Museu que foi criado em 18 de setembro de 1970 passou a ocupar a antiga estação ferroviária de Londrina em 1986
Museu que foi criado em 18 de setembro de 1970 passou a ocupar a antiga estação ferroviária de Londrina em 1986 | Foto: Roberto Custódio
Arquitetura do Museu reflete as marcas dos muitos imigrantes que deram linhas e formas à cidade
Arquitetura do Museu reflete as marcas dos muitos imigrantes que deram linhas e formas à cidade | Foto: Roberto Custódio

O Museu Histórico Padre Carlos Weiss completa este ano seu jubileu de ouro. Sua criação começou a ser discutida no curso de História da Fefcll, em 1962. O projeto Casa da Memória – Política Documental da UEL, do Centro de Documentação Histórica de Londrina, aponta a aluna Célia Moraes como a primeira a defender a ideia. A reportagem da FOLHA conversou com algumas das mulheres que fizeram parte dessa história, a começar pela professora Yoshiya Nakagawara Ferreira, que integrou a primeira reunião da comissão provisória de organização do museu, realizada em novembro de 1969.

Ele foi fundado no dia 18 de setembro de 1970, nos porões do Colégio Hugo Simas, como Museu Geográfico e Histórico do Norte do Paraná, vinculado aos cursos de Geografia e História da antiga Fefcll (Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Londrina). Depois da morte de Weiss em 1976, em outubro de 1978, o Conselho Universitário da UEL decidiu denominar o museu com o seu nome. Ele só se mudou para o atual endereço, na antiga estação ferroviária de Londrina em 1986.

Segundo Ferreira, a constituição do museu se deu por iniciativa e força intuitiva do Padre Carlos Weiss. “Em reunião dos professores a sua sabedoria e a sua presença argumentativa logo conquistou os professores. Alguns se mostraram céticos ou indiferentes. O professor Padre Carlos Weiss argumentou muito fortemente que o importante é a semente. O tempo mostrou que ele tinha muita razão, pois, sábio e conhecedor das coisas da vida, sentiu antecipadamente a força da nossa sociedade”, declarou a professora.

Yoshiya Nakagawara Ferreira: "Não é o dinheiro que faz as coisas acontecerem, são as ideias"
Yoshiya Nakagawara Ferreira: "Não é o dinheiro que faz as coisas acontecerem, são as ideias" | Foto: Fábio Alcover/ Arquivo Folha

Ela relatou que o primeiro nome do museu foi escolhido em razão simbólica porque a expressão “Norte do Paraná” perpassava a mente e o cotidiano das pessoas, baseada na cultura cafeeira, tanto pela sua expressão social e econômica como política. “Era uma marca subjacente e era adjetivada de orgulho e pertencimento. Hoje é uma palavra nostálgica”, destacou.

Após a difusão da ideia chegaram muitos objetos doados. “Eram geralmente objetos de uso do cotidiano e muitas vezes, trazidos pelos imigrantes e migrantes brasileiros. No início, o professor Padre Carlos Weiss orientou até como o fichário deveria ser feito, mas a catalogação não foi fácil, principalmente em relação às imagens religiosas. Foram desconectadas as relações entre muitos objetos dos doadores”, destacou.

“O rico acervo precisava de um local mais apropriado e melhor forma de conservação, pois há objetos frágeis como porcelanas, cerâmicas e fotos que necessitam de cuidados especiais. Exigiu infraestrutura física, biblioteca, docentes”, destacou. De acordo com Ferreira, não é o dinheiro que faz as coisas acontecerem. “São as idéias. O resto vem depois. Se a semente for boa, muita gente acredita e colabora para a sua frutificação”, enalteceu. “Visito o museu com uma certa frequência. Sinto o drama dos gestores, mas sinto que deixamos um legado que está crescendo, pelo esforço de alguns docentes e funcionários. É um dos cartões postais pelo seu acervo”, destacou.

