MOLHO - Maria de Los Angeles De Londrina
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 07 de janeiro de 2000
MOLHO
Maria de Los Angeles
De Londrina
GeladeirasPrateleiras geladas encerradas em armário que habitam nossas cozinhas. Eletrodoméstico imprescindível onde guardamos os alimentos que desejamos conservar.
Reveladoras do que se passa numa casa - seja fartura, seja avareza, seja falta de recursos - elas estão lá, matronas, com pinguim em cima ou não. É muito interessante observar o interior de uma geladeira nestas festas de passagem de ano, principalmente depois do festim. Geladeira também fica de ressaca. Guardar os restos da festa dentro dela torna-se quase uma equação matemática, o carneiro resfriado revela toda sua gordura branca, mesmo tendo sido devidamente lipoaspirado antes de temperar. A linda mousse, derrete-se, já em plena decadência, e as frutas brigam numa mistura de odores que, para quem levantou de ressaca, pode ser nauseante. Tudo isso ela suporta humildemente, gelando sem preconceitos e com persistência nossa água e cerveja de cada dia. Um bom exorcismo com pano, água e bicarbonato de sódio a fará readquirir novamente a dignidade e limpeza dos dias comuns. Gelatina multicolorida em taças a fazem feliz e a nós também. E para completar pregue em sua porta exterior fotos, poesias ou receitas de que goste muito. Os ímãs de geladeira a transformam no melhor mural da casa. Provavelmente vai ficar um tanto quanto kitsh, e revelar de maneira nada sutil o interior e exterior do seu, seus donos. Em cozinhas planejadas ou mesmo sem planejamento algum, a geladeira sempre vai ser o acessório gélidamente correto, e no entanto, o mais humano. Ah! Se minha geladeira falasse!
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