O livro independente "Memórias de um motorista de aplicativo", do escritor e produtor cultural Wilton Mitsuo Miwa, traz 14 crônicas do profissional que atingiu 10 mil viagens em seu primeiro ano de plataforma. Chegou a trabalhar de domingo a domingo por mais de quatro meses, sem folga. Puxou o freio, atingiu 14 mil viagens em três anos e resolveu narrar de forma condensada as tantas experiências ao volante."Isso garante uma leitura dinâmica e divertida", assegura o autor. Na crônica "O garçom e a maquiadora", Miwa elege as brasileiras as melhores maquiadoras do planeta. "Pois não foram poucas as vezes em que testemunhei tal malabarismo e habilidade de passageiras que, sentadas ao meu lado, utilizavam o espelho do para-sol para se maquiar durante o percurso rumo ao trabalho para otimização de tempo", conta. Também foi dirigindo que Miwa descobriu ser um bom garçom. "Ser motorista é servir, é fazer com o que o passageiro sinta-se à vontade, é ser eficiente, educado e prestativo. No fim das contas, a nova atividade foi como descobrir um novo amor, mas sem traição e sem precisar abrir mão de uma delas."

Em dezembro de 2019, o escritor publicou de forma independente um livro intitulado “Memórias de um motorista de aplicativo” e estava muito feliz vendendo sua obra aos passageiros. "Com o isolamento social não tenho exercido a profissão de motorista e tampouco vendido meus livros. O livro está disponível para compra na Amazon, versão impressa e e-book. "Todos nós somos, por conta das circunstâncias, passageiros e condutores da vida, invariavelmente. São papéis que se alternam e nenhum dos dois é menos importante. Ambos requerem alto grau de responsabilidade e comprometimento, independente da pandemia em que vivemos.

"Quando ligo o aplicativo é sempre uma nova aventura, num anseio - quase infantil - de ser surpreendido com uma nova história. Diria tratar-se de uma expectativa instigante e revigoraste.
"Quando ligo o aplicativo é sempre uma nova aventura, num anseio - quase infantil - de ser surpreendido com uma nova história. Diria tratar-se de uma expectativa instigante e revigoraste. | Foto: Divulgação

Dias de chuva e transporte de cães

. "Minha nota é 4.97. Fico feliz quando recebo uma notificação de gorjeta. Muito mais pelo gesto do que pelo valor", diz Miwa que aderiu ao isolamento social há quase três meses para cuidar dos pais com idade avançada - 88 e 76 anos. "É gratificante perceber que alguns passageiros se dão ao trabalho de escrever mensagens elogiosas. Uma estava a caminho do exame da CNH e agradeceu as dicas de direção que eu dei durante a viagem." Apesar dos elogios por escrito não serem nominados, Miwa explica que em alguns casos é fácil deduzir quem foi a pessoa. "Já transportei muitos cães e gatos. Sou amigo da cachorrada, no meu perfil do aplicativo, na aba de curiosidades consta a observação; conversa com cães. Aliás, estou aproveitando o castigo do isolamento social para escrever meu próximo livro: 'Mundo Cão'. Nesse período também tenho me dedicado à fotografia autoral, estou feliz com o resultado. Nem tudo é desgraça durante a pandemia. Todo escritor é, antes de mais nada, um leitor assíduo. Portanto, o prazer da escrita deriva da paixão pela leitura."

O autor conta que não pretende abandonar a atividade por completo. "Quando ligo o aplicativo é sempre uma nova aventura, num anseio - quase infantil - de ser surpreendido com uma nova história. Diria tratar-se de uma expectativa instigante e revigorante. Além do fato de poder vender meu livro aos passageiros que são, antes de mais nada, os protagonistas de minhas histórias. Motoristas ou passageiros, sei que muitos se identificarão. O coronavírus vai passar, não tenho dúvidas. Meus pais vão ficar bem, vou cortar meu cabelo e raspar a barba disforme que destoa de minha pessoa. Vou queimar meu pijama, voltar a trabalhar, interagir com as pessoas e vender meu livro pessoalmente, entregue em mãos, face a face, olhos nos olhos", aposta.

O ponto de partida

A ideia de escrever o livro ocorreu logo no meu primeiro dia de atividade quando Miwa pegou um passageiro que durante a viagem inteira foi empunhando uma pistola calibre 380. "Numa breve conversa descobri que o sujeito estava jurado de morte e apesar da situação um tanto quanto suspeita, o sujeito foi sempre cordial e em momento algum me senti ameaçado. Ao final da viagem, o passageiro até se desculpou ao saber ser meu primeiro dia como motorista. Fiz entender que estava tudo bem e em tom de brincadeira disse que não é todo dia que alguém trabalha escoltado". E reflete: "Entendo que numa situação como essa muitos teriam desistido da atividade, mesmo se tratado de um caso isolado ou de uma excessiva sorte de principiante, digamos assim. Mas eu pensei, se o primeiro dia foi assim, o que mais estará por vir? E não sei se fiquei mais empolgado com a possibilidade de escrever um livro ou se o meu entusiasmo foi pelo vislumbre do que ainda viria pela frente, provavelmente ambas as coisas.

Sobre o autor

Fotógrafo de rua, caçador de imagens, pratica a atividade há quase trinta anos e possui várias premiações no segmento fotográfico, sendo autor de projetos nessa área. Entre alguns destaques, publicou, no ano de 2005, o documentário fotográfico intitulado "Vidas passageiras". Em 2015, atuou como palestrante, aliando a fotografia ao discurso verbal, envolvendo 8.118 crianças num amplo trabalho de fomento à cultura ciclística e prevenção ao consumo de drogas. Aventureiro, residiu por muitos anos no Japão e percorreu o país inteiro utilizando uma bicicleta como meio de transporte. Numa jornada solitária, passou por todas as 47 províncias japonesas, pedalou mais de 15 mil quilômetros e produziu um acervo com mais de 10 mil fotografias da chamada Terra do Sol Nascente. Coleciona números, embora admita não gostar de matemática. É um contador de histórias que decidiu tornar-se escritor.

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. | Foto: Reprodução

Serviço:

“Memórias de um motorista de aplicativo”

Editora: Independente

Preço: R$15,00

Contato com o autor: (43) 9 9645-2137

O livro está à venda na Amazon