Nasce a primeira série londrinense para a TV
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sexta-feira, 15 de setembro de 2017
Marian Trigueiros<br>Reportagem Local
Depois de quase três meses, a primeira série totalmente produzida e rodada em Londrina chegou ao fim das gravações. "Super Família" movimentou a cidade e a área audiovisual com as aventuras vividas por seis crianças - Pedrinho, Mavi, Chiquinho, Lucas e as gêmeas Janaína e Juliana, protagonizadas pelos atores londrinenses Arthur Zanin, Luiza Quinteiro, Julio Buzignani Storto, João Guilherme Ota, Anajú da Silva Santos e Maria Júlia Assis, respectivamente. Voltada ao público infantil, a série ficcional terá 26 episódios que percorrem os universos familiares desses personagens e as descobertas da infância. "Super Família" é uma das 11 propostas aprovadas pelo programa 'Brasil de Todas as Telas' do Fundo Setorial do Audiovisual da Ancine (Agência Nacional de Cinema) de 2015, cujo edital prevê o repasse de R$ 1,7 milhão ao projeto, e deve ir ao ar no início do segundo semestre de 2018 em TVs públicas e comunitárias de todo país.
Com roteiro de Roberta Takamatsu, produção executiva de Guilherme Peraro, a série tem direção de fotografia de Carlos Ebert e direção geral de Rodrigo Grota. A trilha sonora será de Rodrigo Guedes. Ao todo, mais de 50 pessoas compuseram a equipe, que conta praticamente com profissionais de Londrina, encabeçada pela Kinopus Audiovisual. Um desafio e tanto, levando em conta algumas limitações técnicas e a inexistência de grandes estúdios de gravação, ainda que a cidade tenha se desenvolvido nesta área na última década e criado, recentemente, um APL (Arranjo Produtivo Local) do Audiovisual para fomentar e fortalecer as atividades das produtoras e instituições do segmento. Então, dentre as alternativas encontradas foram utilizados espaços da cidade, inclusive abertos para as chamadas 'externas'.
Uma das últimas cenas gravadas contou com uma verdadeira ação de logística e criatividade. A reportagem da FOLHA acompanhou algumas horas da gravação, que foi realizada na Vila Cultural Usina Cultural, com cerca de 30 crianças figurantes mais o elenco principal. O cenário era um circo ao estilo mambembe, com a participação de artistas locais, em que os protagonistas se divertem e mergulham na fantasia de crianças. Para enfrentar o calor que tem feito na cidade, muitos ventiladores e água nos intervalos entre as repetições de cena. E, para driblar e diminuir o barulho vindo da rua, panos nas portas para abafar, pois a captação dos microfones é extremamente sensível, até mesmo para sinal de celular. Apesar da descontração, tudo foi estrategicamente pensado para a equipe bater a meta de seis cenas por dia.
OS IDEALIZADORES
O diretor Rodrigo Grota, que já produziu e dirigiu 13 filmes entre longas e curtas-metragens conta que, nesta série, um dos desafios foi dar uma unidade estética ao longo de mais de cinco horas de cenas distribuídas entre os episódios. "É mais que o dobro de tempo de um longa-metragem e que exigiu uma produção intensa em 78 diárias". Além disso, em toda a série, principalmente nos momentos que retratam a imaginação das crianças, como a que estão dentro de um coração, usaram o maior número de técnicas e efeitos no set para diminuir a quantidade de pós-produção nas cenas. "Mas isso também foi pensado para refletir diretamente na atuação das crianças que viam as situações acontecendo de verdade e se deslumbravam com isso" diz, explicando que, no episódio do circo, queimaram café para produzir uma fumaça mais espessa.
A série, na qual cada capítulo trata de diversos assuntos e composições familiares, tem como fio condutor o universo infantil contado sob a ótica das crianças. "Em tempos em que as crianças estão seduzidas pela tecnologia, quisemos resgatar as brincadeiras e aventuras de rua, misturando fantasia e mundo real. Por isso, criamos uma linguagem que fosse atraente para eles despertando a curiosidade, causando uma confusão nos tempos, como a ambientação que, apesar de ocorrer em 2017, traz personagens que habitam casas da década de 80 e 90", complementa Grota. Para isso, a produção não mediu esforços e tornar tudo possível. "Como não temos estúdio para gravar as cenas internas, alugamos uma casa para criar os seis núcleos familiares da série. Nelas, tivemos de adaptar a altura, paredes e modificar cômodos", detalha Guilherme Peraro, diretor executivo.
IMPORTANDO CONHECIMENTO
Com vasta experiência em filmes, séries e propagandas, o diretor de fotografia Carlos Ebert foi a única aquisição fora de Londrina para a "Super Família". Ele mudou-se literalmente para a cidade para trabalhar no projeto durante os três meses. Para ele, a revolução tecnológica, sobretudo na última década, modificou a forma de produzir, divulgar e exibir produções em todo mundo. "Existe muita coisa excepcional sendo feita em lugares que jamais imaginávamos. Se antes o equipamento era fator fundamental para produção, hoje, o fator humano é que tem importância. A democratização do digital está revelando talentos em todos os cantos, e Londrina tem um potencial audiovisual muito grande", diz ele, que compartilhou alternativas para o orçamento e conhecimento com a equipe acumulado ao longo de mais de 50 anos de carreira.
Apesar da diversão neste universo, o ritmo intenso de gravações exigiu muita disposição dos atores mirins que, em sua maioria, participou pela primeira vez de uma produção cinematográfica. "Vou para a escola de manhã e quando chego em casa já faço toda a tarefa. Logo depois do almoço já venho para as gravações e fico até à noite. É cansativo, mas muito gostoso", conta Julio Buzignani Storto, que vive o personagem Chiquinho. A atriz Maria Júlia Assis, que faz uma das gêmeas, a Juliana, também diz que gravar todos os dias mudou sua rotina, porém, afirma que a experiência foi muito melhor do que imaginava. "Quem pensa que só brincamos está muito enganado; não tem moleza. Gravamos com calor, sol, com fumaça, no mato, cenas de terror à noite. Mas foi tudo muito divertido".