As eleições de 2020 trazem características inéditas sobre o perfil dos candidatos: o número de mulheres candidatas é recorde e o de candidatos negros, pela primeira vez, supera o número de brancos no Brasil.

Impossível não ver uma relação entre esses números e as lutas sociais que, nas últimas décadas, trouxeram mais protagonismo às mulheres, assim como para negros, com maior envolvimento nas lutas contra o racismo. Tudo isso representa uma aproximação maior dos candidatos com o perfil real da população brasileira composta por 51,8% de mulheres e 48,2% de homens, segundo dados do PNDA Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), ligada ao IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Da mesma forma, os negros correspondem a 56,10% da população do País, somando-se aí uma população de 19,2 milhões de pessoas que se assumem como negras e 89,7 milhões de pessoas que se assumem como pardas.

O número maior de mulheres e negros na disputa por cargos eletivos nas prefeituras e Câmaras Municipais reflete ainda o estabelecimento das cotas de gênero a partir dos anos 90 e as mais recentes cotas de distribuição da verba de campanha e da propaganda eleitoral, decisões tomadas pelos tribunais superiores em 2018, no caso das mulheres, e em 2020, no caso dos negros.

Até o último domingo (27), em nível nacional, a porcentagem de mulheres candidatas era de 34% ou 176 mil concorrentes. Nas últimas três eleições, esse índice não passou de 32%. Pelas regras de hoje, os partidos devem reservar ao menos 30% das vagas de candidatos e da verba pública de campanha especialmente para elas. Já para os negros, o STF havia decidido instituir uma verba equânime de recursos para as campanhas e propaganda eleitoral para negros e brancos a partir de 2022, mas o ministro Ricardo Lewandowski decidiu pela aplicação imediata da medida, valendo já para o pleito municipal de 2020.

Até o levantamento de domingo, os candidatos autodeclarados pretos e pardos somavam 51% dos candidatos (263 mil)- sendo que 208 mil se declaravam pardos e 55 mil pretos - em comparação a 48% dos brancos (248 mil).

Em Londrina, segundo matéria publicada na FOLHA nesta segunda-feira(28), a tendência de aumento no número de mulheres e negros nas eleições municipais chega devagarinho, mas não deixa de expressar uma mudança: aqui, 32,7% são candidatas mulheres e os negros somam 26,71%, o que está baixo das estimativas em nível nacional.

Mas as mudanças mais expressivas, quando se observa o cenário nacional, significam que as políticas de cotas e as lutas sociais por igualdade de direitos apresentam resultados mais palpáveis nestas eleições.

Para as mulheres que nem sequer tinham direito ao voto no Brasil no início do século 20, não deixa de ser um salto. Elas só foram consideradas eleitoras, em nível nacional, em 1932, quando Getúlio Vargas deu direito ao voto a todo cidadão ou cidadã acima de 21 anos, sem discriminação de gêneros.

Quanto aos negros, há ainda um longo caminho na luta por representatividade, seja no âmbito dos cursos superiores, das vagas melhor remuneradas no mercado de trabalho ou na vida política. Mas um número expressivo de candidatos negros que inclusive superam os brancos, pela primeira vez na história, é uma demonstração de que a população está tomando consciência acerca da diversidade de sua formação, já que estas eleições apresentam uma configuração bem diferente. Trata-se do Brasil assumindo seu espaço de forma mais justa e equitativa.

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