Com um público de cerca de 150 pessoas, o filme "Le Mépris" (O Desprezo), de Jean-Luc Godard, foi exibido neste sábado (29), em Londrina, em sessão única.

Uma plateia jovem misturou-se a pessoas maduras que possivelmente assistiram aos filmes de Godard nos anos 1960, no mesmo Cine Villa Rica, e agora voltam para rever os clássicos da Nouvelle Vague.

LEIA MAIS:

Londrina recebe mostra com cópias restauradas dos filmes de Godard

Entre o brilho e as intrigas, série sobre Xuxa é campeã de audiência

Le Mépris é uma produção franco-italiana de 1963, baseada na novela "O Desprezo", de Alberto Moravia, que levou ao cinema um elenco de peso: Jack Palance, Michel Piccoli, o lendário diretor alemão Fritz Lang, no papel dele mesmo, e Brigitte Bardot no auge de sua beleza. Eles contracenam num enredo que tem como tema de fundo a "Odisseia", de Homero, entremeada com a história de um casal em crise. Camille (Brigitte Bardot) e o roteirista Paul Javal (Michel Piccoli) formam o par contemporâneo que remete às aventuras de Ulisses e Penélope, tendo como ponto de conflito a questão da fidelidade conjugal, tratada tanto sob o ponto de vista do clássico grego - afinal, Penélope resistiu mesmo aos pretendentes na ausência do marido?- e os personagens que vivem uma relação amorosa no filme.

Considerado uma das obras-primas de Godard, a produção traz ainda uma crítica ao cinema americano em contraposição ao cinema europeu - especialmente o francês - com seus diálogos longos, instigantes, muitas vezes ácidos e irônicos. Le Mépris também transforma a nudez de Brigitte Bardot num poema cinematográfico, utilizando ainda as cores da França: azul, vermelho e branco, para compor com esses e outros elementos - como as cenas de mar infinito - uma estética cheia de referências e citações.

Camille (Brigitte Bardot) e Paul Javal (Michel Piccoli) em cena de "O Desprezo"
Camille (Brigitte Bardot) e Paul Javal (Michel Piccoli) em cena de "O Desprezo"

As sessões da Mostra contam com um bate-papo ao final, os convidados deste sábado (29) foram a jornalista e escritora Layse Barnabé e o professor do Departamento de Letras da UEL Gustavo Ramos, com mediação de Rodrigo Grota.

Para um sábado frio e cheio de estreias que atraem centenas de pessoas a outras salas de cinema para ver "Barbie" e "Oppenheimer" , por exemplo, o renascimento do Villa Rica como espaço multicultural e do cinema de arte, com bom público na cidade, dá a medida da versatilidade do espectador londrinense.

A iniciativa do Mostra Godard que segue até 19 de agosto, sempre aos sábados, é uma parceria da produtora londrinense Kinopus e do Espaço Villa Rica, com o apoio da Cinemateca da Embaixada da França, do Institut Français e da Aliança Francesa de Londrina. Os filmes exibidos são cópias restauradas e legendadas, os ingressos custam R$ 12 no site do Villa Rica ou na bilheteria.