporânea, aberta, que dialoga com a poética ilimitada da cena. Estamos diante de um texto que reconhece o poder da cena ilimitada", reflete.

Responsável pela obra do Wajdi no Brasil, Felipe de Carolis conta que "chegar até a agência detentora dos direitos do Wajdi foi um processo árduo". "Todo dinheiro do meu trabalho ia para pagar os direitos de Incêndios; era o risco da minha vida. O valor foi altíssimo. Wajdi é o jovem autor mais premiado no mundo. Hoje, recebe homenagens como ator, diretor, dramaturgo e autor em todos os continentes, mas o Brasil ainda não o conhecia. Eu sempre quis fazer tragédia. A linguagem épica, a interpretação que o trágico pede é de uma carpintaria da dor inatingível. Sempre quis passar por aí, investigar este lugar, beber nesta fonte. A possibilidade de trazer para o público brasileiro um grande autor trágico contemporâneo tão imbricado às suas raízes, e ao mesmo tempo tão universal, me fez querer colocar ele em cena", completa.

Trajetória
A estreia de Céus marca o segundo encontro do diretor Aderbal Freire-Filho e do ator e produtor Felipe de Carolis com o teatro de Wajdi Mouawad. O primeiro encontro foi em Incêndios, a peça fenômeno com o maior número de prêmios da história do teatro Brasileiro (foram mais de vinte prêmios, e mais de 50 indicações só entre RJ e SP), que rodou o país por três anos. Foi ainda durante os ensaios de Incêndios que Carolis decidiu que montaria Céus.

"Houve um episódio específico que foi decisivo para eu bater o martelo e comprar os direitos da peça: estávamos ensaiando dentro do teatro Poeira, em 2013, quando o país ia às ruas para as manifestações que ficaram famosas pelo nome ‘não é por vinte centavos’. No intervalo do ensaio, vimos uma manchete que informava sobre a ameaça da intervenção militar naquelas manifestações. Nos olhos dos meus colegas de elenco eu vi o semblante de tristeza, dor e medo, uma mistura de indignação e angustia. Eu tive uma vontade enorme de ir para a rua, mas naturalmente não poderia abandonar o ensaio. Eu olhei pro Aderbal e disse "esta situação me lembra muito Céus, a última peça da tetralogia".

No dia da estreia de Incêndios fui no ouvido do Aderbal e falei pra ele ‘Céus é nossa!’", conta acrescentando que "infelizmente o terrorismo cresce assustadoramente e a peça se torna mais e mais atual. Mas é muito importante prestar atenção neste autor fabuloso, na maneira como ele apresenta o tema principal da peça, expondo feridas como a descriminação religiosa, o preconceito com a possível inteligência jovem, a sensibilidade do homem moderno e a força da cultura nas gerações futuras".

As peças
Além do conteúdo, as duas peças apresentam diferenças acentuadas também na forma. Enquanto "Incêndios" trazia a saga de uma personagem marcada por trágicos acontecimentos ao longo de décadas, "Céus" concentra a sua ação em um curto espaço de tempo e em um espaço definido.

"Talvez fique mais evidente uma dramaturgia nova quando ela explora as possibilidades infinitas do palco ao ousar na quebra de limites entre tempo e espaço, o que não acontece em Céus. As mudanças de tempo e espaço aqui são relativamente pequenas. Mas o teatro novo, a poética da cena ilimitada, o palco da imaginação não existe apenas por essas razões mais evidentes: ele está no modo de construir os personagens, de apresentar a trama, de desenvolver a narrativa, de combinar os diferentes recursos dramáticos e construir, enfim, uma nova poética", resume Aderbal.

Céus
Quando: Sexta-feira (6) e sábado (7), às 21h
Onde: Teatro Mãe de Deus (avenida Rio de Janeiro, 670)
Quanto: R$ 31 (inteira) e R$ 18,50 (meia entrada). (As vendas na bilheteria apenas no dia do espetáculo, com atendimento a partir das 19h. Ingressos antecipados na Óticas Diniz, Sueko Catuaí Shopping, Pátio San Miguel e www.diskingressos.com.br)

Oficina de Teatro
Quando: Sábado (7), das 9 às 18h
Onde: Teatro Mãe de Deus (avenida Rio de Janeiro, 670)
Quanto: Gratuito (25 alunos)