A consciência negra não se limita a uma data no calendário, nem se encolhe em um mês do ano. O valor cultural da cultura afro transcende o óbvio e a história é prova do protagonismo de artistas - na música, na literatura, nas artes plásticas ou na dança, grandes ícones trazem alegria, reflexão, entretenimento e educam a todos por meio de seus trabalhos.

Agenor Evangelista: artista londrinense enfoca o aspecto inclusivo e de reflexão na Mostra  Afro Brasileira Palmares que está em sua 36ª edição
Agenor Evangelista: artista londrinense enfoca o aspecto inclusivo e de reflexão na Mostra Afro Brasileira Palmares que está em sua 36ª edição | Foto: Walkiria Vieira - Grupo Folha

O artista plástico londrinense Agenor Evangelista da Silva é uma referência sobre a construção da história e acervo da Mostra Afro Brasileira Palmares, que está em sua 36ª edição ininterrupta. O talento, a resistência, a sede de produzir e passar adiante seus conhecimentos são algumas das qualidades de Evangelista.

Desde os tempos em que a Universidade Estadual de Londrina recebeu o então estudante de arquitetura, Evangelista imprime sua marca e seu reconhecimento ultrapassa fronteiras. Com identidade, o presidente de honra do IMECAB- Instituto do Movimento de Estudos Da Cultura Afro-brasileira, dá o ar da graça na exposição de artes plásticas instalada na Biblioteca Pública Municipal de Londrina Pedro Viriato Parigot de Souza. As obras seguem expostas até 10 de dezembro.

A exposição integra o Mês da Consciência Negra, já que novembro é dedicado a ações que celebram a cultura afro, assim como abarca debates que enriquecem a visão acerca do papel dos negros e da sociedade frente a temas que incluem mercado de trabalho, diversidade e respeito. "É estranho acreditar que nos tempos de hoje ainda existam preconceito e discriminação, isso nem deveria ser discutido, mas a Mostra, que tem um papel inclusivo, também se coloca para refletir, discutir e pesquisar sobre história do negro", expõe Evangelista.

O artista acredita ainda que a arte é tão essencial para a vida como o oxigênio e o evento contribui também para abrir espaço para novos artistas e dar a chance de a sociedade conhecê-los. "Provocamos discussões de modo sutil e nesses 36 anos mostramos que somos inclusivos e totalmente avessos à segregação - por isso o IMECAP sempre manteve pessoas diferentes nacionalidades e origens em sua formação.

O presidente do Instituto, Vagner Nogueira destaca o empreendedorismo negro em todas as sociedades e convida também para a 1ª Feira Quilombo Cultural de Afro Empreendedoras, que será realizada até o dia 10 na frente da biblioteca. "Sabemos do papel da mulher na sociedade e a mulher negra também é uma grande geradora de renda dentro de casa e se esmera tanto junto a seu núcleo familiar como no mercado de trabalho". Nogueira enfatiza que o olhar da feira está voltado para os problemas sociais atuais. "É uma extensão da mostra e pretendemos incentivar ainda mais o empreendedorismo entre as mulheres e suas famílias".

BIBLIOTECA

Nessa mostra, o visitante tem a oportunidade de conhecer duas obras de Evangelista. Uma intitulada Morena da Feira" e ao lado "Esperando Você". A feirante e a prostituta são inebriantes. Uma usa chapéu na cabeça. A vizinha, uma flor. As mulheres de Evangelista são fortes. As mãos habituadas a carregar o fardo e o tronco desenvolvido sinalizam que são trabalhadoras. Mais do que uma referência ao pintor brasileiro Di Cavalcanti, que pincelava influenciado pelo cubismo e realismo, Evangelista traz cenas do cotidiano coloridas e graciosas. Sem saturar, convida e descansa o o olhar.

"Morena da Feira", de Agenor Evangelista
"Morena da Feira", de Agenor Evangelista | Foto: Walkiria Vieira

Nas outras paredes da Sala de Exposições José Antonio Teodoro, há obras de Alexandre Melo, de Campinas - em um gesto de reconhecimento a arte alheia. Destaca-se ainda uma sala dedicada ao artista plástico londrinense Jaja Belluco, falecido em maio deste ano, vítima de Covid-19. As 12 obras de Jaja estão à venda e representam um pouco da capacidade de ir além do lugar comum - sua capacidade de elevar a natureza no universo das artes plásticas.

A bibliotecária e diretora do Sistema de Bibliotecas da Secretaria Municipal de Cultura (SMC), Leda Araújo, sente-se satisfeita ao receber uma instalação desse nível na biblioteca central e pensa que esse é um espaço para inclusão. "A música, a contação de histórias e outras exposições comoas fotográficas só tornam a biblioteca um espaço para valorização de difusão cultural. Por isso estamos sempre dispostos a conhecer os projetos e a recebê-los". Atualmente, a biblioteca está montando duas exposições permanentes: uma sobre cultura afro e outra sobre a cultura indígena. Cada uma já ganhou uma sala, a montagem está sendo realizada e logo estarão disponíveis para visitação.

Jorgeane Borges, J.Inácio, Leo Portes, Carão, Koreta, Napa, Regina Mello integram a mostra.

Serviço:

36ª Mostra Afro Brasileira Palmares Londrina

Quando: até 10 de dezembro

Onde: Biblioteca Pública Municipal de Londrina Pedro Viriato Parigot de Souza. (Avenida Rio de Janeiro, 413)

Saiba mais em https://www.imecab.com.br/

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