“Nomadland”  aborda a realidade social dos trabalhadores na recessão que flagelou os EUA entre  2007 e 2009
“Nomadland” aborda a realidade social dos trabalhadores na recessão que flagelou os EUA entre 2007 e 2009 | Foto: Divulgação

Na última segunda-feira (15), a Academia revelou as cartas para a rodada final da premiação com as estatuetas do Oscar-2021 – noite de 25 de abril, cerimonia ao vivo/híbrida/online no palco e em pontos remotos onde estarão premiados em residências, hotéis e pontos diversos pelos Estados Unidos, provavelmente todos já devidamente vacinados como convém a povos civilizados que, entretanto, ainda estarão mantendo distanciamento e outros procedimentos protocolares.

Entre os filmes com certeza alvo da predileção do colegiado votante está “Nomadland”, obra de valor extraordinário, um filme que, entre seu universo de virtudes, representa um espelho para a sociedade, refletindo de volta para o público a luz de suas próprias vidas. O problema de momento para o espectador brasileiro é apenas um, embora de solução não exatamente fácil: como acessar uma cópia (streaming), já que sua estreia, anteriormente prevista para as salas, não vai ser mesmo possível pelas próximas semanas. Então, se o seu pirata estiver em lockdown,que tal tentar, via laptop ou PC, confira o site ao fim do texto. Versão original, legendado e de graça.

A cultura americana tem um coração, e ele se localiza on the road. Mais do que território de trânsito, mais que a linha entre dois pontos fixos, ali está “a” estrada. A ideia de uma vida nômade está de fato na origem da nação, na jornada dos pioneiros e colonos que percorreram terras americanas em busca de sonhos de prosperidade. Em seguida, vieram outros sonhadores, os dois Jacks, London e seus ideais libertários, errantes em busca de liberdade pessoal: e Kerouac e seus beatniks, que acharam seu próprio caminho para a criação artística e a sublimação literal e figurativamente on the road. E já neste século surgiu uma forma de nomadismo menos buscada, embora não menos carregada de significado político.

No livro “Nomadland: Sobrevivendo na América do Século XXI”, a jornalista Jessica Bruder analisou o fenômeno de uma nova comunidade itinerante, composta principalmente à base de trabalhadores mais velhos que perderam suas propriedades e seus meios de sustento na grande recessão que flagelou os EUA entre 2007 e 2009. Aqui, portanto, está a porta de entrada deste prodigioso “Nomadland”, onde a cineasta chinesa Chloé Zhao aborda esta nova realidade social, fundindo um pano de fundo de muita veracidade com uma obra ficcional comandada pela sempre esplêndida Ferances McDormand.

Não é a primeira vez que Zhao propõe um caminho mesclado entre o documentário e a ficção. Infelizmente inéditos no Brasil, seus dois filmes anteriores, “Canções que Meus Irmãos me Ensinaram” e “The Rider/O Cavaleiro”, já propunham a ideia de reunir atores profissionais e não-profissionais, que mostram na tela sua real maneira de viver.

Neste sentido, “Nomadland” compila um amplo leque de depoimentos de pessoas que, após caírem na marginalização, encontraram na estrada uma maneira de evitar constrangimentos impostos pela “tirania no dólar”: dívidas, o labirinto do consumo, a dificuldade de encontrar empregos duradouros. Na maioria vozes anônimas, mas também a presença de Bob Wells, uma espécie de guru da vida nômade , autor do manual “Como Viver em um Rarro, Van ou Trailer e Sair da Divida – Viaje e Encontre a Verdadeira Liberdade”.

Assista aqui a "Nomadland".