SÃO PAULO - A arquiteta Lina Bo Bardi será reconhecida com o Leão de Ouro pelo conjunto da obra na 17ª Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, que começa no dia 22 de maio. O anúncio foi feito em uma publicação no site do evento, nesta segunda-feira (8).

Hashim Sarkis, curador da edição, afirmou que "se há uma arquiteta que representa adequadamente o tema da Bienal deste ano, é Lina Bo Bardi".

"Sua carreira como designer, editora, curadora e ativista nos lembra o papel do arquiteto como organizador e, principalmente, como construtor de visões coletivas. Lina Bo Bardi também exemplifica a perseverança da arquiteta em tempos difíceis, sejam guerras, conflitos políticos ou imigração, e sua capacidade de permanecer criativa, generosa e otimista o tempo inteiro", afirmou Sarkis.

Aos 32 anos, a italiana Lina Bo Bardi se mudou para São Paulo, onde ficou conhecida por projetos como o icônico cartão-postal paulistano Masp, o Museu de Arte de São Paulo, e a modernista Casa de Vidro. A arquiteta é um dos maiores nomes da da arquitetura brasileira do século passado.

As obras de Bo Bardi têm traços que são lidos tanto como arte erudita quanto arte popular. Além de grande edifícios, a arquiteta produziu desenhos e objetos famosos.

Muitas de suas obras foram criadas a partir de itens que ela encontrava no lixo. Para ela, estas peças eram o ponto de partida para a construção de uma cultura autenticamente brasileira.

Lina Bo Bardi: ícone da arquitetura também criava obras reciclando peças do lixo, para ela isso era o ponto de partida para a construção de uma cultura autenticamente brasileira
Lina Bo Bardi: ícone da arquitetura também criava obras reciclando peças do lixo, para ela isso era o ponto de partida para a construção de uma cultura autenticamente brasileira | Foto: Niels Andreas/ Folhapress

Segundo Sarkis, os projetos da arquiteta se destacam pela união entre arquitetura, natureza, vida e comunidade, através de seus desenhos e formas. "Em suas mãos, a arquitetura se torna verdadeiramente uma arte social", disse.

Em nota enviada à organização da Bienal, o Instituto Bardi de São Paulo, que reúne o acervo artístico e biográfico do casal Bardi –ela foi casada com Pietro Maria Bardi, figura central na fundação do Masp –, disse estar profundamente honrado e grato pelo prêmio.

“Esperamos que em vez de aumentar a popularidade de Lina Bo Bardi como um ícone da arquitetura, a Bienal ajude a contextualizar e comunicar a profundidade de sua visão de mundo crítica, sempre cuidando daqueles que são subrepresentados, sempre ciente da importância da diversidade e sempre comprometida com uma abordagem multidisciplinar de uma arquitetura que reúne pessoas de todas as esferas da vida", diz o texto.

O questionamento "Como Viveremos Juntos?" é o tema da Mostra deste ano. A edição havia sido marcada para ocorrer no primeiro semestre do ano passado, mas devido à pandemia do novo coronavírus, foi adiada — duas vezes — e, agora, deve acontecer a partir do dia 22 de maio.

A mudança de datas trouxe também uma importante mudança no calendário da Bienal de Veneza –agora, as mostras de arquitetura ocorrem em anos de numeração ímpar, enquanto as de arte acontecerão em anos pares, assim como a Bienal de São Paulo.

Lina Bo Bardi morreu em 20 de março de 1992, aos 78 anos, devido a uma embolia pulmonar.