Três dias, 18 desfiles e Naomi Campbell em dose dupla. No QG da moda brasileira - a Bienal de São Paulo, que abriga a São Paulo Fashion Week -, o final de semana fashion começou sofrendo de amor com Ronaldo Fraga na sexta-feira e terminou no domingo com a Osklen sugerindo o skate como veículo urbano. A salada mista de estilos e propostas para o inverno 2004 termina hoje com o encerramento da São Paulo Fashion Week, que, acreditem, conseguiu até parar o trânsito da cidade.
No domingo de manhã, o desfile de Marcelo Sommer conseguiu o que parecia impossível, parar, mesmo que por algumas horas o vaivém de carros e pedestres na Rua Augusta, das mais disputadas. Sombrinhas e copinhos de água foram distribuídos para tentar acalmar o calor das 11 horas. Na passarela-rua, o lenhador urbano inspira os xadrezes de lã que estão nas bermudas, casacos e até no vestido tomara-que-caia.
Inverno, mas nem tanto. Tanto é que em suas duas participações, a modelo Naomi Campbell apareceu mostrando muito bem as formas perfeitas. De maiô verde para a Rosa Chá e apenas de jaqueta curta para Eduardo Suppes. Fez apenas uma entrada para cada uma das grifes, mas já está virando mesmo prata da casa. Fez até mais aparições que Gisele Bundchen.
E no quesito participações especiais, a Cavalera, agora com renovada equipe de estilo (a estilista Thaís Losso foi para a Zapping), teve em sua passarela o roqueiro Sergei (vestindo uma impagável camiseta Eu Comi Janis Joplin), Monique Evans e Elke Maravilha. O clima de diversão segue para a grife que dá a dica para o inverno: ''all we need is love'' (tudo o que precisamos é amor.
Isso porque o quando as temperaturas diminuírem (pouco), os românticos anos 1920 prometem estar nas ruas e vitrines, com pitadas das décadas seguintes, como 1930 e 1940. Nessa linha, pérolas e mais pérolas para as colegiais da Vide Bula, que relembra os tempos de escola para mostrar os uniformes e as atitudes rebeldes de outrora.
Um videoclipe antigo de Madonna (a balada ''Take a Bow''), inspira a Alphorria das saias justas e cinturas marcadas. Já para Jum Nakao, as formas vão se perdendo após sobreposições e mais sobreposições de vestidos. É a grande sacada para o inverno tropical. Nada de casacos muito pesados, mas várias camadas. O estilista ainda brinca com o utilitário e transforma uma mesma peça em outras duas.
Para a Iódice, a idéia é abusar dos cristais negros em colares longos de muitas e muitas voltas, bem melindrosa. Ainda no quesito, Lino Villaventura coloca as franjas dos vestidos de 1920 nos xales, que já se tornaram objeto do desejo de muitos fashionistas.
Além das tendências de moda, que trazem também as peles - Reinaldo Lourenço aposta com propriedade nas peles de coelho e no couro de avestruz -, esta edição da SPFW que termina hoje também parece que aponta para as questões regionais. Foi o governo de Pernambuco que apoiou a participação especial de Lourdinha Noyama, conhecida por vestir a mulher de Pelé, Assíria e por seu trabalho de tecidos artesanais. Os governadores Aécio Neves (MG) e Cássio Cunha Lima (PB) assistiram desfiles. O gaúcho Mareu Nitschke até que tentou um patrocínio do estado natal, mas não conseguiu. Mesmo assim não desistiu de bancar a idéia: uma coleção toda inspirada nas suas raízes.
A jornalista Karla Matida viajou a São Paulo a convite da organização do evento.