AS COMEMORAÇÕES FORAM ADIADAS, MAS A HISTÓRIA CONTINUA

O guichê da compra de passagens da antiga estação ferroviária e os relógios na parede destacam  o Museu como um marco de passagem do passado para o futuro
O guichê da compra de passagens da antiga estação ferroviária e os relógios na parede destacam o Museu como um marco de passagem do passado para o futuro | Foto: Roberto Custódio

A programação para a comemoração do cinquentenário do Museu Histórico de Londrina foi afetada pela pandemia da Covid-19 e foi redefinida para o formato digital. Estão sendo produzidos materiais que resgatam a trajetória do Museu Histórico desde a sua fundação com depoimentos e entrevistas de pessoas que colaboraram com sua formação, criação e adequação, e depoimentos atuais. Esse material está sendo publicado no site do Museu, Instagram, Facebook e na Plataforma Londrina Cultura e perdurará por todo o mês de setembro, mês da comemoração do Jubileu de Ouro.

Fizemos vídeo sobre a rede ferroviária, sobre o fotógrafo José Juliani, fizemos uma série em quatro partes sobre a decadência do café, com textos e fotos do Armínio Kaiser”, destacou a diretora Edmeia Ribeiro. “Do dia 8 para cá temos feito postagens contando a história do Museu. O primeiro material foi uma homenagem ao professor Jorge Cernev, que faleceu recentemente e foi um dos fundadores do museu. Ele dedicou parte de sua vida acadêmica para essa questão da memória histórica, em especial ao projeto Cuco que era a coleta de depoimentos de pioneiros por alunos que iam ao Museu.”

Outro material conta a história dos primórdios do Museu e o outro traz o depoimento de uma antiga estagiária que ajudou na catalogação dos primeiros objetos. “Fizemos também uma postagem em homenagem aos funcionários e faremos uma entrevista com a Marina Zuleika Scalassara, uma das primeiras funcionárias do museu. Também vamos fazer uma galeria dos diretores, uma publicação sobre a Asam (Associação dos Amigos do Museu Histórico de Londrina), entre outros.”

Publicamos cartões postais para mostrar coleções que estão no acervo tridimensional. Uma delas foi sobre as várias coleções de porcelanas , depois fizemos com coleções de rádios e também mostramos uma coleção de lamparinas”, expôs.

Edimeia Ribeiro, diretora do Museu: "Desde o dia 8 temos feito postagens contando a história do Museu"
Edimeia Ribeiro, diretora do Museu: "Desde o dia 8 temos feito postagens contando a história do Museu" | Foto: Gustavo Carneiro/ Arquivo Folha

A diretora destacou que as comemorações tiveram início no dia 13 de março, quando foi feito o lançamento do selo de 50 anos do museu. “Teríamos várias exposições e apresentações que aconteceriam, mas elas tiveram de ser canceladas.”

Sobre o futuro do museu ela relatou que recentemente a instituição recebeu uma verba de R$ 300 mil para a reforma das instalações elétricas por intermédio da Seti (Superintendência de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná). “Foi um pedido da Sociedade Amigos do Museu e da direção do Museu Histórico ao deputado Tercílio Turini. O recurso já está no caixa da UEL e o processo de licitação do projeto já está sendo realizado e posteriormente faremos a licitação do projeto de execução”, destacou. Ela relatou que o Museu também receberá recursos via Ministério Público, por meio de um TAC (termo de ajuste de conduta). “Esse recurso será utilizado para a reforma cênica da manobreira que está no pátio do Museu.”, relatou Ribeiro.

No ano passado a gente foi contemplado com dois projetos, um do Promic e outro pelo fundo de patrimônio que a gente investiu para inserção de de nosso acervo na base de dados da Rede Pergamum (Sistema Integrado de Bibliotecas, arquivos e museus)”, destacou.

No entanto ela lamenta que o espaço tem perdido funcionários. Atualmente há somente dois técnicos, quando o ideal seria ter pelo menos seis deles. "A gente trabalha com um número muito reduzido de funcionários. Recentemente tivemos a aposentadoria de uma técnica e essa vaga não foi reposta. A aposentadoria da Célia Rodrigues de Oliveira, que era a responsável técnica pelo setor de audiovisual. Precisaríamos que um novo funcionário trabalhasse por pelo menos três anos antes dessa funcionária aposentar para repassar todo o conhecimento que ela possuía. Temos a ajuda de ótimos estagiários, mas o que se faz lá é muito mais do que o Museu teria condições de produzir", destacou.

