A carreira de Milhem Cortaz tem sido marcada por filmes focados na marginalidade, como ''Carandiru'' e ''Tropa de Elite''. Agora, ele volta à telona protagonizando uma história de amor e luta, com pitadas de violência psicológica. Em ''Lula, o Filho do Brasil'', de Fábio Barreto - orçado em 12 milhões e com estreia prevista para janeiro de 2010 - o ator interpreta o polêmico Aristides, pai do Presidente da República, que foge do sertão de Pernambuco com outra mulher para tentar a vida como estivador no Porto de Santos, em São Paulo.
Para conhecer melhor o patriarca dessa história real, Milhem - que já conhecia o livro homônimo da historiadora Denise Paraná no qual o longa é baseado - e o elenco do filme participaram de um churrasco com a família de Lula, em São Bernardo. ''Fiquei impressionado com a energia e coragem dessa família. Todos sabem menos do seu Aristides do que gostariam. E isso me possibilita surpreendê-los'', conta Milhem.
Ele atua ao lado de Glória Pires - que vive dona Lindu, mãe de Lula - e já rodou as sequências nos municípios nordestinos de Caetés, Capoeiras e Recife. ''A Glória é generosa em cena. Algumas vezes eu tinha a impressão de fazer tudo errado, mas ela me conduzia bem. Se me emocionou, creio que devo tocar o público e também o presidente.''
Segundo Milhem, a mais importante contribuição para conceber seu personagem foi a conversa que teve com Lula. Só então o ator compreendeu que um misto de dor e medo fizeram desse homem simples um símbolo da cidadania brasileira. ''O Lula me disse que seu pai, alcoólatra e mulherengo, era frio e distante, mas não deixava faltar nada em casa. Pode ser difícil de compreender, mas na dureza do sertão, isso é o máximo do amor.'' Ele lembra que foi graças à fé e à determinação da matriarca que Lula aprendeu a ir à luta e a não se lamentar da vida. ''Ele me disse que o pai o fez entender sua relação com a ditadura. Mas garante que seu destino político se deve à decisão de seu Aristides de ter vindo para São Paulo. Isso mudou seu destino.''
Parte das filmagens de ''Lula, o Filho do Brasil'' - que contaram com 3 mil figurantes e 120 atores com fala - aconteceram paralelamente às gravações da novela ''Chamas da Vida'' (Record), na qual representa o bombeiro Cazé, impedindo Milhem de acompanhar a gravidez da mulher, a atriz Ziza Brisola, e o crescimento da filha. ''Vivo uma daquelas boas coincidências da vida. Há muito tempo, eu queria fazer um filme humano. E fui presenteado com esse pai justamente quando deixei de ser homem para me tornar pai. E essas sensações me ajudam a criá-lo'', confessa o ator. Mas ele diz que sofre com a distância da família. ''Adoro o que faço, mas sonho poder ficar um tempo em casa, curtindo o crescimento da minha filha. Agora, entendo que, apesar de distante, seu Aristides deveria querer bem o filho. E ficaria orgulhoso em saber que o Lula se tornou um dos governantes mais populares do País.''
Entre os projetos do ator para o segundo semestre está o espetáculo ''Boca de Ouro'', sucesso de Nelson Rodrigues, que narra a trajetória do bicheiro de Madureira que paga uma fortuna para trocar todos os dentes perfeitos por pivôs de ouro. ''Este ano, a peça completa 50 anos de existência e já me sinto maduro o suficiente para protagonizá-la. Quero fechar esse ciclo de malandros na minha carreira com o supra-sumo desses personagens'', diz Milhem. Ele também fala que o Brasil deveria investir mais em roteiristas. ''Temos poucos roteiristas para a demanda. Precisamos abrir debates e buscar novas ideias. Está na hora do cinema falar de amor.''