Em 1994, o grupo Racionais MC's expressou: "Onde estiver, seja lá como for, tenha fé porque até no lixão nasce flor".

A batalha do RU (Restaurante Universitário) foi realizada nesta sexta-feira (1) na UEL (Universidade Estadual de Londrina), ao meio-dia. Proferindo poesias, os 10 MC's (mestres de cerimônia) participantes se reuniram junto ao público na frente do restaurante. Diante do PL 203/2021, conhecido como "Vida Saudável em Londrina", os organizadores escolheram o local como protesto ao projeto, que tem como objetivo taxar a utilização de locais públicos e áreas de lazer, como praças, campinhos de futebol e pistas de skate.

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O estudante de artes cênicas e organizador do evento, Kainã Baccon, de 21 anos, afirma que a Universidade foi escolhida como sede da competição pela impossibilidade de intervenção policial, que segundo relatos, vêm acontecendo de forma indireta, por meio das rondas policiais nos locais de rima.

Uma outra questão levantada pela organização do evento é o acesso à educação. "Assim, se pode criar essa ponte entre a educação e o Hip-Hop, que é uma possibilidade. A pessoa pode vir rimar aqui sem nunca ter pegado em um livro e descobrir que a UEL tem um cursinho gratuito para quem quiser estudar aqui", Kainan afirma.

Depois do término do evento, todos os MC's participantes almoçaram no Restaurante Universitário gratuitamente.

Imagem ilustrativa da imagem Movimento hip hop de Londrina faz batalha de rimas no RU da UEL
| Foto: Maria Eduarda Panobianco

CONTRA O PRECONCEITO

Uma questão muito presente entre as rimas é a necessidade de provar o próprio valor perante uma sociedade repleta de preconceitos. A marginalização do hip hop é uma questão que se perpetua desde a sua origem, há 50 anos atrás. O estudante de jornalismo e MC, Bruno Trintinella, de 21 anos, reforça que a batalha de rima é um espaço de cultura: "O sistema encara a batalha de rima como se fosse algo ruim, porque não tem coragem de sair de casa e ver como ela realmente funciona, batalha é arte, não somos bandidos nem vândalos, isso é arte."

Dominada pela população negra e muito presente nas ruas, o Slam, que é a batalha de poesias, ainda é alvo de repressão em Londrina. "Às vezes, as rondas policiais vêm e nem fazem abordagem, só ficam parados fazendo pressão e tentando colocar medo na gente", afirma a MC CRZ.

Imagem ilustrativa da imagem Movimento hip hop de Londrina faz batalha de rimas no RU da UEL
| Foto: Maria Eduarda Panobianco

A MULHER NA BATALHA DE RIMAS

Segundo um estudo feito pela Annenberg Inclusion Initiative, da Universidade do Sul da Califórnia, que avaliou as músicas presentes nas tabelas de "100 melhores da Billboard" entre 2012 e 2019, apenas 12,3% das mulheres estão presentes no hip hop, e esse padrão é percebido também no Slam.

A MC CRZ era a única participante feminina da competição, e afirmou que também existe desrespeito contra as mulheres nas batalhas de rima; "São presenciadas muitas cenas de desrespeito, de assédio sexual, não encaram a gente como se estivesse no mesmo nível, a gente tem que correr duas vezes mais que um cara que já é favorito", afirma.

Supervisão: Célia Musilli/ Editora

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