No FILO, 'Cartas Libanesas' traduz a essência da imigração
Cartas trocadas por pessoas em dois continentes são tema do espetáculo a ser apresentado nesta quinta (13), no Teatro Ouro Verde
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025
Cartas trocadas por pessoas em dois continentes são tema do espetáculo a ser apresentado nesta quinta (13), no Teatro Ouro Verde
Walkiria Vieira

A comunicação por cartas guarda características singulares e de um tempo em que a troca de mensagens não era instantânea. O período da Primeira e Segunda Guerra Mundial, possui relação com esse contexto - quando os primeiros imigrantes libaneses vieram para o Brasil.
O monólogo “Cartas Libanesas”, integra a programação do FILO - Festival Internacional de Londrina - e será apresentado nesta quinta (13), às 20h30, no Cine Teatro Universitário Ouro Verde. Com texto de José Eduardo Vendramini, direção de Marcelo Lazzaratto e atuação de Eduardo Mossri, de São Paulo, destaca em cena histórias reais de imigrantes libaneses no Brasil, inclusive do próprio autor e ator.

A montagem aborda a imigração libanesa no Brasil por meio de depoimentos reais - a história de um mascate, contada por um ator que resgata suas próprias histórias para refletir sobre a imigração. É uma ode de amor e gratidão a todos aqueles que imigraram e enriqueceram nossa identidade cultural.
Miguel é um jovem libanês que vem para o Brasil com o intuito de prosperar financeiramente e logo voltar ao Líbano, onde deixou sua esposa grávida. Após anos de sofrimento e trabalho, se descobre apaixonado pela nova terra e decide convencer a mulher a vir morar com ele no novo país.
TEMA UNIVERSAL
Em entrevista à FOLHA, Mossri considera que as cartas entre os seus avós trouxeram elementos essenciais para a construção da dramaturgia. "As cartas foram um despertar para começar esse projeto". Sua avó faleceu com 99 anos deixando as cartas e, neste processo, o ator encontrou-se com o autor José Eduardo Saad Vendramini, seu professor na USP.
Em sua leitura, o neto compreendeu que as cartas relatavam o estranhamento sobre a nova terra, saudade, paixão e choques culturais como as comidas e hábitos. "O fio condutor são as diferenças, proximidades, a união das duas culturas, o estabelecimento desse afeto, a ausência, a emoção, o amor, a saudade, o preconceito, isso tudo junto", diz.
O ator parte do princípio que os motivos para os deslocamentos migratórios se alteram de acordo com o tempo. "E são motivados pelo princípio humano de ir atrás de melhores condições de vida e sobre direitos violados". E a cada vez que faz o espetáculo sente tratar-se de um tema universal e presente em todos os tempos. "Como a situação na faixa de Gaza, a questão da Ucrânia com a Rússia e os conflitos que são gerados e merecem aprofundamento", reflete.
É notório para o ator o fato de os libaneses terem uma característica no processo imigratório bem diferente dos outros povos. "Eles se integraram à sociedade brasileira de modo harmonioso, seja nos casamentos, na educação, na economia, na medicina, na política. Podemos citar Haddad, Temer, Cassab Vergalli, e na literatura Milton Hatoum", cita.
BRASIL, UM REFÚGIO
As cartas dos avós libaneses ganharam status de documento para essa produção e, com todo o respeito àquela época, Mossri lembra que as cartas demoravam muito pra chegar. "Muitas vezes as cartas chegavam e as informações já estavam todas atrasadas, já havia acontecido tantas outras coisas", sorri.
Nesse aspecto, há uma beleza ímpar a ser exaltada. "É a questão do tempo, pois o tempo se estabelece de uma outra maneira, há desconexão da distância e a conexão do casal por meio das cartas e os relatos são de quando as cartas chegavam ao Líbano, juntava a aldeia inteira ao redor de uma mesa pra poder ouvir as notícias", divide.
Assim, não se pode desprezar a poesia presente em cena. Para o tempo atual, no qual a velocidade das informações é muito rápida, não podemos mensurar isso. Então, as cartas têm uma relação com o tempo do afeto materializado e com o tempo", depõe.
Entre as raízes do país de origem e as riquezas encontradas no Brasil, o ator reconhece a fusão entre as duas culturas. "Os libaneses trouxeram qualidades como a determinação, o empreendendorismo e ajudaram o brasileiro a fortalecer qualidades como a força de vontade e suas aptidões para os negócios", pontua.
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Uma mistura rica com riquezas das duas partes. "Meu avô veio primeiro, minha avó veio na sequência. Meus pais não aprenderam árabe para que nós, seus filhos falássemos a língua local e fossemos abraçados na cultura local", comenta.
Com mais de 200 apresentações no Brasil e no exterior, “Cartas Libaneses” foi o espetáculo convidado para a abertura do Festival de Teatro Internacional de Tanger, em Marrocos. Eduardo Mossri tem 20 anos de carreira no teatro. Seus últimos trabalhos são “Órfãos da Terra” (Rede Globo, premiada com o “Emmy Awards”), a a série “Escola de Gênios” (Gloob) e os filmes “Amor sem Medidas”, direção de Alexandre Machado, e “Todas as Razões Para Esquecer”, de Pedro Coutinho, ambos para a Netflix.
SERVIÇO
Cartas Libanesas, com Eduardo Mossri - @cartaslibanesas
Quando: quinta-feira (13), às 20h30
Classificação indicativa: 12 anos
Duração: 80 min
Onde: Cine Teatro Universitário Ouro Verde - R. Maranhão, 85 - Centro, Londrina
Ingressos: Sympla
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FICHA TÉCNICA
Texto: José Eduardo Vendramini
Direção e Iluminação: Marcelo Lazzaratto
Ator: Eduardo Mossri
Cenário: Renato Bolleli
Trilha Sonora: Gregory Slivar
Figurinos: Fause Haten
Assistente de direção: Wallyson Motta
Preparação vocal: Rodrigo Mercadante
Visagismo: Nael Kassees
Fotógrafo: Felipe Stucchi
Produção: Eduardo Mossri

