Entrando nesta quinta-feira (13) em segunda semana em Londrina, “Air” pode ser visto como um agradável conto de fadas capitalista que se tornou realidade. Sabem como é, aquela mistura de sagacidade, ímpeto, sorte e talento que a princípio pode não funcionar e dar errado, mas que a roda da fortuna, em dado momento, se encarrega de transformar em empreendedorismo bem sucedido. Funcionando admiravelmente como uma biopic, “Air – a História por Trás do Logo” revela como se deu a inacreditável e revolucionária parceria, no inicio dos anos 1980, entre um jovem jogador de basquete, Michael Jordan – fenômeno do basquete que se tornaria o maior de todos os tempos – e uma empresa ainda iniciante, a Nike (apesar da visão intransigente de certa mãe que sabia o valor de seu filho), dirigida por seu fundador, Phil Knight (Affleck). Uma aposta que definiu a carreira de algumas pessoas e que, quatro décadas depois, renderia este preciso longa metragem, este drama esportivo-biográfico que deve ser saboreado por todas as plateias, independente de sua torcida por este ou aquele time da NBA.

Baseado em fatos bem reais, “Air”, o filme, traz uma história inicialmente pouco atraente para o grande público – as idas e vindas de um grupo de homens tentando chegar a um acordo comercial, com a grande maioria das cenas dentro de escritórios e arredores –, usando as armas do classicismo narrativo, do qual Affleck parece ser um dos últimos expoentes em atividade, como confirmam alguns de seus filmes anteriores, entre eles “Argo” e “Lei da Noite”. Ou seja, um ritmo que não enfraquece, doses de humor como contraponto a momentos mais dramáticos, atraentes personagens secundários. Jason Bateman completa o trio central de atores, enquanto Viola Davis interpreta a mãe de Jordan e feroz guardiã de seus interesses; já o próprio jogador sempre aparece fora da tela ou de costas, outra decisão inteligente do roteiro.

No fundo, a história de “Air” é uma espécie de épico de negócios em que todos os envolvidos acabam ganhando – metafórica e literalmente – muito dinheiro. Nesse sentido, pode-se pensar que o projeto nada mais é do que uma glorificação da empresa Nike e seu empreendedorismo em tempos de crise. Há algo disso, mas há também uma fábula realista em que o 'status quo' sofre uma mudança de radical importância, e cujo principal resultado é a distribuição ligeiramente mais equitativa dos lucros, que até então iriam exclusivamente para alguns poucos bolsos. Esse aparente paradoxo faz parte da corrente sanguínea narrativa do filme de Affleck, que transforma uma série de dados históricos em uma história sempre emocionante, amparada por atuações marcantes de todo o elenco e uma excelente trilha musical que alterna sucessos do Top 40 americano com canções aquela época.

DIMENSÃO HUMANA

O achado do roteiro consiste em contar essa emocionante história em sua dimensão humana, não apenas nas táticas e riscos empresariais que devem ser executados para conquistar o mercado de calçados esportivos. É justamente o lado humano, que o filme enfatiza, que liga o vendedor da Nike, Sonny Vaccaro (Matt Demon), a Deloris Jordan (Viola Davis), mãe de Michael. Dado importante. Consultado sobre o roteiro, Michael Jordan fez uma única sugestão: que Viola interpretasse sua mãe. Fundamental para a emoção do filme é o personagem de Rob Strasser (Jason Bateman, ótimo como sempre), gerente de marketing da empresa, que aposta absolutamente tudo na ousadia de Vaccaro.

Basicamente, “Air” conta a história de como o tênis Air Jordan surgiu. Mas, na verdade, o filme subestima o significado cultural pop do calçado: assim que foi lançado, em pouco tempo se tornou um fenômeno, não apenas elevando o teto para as vendas de calçados, mas também redefinindo os limites do sucesso do produto. Nas quatro décadas desde sua estreia, o Air Jordan continuou a prosperar: a Jordan Brand, agora subsidiária da Nike, faturou mais de US$ 5 bilhões em vendas em 2022. E antes de seu reverente tratamento nesta produção de agora, o Air Jordan já ocupava um lugar importante na história do cinema, como a estrela desconhecida – às vezes central, às vezes nos bastidores – de inúmeros filmes. Para curtir melhor como o papel do tênis na cultura pop evoluiu ao longo dos anos, conheça ou reveja algumas de suas aparições mais notáveis na tela grande: “Faça a Coisa Certa” (Spike Lee, 1989), “Space Jam/O Jogo do Século” (Joe Pytka, 1996), “He Got Game”(Spíke Lee, 1998), “White House Down” (Roland Emmerich, 2013) e “Kicks – Defendendo o que é Seu” (Justin Tipping , 2016), entre outros .

*Confira a programação de cinema no site da FOLHA.

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