Com uma carreira tão longeva como inspiradora, o repórter Ney Inácio cravou seu nome nos meios de comunicação e é referência entre profissionais de diferentes gerações. Sua habilidade em contar uma história de modo claro, coerente e conciso é inquestionável.

Nascido em Londrina, formou-se na primeira turma de jornalismo da Universidade Estadual de Londrina, no ano de 1979. A convicção já era parte de sua essência e os bancos da faculdade também contribuíram para a sua formação e perspectivas profissionais. De lá para cá, são 44 anos vivendo da comunicação e fazendo um trabalho distinto.

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Entre as qualidades de um bom repórter, Nei Inácio soma o faro, a sensibilidade, a inquietude e o aprofundamento - para listar algumas. Fruto de trabalho primoroso, o jornalista já recebeu honrarias e prêmios, entre eles o Prêmio Wladimir Herzog de Direitos Humanos em 1984, 1985, 1992, 1995 e a Comenda Melhor Repórter 2009 - Assembleia Legislativa de São Paulo.

A sagração, para o repórter, traz a sensação de dever cumprido. "Fazemos com técnica o trabalho de jornalismo, sem se envolver, mas diante do resultado de uma reportagem que denuncia abusos de autoridades e devolve dignidade às pessoas, como na que presenciei tanto sofrimento por conta da seca no Nordeste, receber um prêmio é parte do sacerdócio e o sentimento positivo é pelo papel social", enfatiza.

NA HISTÓRIA DA TV LONDRINENSE

Respeitado no meio jornalístico, Inácio deu os primeiros passos da carreira como repórter no Jornal "Estado do Paraná". Atuou na Rádio Londrina como repórter e locutor esportivo e na Rádio Alvorada como repórter geral. "Em Londrina, trabalhei como repórter na TV Tropical, TV Cidade, TV Coroados e fundei como diretor a afiliada da Rede Manchete. Também atuei na criação da TV Independência , mais tarde transformada na RIC afiliada da Rede Record", enumera.

Fora de Londrina começou como repórter na TV Cultura de Maringá, afiliada da Rede Globo depois ainda pela Rede Globo nas TVs Globo Oeste Paulista em Bauru, Marília, EPTV em Ribeirão Preto, e TV Centro América em Cuiabá, em 1986. Na sequência TV Globo em São Paulo (Bom dia São Paulo). "Em 1992, trabalhei em Curitiba na TV Paraná, posteriormente Rede OM, transformada em CNT. No ano de 1996, TV Rio Sul em Resende Rio de Janeiro, afiliada Rede Globo, e em 1998 no SBT.

Dentre reportagens marcantes em rede nacional, a do ano de 1982 o colocou dentro da casa de milhares de brasileiros quando 32 pessoas morreram em Guaíra. O anúncio do fim das Sete Quedas levou ao local um fluxo de turistas bem acima do habitual. Era 17 de Janeiro de 1982 e a queda de umas pontes causou as mortes e grande consternação. "Era domingo, eu estava de plantão e fui fazendo o meu nome num evento de muita repercussão".

Mas a popularidade foi mais forte nos últimos 20 anos, como repórter do Programa do Ratinho, graças aos temas de suas reportagens, a forma como as conduzia e a notável audiência do programa, onde começou em 1998 e saiu do ar há dois anos, mesmo período em que começou um tratamento de câncer.

Ney Inácio: londrinense e repórter premiado, ele passou por várias emissoras de TV, produziu documentários com grandes nomes da música e atualmente tem um canal no YouTube onde apresenta personagens incríveis
Ney Inácio: londrinense e repórter premiado, ele passou por várias emissoras de TV, produziu documentários com grandes nomes da música e atualmente tem um canal no YouTube onde apresenta personagens incríveis | Foto: Roberto Custódio

"A RUA É MINHA TELA"

Seu olhar sobre o horizonte enxerga longe. Feito Apoena, nome de origem tupi-guarani, vê longe. Não apenas olha, apura. Com poucas palavras, descreve a cena, conquista o transeunte e, ao captar sua essência, faz do que todos vejam, todos os dias, o que se passa. "A rua é minha tela e eu não considero que seja artista só porque fui parar na televisão. Sou artista sem empáfia, pois faço poesia. Embora esteja fora do vídeo há dois anos e meio, sigo produzindo".

