DULUTH, EUA (FOLHAPRESS) - O farmacêutico aposentado Bill Pagel varria a frente de sua casa em Duluth, interior de Minnesota, a vista para o lago encoberta por uma leve neblina, na manhã desta segunda-feira (24).

Ele aguardava algumas dezenas de fãs de Bob Dylan para comemorar os 80 anos do músico e compositor, que nasceu na cidade e morou naquela residência até os seis anos.

Pagel, um dos maiores colecionadores de Bob Dylan do mundo, comprou a casa de dois andares em 2001 por US$ 82 mil. É também dono do imóvel em Hibbing onde o músico morou entre 1948 e 1959.

"Já gastei muito mais com reformas, refiz praticamente todo o telhado", diz Pagel à reportagem. "Achei a casa no eBay e ainda perdi a primeira oferta, mas quem ganhou não conseguiu levantar o dinheiro a tempo e eu fiz uma proposta à dona."

Pagel levou a reportagem para um tour pela casa, parando na porta da entrada do porão para mostrar uma mezuzá pintada por cima que provavelmente foi usada pela família de Dylan.

No segundo andar, há móveis de epoca, mas que não são originais, com exceção de um cadeirão de bebê usado pelo pequeno Robert Zimmerman --nome original do músico-- que ele comprou nos anos 1990 de uma amiga da mãe de Dylan.

"Se eu pudesse perguntar uma única coisa a Bob Dylan, apenas uma, seria qual foi o seu quarto nesta casa", disse Pagel, que tem mais de 15 mil fotografias, 4.000 pôsteres de shows e 18 gaveteiros entupidos de manuscritos diversos, além de já ter ido a cerca de 500 shows de Dylan pelo mundo.

A casa fica a apenas cinco minutos a pé do hospital onde Dylan nasceu. Duluth é uma cidade portuária de 85 mil habitantes, à beira do Lago Superior, o maior dos cinco Grandes Lagos, na fronteira dos Estados Unidos com o Canadá.

Dylan fala de Duluth em sua autobiografia "Crônicas - Volume 1", de 2004. Suas memórias mais fortes da cidade são os céus cinzentos sombrios, as tempestades violentas e as sirenes de nevoeiro dos navios que aportavam no Lago Superior. Ele lembra dos "ventos uivantes impiedosos que vinham do grande lago negro misterioso, com ondas traiçoeiras de três metros", segundo escreveu no livro.

Nesta segunda, o tempo amanheceu bem de acordo, com muita neblina cobrindo o lago, ventos gelados e temperatura de 5ºC.

Dylan deixou Duluth aos seis anos para morar em Hibbing, a 121 quilômetros ao norte, com os pais e o irmão mais novo, David. Depois de se formar no ensino médio, se matriculou na universidade em Minneapolis, capital do estado de Minnesota, mas logo desistiu com objetivos mais nobres em mente. Ele ainda tem parentes na região, embora seja bastante reservado sobre sua vida.

A cidade tem poucas lembranças relacionadas ao oráculo octogenário. Há uma rua batizada Bob Dylan Way, com duas tampas de bueiro feitas por duas artistas locais, inspiradas em suas letras de música, como "Subterranean Homesick Blues".

Ao fim da rua fica uma casa de shows histórica, a Armory, onde Dylan viu Buddy Holly tocar com Big Bopper e Ritchie Valens em 1959. O trio morreria num acidente de avião duas noites depois.

O evento na residência de Dylan em Duluth foi um entre os vários do festival de nove dias Duluth Dylan Fest, uma celebração anual cancelada em 2020 por causa da Covid-19 e que seguiu parcialmente virtual neste ano.

A pandemia também atrapalhou os planos do próprio Dylan, que ficou longe das turnês pela primeira vez em mais de três décadas.

O aniversariante, que mora no sul da Califórnia desde os anos 1970, não fez comentários sobre a enxurrada de tributos dos últimos dias, como já era de se esperar devido à sua personalidade bastante reservada. Ninguém sabe onde ele está no momento.