MIS lança o livro e a mostra "Brasil 500 anos"13/Mar, 15:33 Por Janaína Rocha São Paulo, 13 (AE) - Se, após 500 anos, o Brasil não tem tantos motivos para comemorar, pelo menos este momento possibilita-nos o importante exercício da reflexão. Muitos projetos culturais, que serão apresentados nesse período de comemorações, estão tendo essa válida função. Um deles é a realização da exposição "Brasil 500 Anos" e o lançamento do livro homônimo, que estarão à mostra amanhã (14), às 20 horas, no Museu da Imagem e do Som (MIS). Durante 24 horas, cem fotógrafos registraram a cara do Brasil de 500 anos. Eles se aventuraram pelo território nacional para mostrar como é o cotidiano do cidadão. Esses profissionais documentaram cenas que ocorrem nas horas de trabalho, nos momentos de lazer e nas situações individuais de pessoas comuns. A idéia do projeto surgiu em 1994, quando a fotógrafa Paula Simas, que é coordenadora do projeto, participou de um projeto semelhante no Equador. Lá, 38 fotógrafos de diferentes nacionalidades foram convidados para retratar o País, num mesmo dia. De volta ao Brasil, em 1996, ela se propôs a fazer algo semelhante. No dia 22 de abril do ano passado, cem entre os mais conceituados fotógrafos brasileiros estiveram vasculhando o Brasil. O resultado foi 61 mil fotos. A partir daí, foi feita uma edição realizada em duas etapas para que se chegasse às 200 imagens - às quais foram agregadas legendas feitas sob a coordenação da jornalista Ilara Viotti, que situam o personagem e a cena fotografada - presentes no livro. Todos os fotógrafos tiveram liberdade para captar cenas interessantes, desde que as imagens fossem do cotidiano do brasileiro 500 anos depois do descobrimento. Assim, cinco séculos foram documentados, de norte a sul do País, por meio do modo como o brasileiro vive, trabalha, passa seus momentos de lazer e se expressa culturalmente. A idéia de vários profissionais fotografando nas mesmas 24 horas não é inédita. Vários livros já foram produzidos com essa mesma idéia, como, por exemplo, o "Pepsi Day", um livro editado pela Pepsi-Cola. Pajé - Jovelina dos Santos é a imagem da capa. É uma mulher de 77 anos. Ela é parteira desde muito jovem, em Ponta Grossa do Piriri, lugarejo a 130 quilômetros de Macapá, no Pará. Além disso, Jovelina é uma espécie de pajé do local, pois sabe diagnosticar e tratar os males do corpo com as ervas que cultiva no quintal de casa. Essa cabocla da Amazônia foi retratada pelas lentes da fotógrafa Eneida Serrano, que soube descobrir que somos também Jovelina. Muitas imagens foram capturadas à custa de grandes aventuras. Entre os fotógrafos convidados estavam gente como Walter Firmo, Antônio Ribeiro (cobriu a guerra na Iugoslávia) e J. Bulcão (veio da agência Gamma de Paris). Somos ainda a imagem do rendeiro pernambucano João Elias Espínola, de 66 anos, que costuma costurar ao lado do avô da menina Iranilda. Essa foi uma das poucas saídas encontradas pelos dois para não passar fome, já que o trabalho na roça não garantia o alimento, pois a colheita quase inexistia em função da seca. A foto foi feita por Marlene Bérgamo. Somos também a imagem do forneiro Damião Nascimento, registrada por Giovanni Sérgio. Ele trabalha em uma fornalha nos mesmos moldes insalubres criados há 400 anos no engenho Mucuripe em Ceará-Mirim, no Rio Grande do Norte (RN). Somos os quase extintos índios avá, que vivem no extremo norte de Goiás e foram encontrados pelas lentes de Walter Sanches. A imagem árida, feita por Rosa Gauditano, da seca da cidade de Soledade, na Paraíba, onde a água com alta salinidade só existe em poços, é um pouco do que somos. No entanto, também somos a beleza das cores dos fios de algodão tingidos, utilizados para tecer redes e mantas, na cidade de Jardim de Piranhas (RN) - foto de Cynthia Brito. O projeto teve o patrocínio da Fuji, Petrobras, CSU Card System, AGF Brasil Seguros, Telebrasília, Eletrobras e Gráfica Ipiranga. Serviço - "Brasil 500 anos". De terça a domingo, das 14 às 22 horas. MIS. Avenida Europa, 158, tel. 852-9197. Até 16/4.