Um dos espaços mais ternos do Museu: a reconstituição da memória de uma antiga casa de comércio de Londrina
Um dos espaços mais ternos do Museu: a reconstituição da memória de uma antiga casa de comércio de Londrina | Foto: Roberto Custódio

INÍCIO FOI MARCADO POR UMA ESTRUTURA PRECÁRIA

A gestação de uma nova instituição revela um pioneirismo admirável de seus idealizadores, mas o início do Museu Histórico Padre Carlos Weiss não foi cercado de glamour. A professora Marina Zuleika Scalassara, 87, foi uma das primeiras funcionárias do museu e trabalhou por lá até 2003. Ela revelou que o porão da escola Hugo Simas não era o ideal. “A sala não tinha ventilador e também não tinha forro. A gente não podia deixar objetos fora da vitrine para não ter perigo de cair poeira ou líquido, pois os alunos da escola muitas vezes deixavam cair guaraná ou água no assoalho das salas de aula que ficavam acima e tudo escorria para o porão”, relembrou. Mesmo assim Scalassara agradece que o Museu tenha iniciado por lá. "Graças a Deus tivemos aquele lugar. Deu para ficar por muitos anos ali", destacou.

Marina Zuleika Scalassara, uma das primeiras funcionárias do Museu: "Tivemos em Londrina  o primeiro curso de pós-graduação em museologia do Brasil"
Marina Zuleika Scalassara, uma das primeiras funcionárias do Museu: "Tivemos em Londrina o primeiro curso de pós-graduação em museologia do Brasil" | Foto: Arquivo pessoal

Entrei em 1970 e logo comecei a trabalhar com o Padre Carlos Weiss. Foi um trabalho que começou nas aulas de História da antiga na faculdade de filosofia. Ele propôs aos alunos uma pesquisa de objetos históricos das famílias. Ele foi colecionando esse material, mas no início foi difícil, porque os alunos faziam uma catalogação mais geral e a gente fazia uma catalogação mais científica”, destacou Scalassara. Ela relatou que era preciso ter conhecimento de como fazer a limpeza desses objetos históricos. “O Padre Carlos Weiss tinha um certo conhecimento sobre isso, porque era filho de um funcionário de um museu na Alemanha. Embora seu conhecimento não fosse atualizado, porque a museologia desenvolveu muito, era muito bom trabalhar com ele”, destacou.

Scalassara, que era formada em Pedagogia, logo se apaixonou pelo assunto e se especializou em museologia, na USP. “Depois que o museu mudou para a antiga estação ferroviária nos especializamos. Foi muito bom. Foi o primeiro curso de pós-graduação em museologia no Brasil. Esse que fiz começou em 1980. Depois surgiram outros”, destacou.

Me sinto orgulhosa de ter trabalhado no museu. Trouxe muitos conhecimentos e me deu amor à pátria, à história e à Londrina. Antes da pandemia eu estava lá sempre, toda semana. Mas agora estou afastada das ruas desde o dia 20 de abril”, lamentou.

ACERVO TEM 250 MIL DOCUMENTOS E 700 MIL IMAGENS

Uma reportagem da Folha de Londrina, publicada no dia 19 novembro de 1969, relatou a primeira reunião da comissão provisória de organização do museu. Ela foi constituída da seguinte forma: coordenador geral, padre Carlos Weiss; seção de Geografia Humana, professora Yoshiya Nakagawara; Geografia Física, professor João Antonio Calvo; História, professor Jorge Cernev; Antropologia, professor Mário Borges Maciel; Arquivos e Documentos, professora Maria Dulce Alho Gotti; e Relações Públicas, Leonardo Henrique dos Santos.

Atualmente o museu funciona com os seguintes espaços: galeria histórica; galeria de mostra temporária; setor de biblioteca e documentação (250 mil itens); setor de imagem e som (mais de 700 mil entre fotografias, negativos, vídeos e áudios); setor tridimensional em reserva técnica (8,1 mil objetos); setor de divulgação; secretaria e diretoria. Como museu universitário desenvolve ações com a presença de estagiários de diversas áreas do conhecimento, profissionais da mídia, acadêmicos, pesquisadores, professores e discentes de curso superior e alunos dos ensinos fundamental e médio.

Na atualidade o museu histórico vem se consolidando como um importante espaço de ação cultural. No ano passado foram realizados 42 eventos ali, totalizando uma média de 9,5 mil pessoas que passaram pelo museu para participar dos eventos.

Imagem ilustrativa da imagem Museu Histórico de Londrina: 50 anos guardando a memória

Confira as comemorações dos 50 anos no site do Museu Histórico de Londrina

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