O entusiasmo extremamente merecido que acompanhou o astuto e contagiante “Entre Facas e Segredos” (Knives Out, 2019), do mesmo diretor Rian Johnson, foi de uma intensidade tão frenética que não apenas lançou uma franquia, mas ajudou a relançar um gênero que estava injustamente adormecido há décadas. Foi depois do remake bem sucedido e obviamente mais comercial de “Assassinato no Expresso do Oriente” que as multidões surgiram ansiosas para continuar brincando de detetive, mesmo quando a especialista em puzzles Agatha Christie não estava mais estabelecendo as pistas.

E Daniel Craig está de volta, nesta retomada de “Knives Out”. Dizer muito mais sobre este “Glass Onion: A Knives Out Mystery”, estreado em Netflix na véspera do Natal, seria estragar o retorno igualmente divertido (um pouco menos) do selo Knives Out de três anos atrás. Onde o original dependia dos estranhos (bizarros, aliás) membros da família do morto, todos suspeitos de assassinato investigados por Benoit Blanc, o detetive engraçado e mundialmente famoso na pele de Craig, “Glass Onion” conta com segredos, mentiras, mal-entendidos e identidades equivocadas da trama. Cheio de bem temperadas participações especiais e repleto de momentos também cômicos como no filme anterior, “Glass Onion” traz um novo elenco de suspeitos, os coloca na ilha particular de um bilionário na Grécia e envia Blanc para descobrir os nós de uma trama sempre às voltas com reviravoltas.

O trecho de abertura é tão repleto de referências à cultura pop, inside jokes, ovos de Páscoa e participações especiais surpreendentes que vai de divertido a exaustivo, talvez um pouquinho rápido demais... Neste retomada na qual o nonsense flerta descaradamente com o ilimitado universo dos algoritmos, o idiossincrático 'private eye' de Daniel Craig, Benoit Blanc – uma pena que sua atuação ao mesmo tempo astuta e alegre não esteja mais presente no roteiro – vai se envolver com um magnata de tecnologia (Edward Norton) e seu grupo de velhos amigos , os “disrruptores”, todos participantes de um jogo de mistério e suspense.

O espectador poderia se aventurar e concluir que a ganância corporativa e a decepção são temas presentes aqui, mas o filme, um mistério light, uma diversão ligeira,não sustentaria esse peso. Depois que um assassinato acontece e alguns segredos são revelados, o personagem de Kate Hudson grita: "O que é a realidade?" – uma indagação que vem e vai tão fugazmente quanto deveria. O semiapego do filme à realidade é uma das piadas de Johnson. A história se passa em maio de 2020, com todos, especialmente Blanc, meio ensandecidos durante o bloqueio de Covid. E isso apenas dois meses da pandemia decretada. Quando os convidados chegam à Grécia, um dispositivo de conveniente ficção permite que eles abandonem suas máscaras.

“Glass Onion” será igualmente divertido assistir uma segunda vez. E é conveniente ouvir sempre a cinquentenária canção dos Beatles que dá titulo ao filme. Está tudo ali. E muito mais...

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