Sem traquejo com as Ciências Exatas, recorda que a Comunicação já se anunciava em sua rotina. Os tempos de estudo no Colégio Vicente Rijo trazem boas recordações. "Sempre fui saidinho, curioso e de tomar a frente. Fui presidente do Grêmio e, apesar de meus pais serem pobres, sempre foram muito musicais, ouviam música e eu os acompanhava ouvindo "As Rainhas do Rádio", "Repórter Esso", de modo que tudo isso foi me guiando para um caminho que se tornou o meu", sorri.

Do microfone da quermesse ou do público, nunca teve medo. Se não havia equipamento, vinha a arte do improviso. "Na época da faculdade, não havia equipamento de fotografia ou de televisão. O apagador era o microfone", entrega. A versão raiz e na base da criatividade, soube conduzir as dificuldades e aceitar os desafios como oportunidades. "Como tinha o dom da palavra, passei a observador quem já sabia fazer com perfeição e aprendi os macetes da profissão de jornalismo com pessoas como Wilson Serra e Nilson Monteiro", conta.

"Enfrentar o mercado de trabalho era uma necessidade e eu sem nunca ter feito TV, não pude recusar a proposta de trabalho que recebi e passei a imitar Hélio Costa", diverte-se. "Minha habilidade de ator funcionou e, com o tempo, passei a me desenvolver e a imprimir as minhas próprias características."

"Desde o primeiro dia da profissão, nunca desgrudei de uma câmera fotográfica e tenho um olhar para a cidade". Com 1.86 de altura, percorre o todo, a parte e por diferentes ângulos, foge do comodismo. "Eu sou um observador do ser humano, existe uma universalidade no comportamento, nas reações das pessoas e eu me sinto produtivo", afirma.

Em seu canal no youtube @canaldoNeyOficial, Contando Histórias, reportagens como "As Velhinhas se Divertem" , Mendigos, Por Dentro do seu Mundo" e "Baile Funk", reproduzem e as singularidades de cada tema. O jornalista também está no tikTok @neyinacioO e considera importante conhecer as novas mídias e como estar integrado a elas.

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ARTE COMO COMBUSTÍVEL

No período da graduação, Ney Inácio integrou e foi um dos fundadores do Grupo Proteu de Teatro. Atuou em peças como “Calabar", de Chico Buarque e Ruy Guerra, “ Abajur Lilás “, de Plínio Marcos. "Fui ainda um dos organizadores dos Festivais de Música do Paraná entre os anos de 1976 a 1980."

Autor e diretor de espetáculos teatrais em São Paulo como “ A Vida Secreta de Batman e Robin", (em cartaz na Paraíba), “O Relicário “, dentre outras, também destaca-se como diretor de documentários para o Canal Brasil ( Globosat), como “Leny, a Fabulosa", “Agostinho”, que estreia em janeiro em São Paulo, "Musas da Pauliceia Desvairada" (em edição), " Mais um anjo" (em edição), "O Filho do Furacão ", entre outros filmes.

"Mulheres de São Chico", de Ney Inácio, venceu o Festival Latino Americano Audiovisual pelo júri popular neste semestre. A obra aborda as mulheres em profissões comuns a homens, como a de pescadoras. Sua carreira como produtor musical ganhou força com nomes como Cauby Peixoto, Angela Maria, Alcione, Claudete Soares e Moacir Franco. Sua atuação no filme "Cravos Vermelhos" e na web série "Geração Z" também integram a carreira. Foi ainda professor de Teatro e Cinema na Escola de Artes Rosina Pagã em São Paulo. "Minha especialidade é em em documentários e no resgate e preservação da memória da arte no Brasil,"diz.

Em Londrina para o seu tratamento, Ney observa com perplexidade o estado do Teatro Zaqueu de Melo, no centro Histórico de Londrina. "Está abandonado e é importante a sua recuperação, pois é parte do patrimônio histórico e não pode ficar como está, assim como é evidente a falta de teatro na periferia para a formação e renovação de público", reflete.