Os atores e a equipe de filmagens nas últimas gravações na Usina Cultural, tendo um circo como cenário
Os atores e a equipe de filmagens nas últimas gravações na Usina Cultural, tendo um circo como cenário | Foto: Fotos: Gustavo Carneiro



Depois de quase três meses, a primeira série totalmente produzida e rodada em Londrina chegou ao fim das gravações. "Super Família" movimentou a cidade e a área audiovisual com as aventuras vividas por seis crianças - Pedrinho, Mavi, Chiquinho, Lucas e as gêmeas Janaína e Juliana, protagonizadas pelos atores londrinenses Arthur Zanin, Luiza Quinteiro, Julio Buzignani Storto, João Guilherme Ota, Anajú da Silva Santos e Maria Júlia Assis, respectivamente. Voltada ao público infantil, a série ficcional terá 26 episódios que percorrem os universos familiares desses personagens e as descobertas da infância. "Super Família" é uma das 11 propostas aprovadas pelo programa 'Brasil de Todas as Telas' do Fundo Setorial do Audiovisual da Ancine (Agência Nacional de Cinema) de 2015, cujo edital prevê o repasse de R$ 1,7 milhão ao projeto, e deve ir ao ar no início do segundo semestre de 2018 em TVs públicas e comunitárias de todo país.



Com roteiro de Roberta Takamatsu, produção executiva de Guilherme Peraro, a série tem direção de fotografia de Carlos Ebert e direção geral de Rodrigo Grota. A trilha sonora será de Rodrigo Guedes. Ao todo, mais de 50 pessoas compuseram a equipe, que conta praticamente com profissionais de Londrina, encabeçada pela Kinopus Audiovisual. Um desafio e tanto, levando em conta algumas limitações técnicas e a inexistência de grandes estúdios de gravação, ainda que a cidade tenha se desenvolvido nesta área na última década e criado, recentemente, um APL (Arranjo Produtivo Local) do Audiovisual para fomentar e fortalecer as atividades das produtoras e instituições do segmento. Então, dentre as alternativas encontradas foram utilizados espaços da cidade, inclusive abertos para as chamadas 'externas'.

O diretor Rodrigo Grota:"Em tempos em que as crianças estão seduzidas pela tecnologia, quisemos resgatar as brincadeiras de rua
O diretor Rodrigo Grota:"Em tempos em que as crianças estão seduzidas pela tecnologia, quisemos resgatar as brincadeiras de rua



Uma das últimas cenas gravadas contou com uma verdadeira ação de logística e criatividade. A reportagem da FOLHA acompanhou algumas horas da gravação, que foi realizada na Vila Cultural Usina Cultural, com cerca de 30 crianças figurantes mais o elenco principal. O cenário era um circo ao estilo mambembe, com a participação de artistas locais, em que os protagonistas se divertem e mergulham na fantasia de crianças. Para enfrentar o calor que tem feito na cidade, muitos ventiladores e água nos intervalos entre as repetições de cena. E, para driblar e diminuir o barulho vindo da rua, panos nas portas para abafar, pois a captação dos microfones é extremamente sensível, até mesmo para sinal de celular. Apesar da descontração, tudo foi estrategicamente pensado para a equipe bater a meta de seis cenas por dia.

OS IDEALIZADORES
O diretor Rodrigo Grota, que já produziu e dirigiu 13 filmes – entre longas e curtas-metragens – conta que, nesta série, um dos desafios foi dar uma unidade estética ao longo de mais de cinco horas de cenas distribuídas entre os episódios. "É mais que o dobro de tempo de um longa-metragem e que exigiu uma produção intensa em 78 diárias". Além disso, em toda a série, principalmente nos momentos que retratam a imaginação das crianças, como a que estão dentro de um coração, usaram o maior número de técnicas e efeitos no set para diminuir a quantidade de pós-produção nas cenas. "Mas isso também foi pensado para refletir diretamente na atuação das crianças que viam as situações acontecendo de verdade e se deslumbravam com isso" diz, explicando que, no episódio do circo, queimaram café para produzir uma fumaça mais espessa.

Da esquerda para a direita, Arthur Zanin, Luiza Quintino, João Guilherme Ota, Julio Buzignani Storto, Anajú da Silva Santos e Maria Julia Assis: atores da série que traz descobertas da infância
Da esquerda para a direita, Arthur Zanin, Luiza Quintino, João Guilherme Ota, Julio Buzignani Storto, Anajú da Silva Santos e Maria Julia Assis: atores da série que traz descobertas da infância | Foto: Renata Cabrera/ Divulgação



A série, na qual cada capítulo trata de diversos assuntos e composições familiares, tem como fio condutor o universo infantil contado sob a ótica das crianças. "Em tempos em que as crianças estão seduzidas pela tecnologia, quisemos resgatar as brincadeiras e aventuras de rua, misturando fantasia e mundo real. Por isso, criamos uma linguagem que fosse atraente para eles despertando a curiosidade, causando uma confusão nos tempos, como a ambientação que, apesar de ocorrer em 2017, traz personagens que habitam casas da década de 80 e 90", complementa Grota. Para isso, a produção não mediu esforços e tornar tudo possível. "Como não temos estúdio para gravar as cenas internas, alugamos uma casa para criar os seis núcleos familiares da série. Nelas, tivemos de adaptar a altura, paredes e modificar cômodos", detalha Guilherme Peraro, diretor executivo.

O diretor de fotografia Carlos Ebert trouxe sua experiência para Londrina
O diretor de fotografia Carlos Ebert trouxe sua experiência para Londrina



IMPORTANDO CONHECIMENTO
Com vasta experiência em filmes, séries e propagandas, o diretor de fotografia Carlos Ebert foi a única aquisição fora de Londrina para a "Super Família". Ele mudou-se literalmente para a cidade para trabalhar no projeto durante os três meses. Para ele, a revolução tecnológica, sobretudo na última década, modificou a forma de produzir, divulgar e exibir produções em todo mundo. "Existe muita coisa excepcional sendo feita em lugares que jamais imaginávamos. Se antes o equipamento era fator fundamental para produção, hoje, o fator humano é que tem importância. A democratização do digital está revelando talentos em todos os cantos, e Londrina tem um potencial audiovisual muito grande", diz ele, que compartilhou alternativas para o orçamento e conhecimento com a equipe acumulado ao longo de mais de 50 anos de carreira.
Apesar da diversão neste universo, o ritmo intenso de gravações exigiu muita disposição dos atores mirins que, em sua maioria, participou pela primeira vez de uma produção cinematográfica. "Vou para a escola de manhã e quando chego em casa já faço toda a tarefa. Logo depois do almoço já venho para as gravações e fico até à noite. É cansativo, mas muito gostoso", conta Julio Buzignani Storto, que vive o personagem Chiquinho. A atriz Maria Júlia Assis, que faz uma das gêmeas, a Juliana, também diz que gravar todos os dias mudou sua rotina, porém, afirma que a experiência foi muito melhor do que imaginava. "Quem pensa que só brincamos está muito enganado; não tem moleza. Gravamos com calor, sol, com fumaça, no mato, cenas de terror à noite. Mas foi tudo muito divertido".