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Folha 2 5m de leitura

'Morte no Nilo": águas turbulentas nos cinemas

Adaptação da obra de Agatha Christie, filme que tem uma encenação clássica e conservadora merece ser assistido

ATUALIZAÇÃO
23 de fevereiro de 2022

Carlos Eduardo Lourenço Jorge/ Especial para a FOLHA
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem 'Morte no Nilo": águas turbulentas nos cinemas

Que início de temporada para o diretor e ator norte-irlandês Kenneth Branagh! Começou a todo vapor há duas semanas, ficando muito bem colocado entre os indicados ao Oscar – Melhor Filme, Diretor e Roteiro Original, as categorias mais importantes – mas por “Belfast”, seu filme autobiográfico focado nas vicissitudes de um menino e sua família de trabalhadores na capital da Irlanda do Norte durante a agitada década de 1960 (estreia somente nas salas brasileiras em 10 de março). E ele continua na ordem do dia com o lançamento mundial de “Morte no Nilo”, várias vezes adiado devido à pandemia e outros motivos paralelos, em que assina a direção e interpreta o detetive particular belga Hercule Poirot, uma dupla função que já tinha assumido em 2017 em “Assassinato no Expresso do Oriente”, ambos adaptados de obras famosas de Dame Agatha Christie.

Tanto no trem suntuoso (“Expresso do Oriente) como a bordo do requintado barco a vapor singrando o Nilo (batizado de “Karnak”), é grande a lista de suspeitos com histórias variadas que poderiam ter motivado os crimes. Expert nº 1 no metiê, Agatha Christie adorava o molho de especiarias feito de humanidades débeis ou apenas perversas. E o cinema seguiu este menu, para o melhor e para o menos ruim. Esta adaptação da peça conduzida por Branagh compete com a de John Guillermin feita em 1978 e, por confronto, a situação não alcança o equilibrio. O Poirot de Peter Ustinov era uma autêntica jóia, e o filme foi grande sucesso quase exclusivamente por sua atuação e do elenco sublime que o acompanhou. Ainda hoje, 44 anos depois, é obra altamente recomendável. E as comparações terminam aí.

A encenação de Branagh é respeitosa e clássica a ponto de ser um pouco desatualizada; ele é fiel ao espírito do texto, mas ao mesmo tempo essa nobreza de intenções transforma a história numa experiência um tanto esquemática e conservadora, embora divertida aqui e ali. Já os maneirismos de Poirot são bem desfrutáveis, e Branagh se sai bem melhor como protagonista do que como diretor, afinal o filme pode ser visto sem problemas, suas duas horas e alguns minutos voam. Mas toda vez que a câmera se vira e revela Poirot, é momento para esfregar as mãos.

Confira o trailer de Morte no Nilo

Mas as fissuras na narrativa são perceptíveis em um elenco lutando para se harmonizar – convivem intérpretes de origens, gerações e estilos muito diversos : além da presença de Branagh como maestro atrás e na frente da tela, o elenco inclui os complicados Armie Hammer e Gal Gadot, uma desperdiçada Annette Bening, Tom Bateman, Ali Fazal, Russell Brand, Sophie Okonedo (bela voz de blues. a dessa escocesa), Letitia Wright e Dawn French (saudades daqueles ensembles de Expresso e Nilo, 78 e 74; confiram a memória, por favor).

Assim, com altos e baixos apontados, “Morte no Nilo” é simultaneamente convincente e limitado. Ah, e a história da origem do extravagante moustache de Poirot tem lá o seu charme. Detalhe que a velha raposa Agatha não imaginou.

"Morte no Nilo": estreia mundial, o filme tem um elenco bastante heterogêneo, com pessoas de várias gerações e estilos diferentes
 

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