No mês de celebração do movimento hip hop, Londrina recebe o mestre dos toca-discos Kleber Simões, o DJ KL Jay. O integrante do Racionais MCs - um dos grupos mais expressivos não só do rap como da música brasileira - retorna à cidade na sexta-feira (19) agitando a pista de dança com uma apresentação intimista.

O DJ KL JAY chega a Londrina no mês de celebração do movimento hip hop, ele já esteve na cidade outras vezes
O DJ KL JAY chega a Londrina no mês de celebração do movimento hip hop, ele já esteve na cidade outras vezes | Foto: Divulgação

O DJ já fez apresentações solo e com o grupo em terras londrinenses, sendo a última delas em março de 2019. Seu retorno não só gera entusiasmo nos que acompanham KL Jay há tempos e estão há alguns anos sem vê-lo tocar, como anima novos admiradores. ‘’O público vai se renovando. Tem muita gente jovem que antes não podia sair de casa e hoje pode, acontece uma renovação constante do público, é legal’’, conta o artista.

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Pioneiro das pick-ups brasileiras, produtor musical, artista e militante, KL Jay é dono dos álbuns ‘’KL Jay KL Jay na Batida - Vol III’’, seu primeiro disco lançado em 2001, ‘’Rotação 33’’, de 2018, com 24 faixas agrupadas em uma mixtape (compilação referente as fitas cassete) e ‘’Na Batida, Vol. 2 (No Quarto Sozinho)’’, de 2018, onde reuniu 33 MCs de vários estilos do rap sobrepondo suas batidas e mixagens.

Dos 53 anos de vida de KL Jay, 35 estão envolvidos na arte dos discos. O paulista decidiu pela profissão quando, em meados dos anos 80, viu um DJ norte-americano fazer scratches (os ‘’arranhões’’ no vinil que produzem som) com ‘’Você Mentiu’’, música do Tim Maia. Em 1988 se uniu à Mano Brown, Edi Rock e Ice Blue, dando início ao Racionais MCs. 33 anos depois, o grupo é referência na música para o Brasil e outros países.

TURNÊ PELOS EUA

Em julho, os quatro artistas celebraram três décadas de existência do grupo em uma turnê pelos Estados Unidos com seis shows. De volta ao Brasil, KL explica que a globalização facilitou o acesso das pessoas ao seu trabalho. ‘’A arte não tem fronteiras, quando ela é bem feita não tem fronteiras. Agora fica mais fácil o acesso, chegar aos lugares, todos conseguem ver a gente trabalhando’’, aponta. Ainda assim, embora ‘’a arte de arrastar multidões’’ esteja presente em sua carreira, o DJ prefere trabalhar em espaços mais intimistas.

‘’No lugar menor você concentra mais as pessoas, o som bate melhor. A acústica é melhor. A energia se concentra mais em um lugar fechado’’ detalha KL acrescentando que, esses espaços, têm ‘’uma potência de interação com o público, uma troca de energia intensa’’.

Para ele, priorizar as boas energias é muito importante não só durante como antes da sua apresentação. ‘’Eu gosto de lavar as mãos como se fosse uma cirurgia. Um quiropraxista falou isso pra mim: ‘antes de tocar, não só se alongue como lave as mãos, você precisa estar com as mãos limpas!’. É uma coisa de energia com os discos’’, ressalta.

Dos 53 anos de vida de KL Jay, 35 estão envolvidos na arte dos discos
Dos 53 anos de vida de KL Jay, 35 estão envolvidos na arte dos discos | Foto: Divulgação

NA CONTRAMÃO DA INDÚSTRIA

Em um mundo de inovações e equipamentos de última geração, KL não abre mão do tradicional toca-discos. ‘’Toca-discos sempre!’’, destaca e afirma que, para ele, o verdadeiro DJ trabalha com os vinis e o mixer. ‘’É igual jogar bola: o futebol evoluiu com o passar do tempo, mudaram as táticas, os estádios e os salários, mas o jogador continua correndo atrás da bola’’, comenta.

KL Jay critica a indústria quando o assunto é desvalorização do papel do DJ. Para o artista, a intenção do mercado é produzir aparelhos menores e com mais tecnologia até que ‘’o equipamento toque por si só’’ e o DJ se torne obsoleto. ‘’Tudo se resume na abreviação do DJ que é disc-jockey, controlador de discos. Eu acredito que a indústria quer acabar com esse DJ real, que o nome remete a essa tradução’’, detalhou.

Por esta razão o artista se posiciona pelo cultivo dessa arte elementar da cultura hip hop. ‘’Eu estou na resistência, eu e mais DJs estamos na resistência, não tem como acabar. Muitos shows hoje não são feitos mais com toca-discos, vários MCs não estão preocupados em ter um DJ, estão preocupados em fazer show e ganhar dinheiro’’, afirma e reforça ‘’Ser DJ é uma arte e arte tem que ser mostrada e preservada, estamos na contramão do que a indústria quer’’.

‘’O BRASIL NÃO GOSTA DE NÓS’’

Por mais que o Racionais MCS seja recorrentemente lembrado e reconhecido no país, KL Jay afirmou em um podcast que o grupo ainda é perseguido no Brasil, tanto pelo que o grupo representa racial e socialmente quanto pela perseguição ao hip hop.

Para a FOLHA, o artista explicou sua afirmação. ‘’É só você ver pela tv, pelas rádios, não existe uma rádio de hip hop no Brasil! Nem São Paulo, por exemplo, mesmo sendo o maior centro comercial. É uma música culturalmente perseguida! Aqui nós temos rádio pop, de música brasileira, rock e a gente vai contra o que está instituído.

KL também comenta o contraste do grupo ser perseguido e ainda assim ser referência, amado e odiado ao mesmo tempo. ‘’Chega a ser contraditório. Racionais MCs é o grupo mais expressivo do Brasil. E esse nome, essa representação é reflexo do talento, da musicalidade, da postura, é a contradição do Brasil, do que o Brasil é’’, conclui.

Supervisão: Célia Musilli/ Editora

SERVIÇO

KL Jay na Festa Cilada

Quando: Sexta-feira (19), às 20h

Onde: Oloobar (Rua Paranaguá, 850, Londrina)

Quanto: R$35 (até às 21h) e R$50 (depois das 21h)

Ingressos à venda somente na portaria do evento

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