O centenário da maior vencedora do carnaval do Rio de Janeiro e homenagens a dois dos maiores sambistas da era moderna são os destaques dos desfiles que as escolas de samba fluminenses vão levar à Marquês de Sapucaí neste ano. Nada mal, já que é a primeira vez desde a pandemia da Covid-19 que a folia retorna ao Sambódromo nos dias de Carnaval, que neste ano caem neste domingo (19) e na segunda-feira (20). Em 2021, pela primeira vez na história o "Maior Espetáculo da Terra" não rolou - por causa do vírus -, e no ano passado os desfiles foram realizados no mês de abril.

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Os 100 anos da Portela serão celebrados no carnaval deste ano com homenagens a baluartes que fazem parte da história da escola
Os 100 anos da Portela serão celebrados no carnaval deste ano com homenagens a baluartes que fazem parte da história da escola | Foto: Lucas Neves/ Agência Enquadrar/ Folhapress

Vinte e duas vezes campeã - a última em 2017, quando dividiu o título com a Mocidade Independente de Padre Miguel -, a Portela quer mostrar por que o azul que vem do infinito é mais bonito em Madureira. Ao contar seu centenário, que será celebrado em 11 de abril, a Águia promete voar alto e emocionar além de seus torcedores. O enredo parte da trajetória de quatro baluartes - Paulo da Portela (1901-1949), um de seus fundadores; a lendária porta-bandeira Dodô (1920-2015); o compositor David Corrêa e o eterno presidente Monarco (falecido ano passado) - para enaltecer o passado e projetar o futuro da agremiação, que também fica em Oswaldo Cruz, bairro colado a Madureira.

"São vozes de alguns dos nossos principais baluartes que vão contar para as novas gerações esses 100 anos de história e os que ainda virão", afirma Mauro Sérgio Farias, do departamento cultural da Azul e Branca, em entrevista ao RJTV. Portelenses famosos, como Paulinho da Viola, Marisa Monte e Zeca Pagodinho, certamente darão o ar da graça no desfile.

E por falar no Zeca, o sambista que reinventou o pagode do subúrbio carioca - ou no mínimo o popularizou a partir dos anos 80 - será o tema da atual campeã, a Acadêmicos do Grande Rio. A tricolor de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, usou como inspiração o samba "Zeca, cadê você?", composto por ele em parceria com Jorge Aragão, para "procurá-lo" em lugares que fizeram parte de sua história, como o bairro de Irajá, onde iniciou a carreira, a lendária quadra do Cacique de Ramos, berço do grupo Fundo de Quintal, até chegar a Xerém, o distrito de Duque de Caxias (RJ) onde Zeca fincou raízes e não cansa de cantar.

Zeca Pagodinho é tema do enredo da atual campeã do carnaval carioca, a Acadêmicos do Grande Rio
Zeca Pagodinho é tema do enredo da atual campeã do carnaval carioca, a Acadêmicos do Grande Rio | Foto: Carlos Santtos/ Fotoarena/ Folhapress

"A Beth Carvalho falou num show que o Zeca é um grande poeta da vida, e isso acaba inspirando a gente na criação do enredo. É um andarilho pela cidade e é isso que ele gosta de cantar e de compor. Então, quando a gente pensa no enredo, pensa nisso: a Grande Rio como esse personagem que vai procurar o Zeca, e aí começa na Alvorada da Madrugada até o Quintal de Xerém", explica o carnavalesco da escola, Gabriel Haddad.

Outro sambista de primeira que terá a vida e obra contadas na avenida é Arlindo Cruz, um dos principais parceiros do próprio Zeca Pagodinho. A homenagem vem de sua escola do coração, Império Serrano, que está de volta ao Grupo Especial. É um reconhecimento necessário ao artista autor (e coautor) de clássicos absolutos como "O show tem que continuar" e "Meu lugar", além de diversos sambas de enredo da agremiação Verde e Branca de Madureira. Uma pena que Arlindo não poderá curtir a festa como gostaria - e merecia. Desde que sofreu um AVC, em março de 2017, ele perdeu os sentidos cognitivos e usa cadeira de rodas. A família promete levá-lo ao desfile. Tomara.

MANGUEIRA CELEBRA AS ÁFRICAS

"A escola de samba mais querida do planeta", como seus integrantes gostam de dizer, a Estação Primeira de Mangueira vai falar sobre as Áfricas que a Bahia canta. Uma exaltação aos blocos musicais afro que ganharam o mundo, como o Ilê-Ayê, e à cultura afro tão presente especialmente em Salvador, a cidade mais preta do Brasil. Será o primeiro desfile da Verde e Rosa sem a assinatura do carnavalesco Leandro Vieira, campeão em 2016 e 2019 com a escola de Cartola e que neste ano defende a Imperatriz Leopoldinense. "A gente mostra essas Áfricas que a Bahia recebe e fala de uma África pouco abordada no Carnaval. Falamos de diferentes nações que vieram para o Brasil e ficaram em Salvador e fizeram toda essa festa que é um grito de liberdade em forma de arte", afirma a carnavalesca Annik Salmon, que estreia na função junto com Guilherme Estevão. Segunda maior vencedora do carnaval fluminense, com 19 campeonatos, a Mangueira espera se redimir da edição do ano passado, quando não chegou nem ao desfile das campeãs.

Por falar em tradição, a Beija-Flor de Nilópolis leva para a Sapucaí o grito dos excluídos. A Azul e Branca da Baixada Fluminense usa como mote a data de 2 de julho de 1823, que marcou a independência da Bahia, para refletir sobre os 200 anos da libertação de quem sempre esteve à margem da sociedade. A escola de Neguinho da Beija-Flor é a maior vencedora da era Sambódromo, iniciada em 1984, quando o espaço projetado por Oscar Niemayer foi inaugurado como a Passarela do Samba. São nove títulos na avenida.

"Nem melhor nem pior, apenas uma escola diferente", a Acadêmicos do Salgueiro aposta num enredo que defende a liberdade de expressão para buscar um título que já não conquista desde 2009. A inspiração não podia ser melhor: Joãozinho Trinta (1933-2011), carnavalesco que além de ser bicampeão pela própria Vermelha e Branca do Andaraí (1974/75) promoveu desfiles antológicos, como o de 1989 pela Beija-Flor, quando levou à avenida mendigos esfarrapados e um Cristo Redentor coberto por um saco plástico preto após a Arquidiocese do Rio de Janeiro proibir o uso original da escultura.

As demais escolas do Grupo Especial são Unidos do Viradouro, campeã em 2020 e vice no ano passado, Unidos de Vila Isabel, Unidos da Tijuca, Mocidade Independente de Padre Miguel, Paraíso do Tuiuti, e Imperatriz Leopoldinense. Lembrando que cada desfile tem 70 minutos de duração e são divididos em dois dias (seis escolas se apresentam no domingo e as outras seis, na segunda, em ordem definida por sorteio pela Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro). A campeã e as demais cinco melhores colocadas na apuração da Quarta-Feira de Cinzas (22) voltam a desfilar no Sábado das Campeãs (24). A última colocada será rebaixada.

Imagem ilustrativa da imagem Na Sapucaí, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e centenário da Portela
| Foto: Gustavo Padial/ Folha Arte

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