Manusear as páginas de "Nos tempos do Gimenez", de Fernando Antonio Prado Gimenez, é uma oportunidade de descobrir, valorizar e conhecer um recorte de um período rico da história de Londrina. Sobre como as pessoas viviam, as crianças brincavam e como as relações se davam com tanta proximidade no ato de fazer compras.

Sim, o livro se passa em torno do Mercado Gimenez - um dos primeiros da cidade, e recorda seus clientes, funcionários e até um modo de trabalho que não tinha o nome de delivery - mas os pedidos realizados pelo telefone fixo e as entregas feitas em casa, já eram prática do mercado da família do mesmo nome desde sua instalação, no final da década de 60. Em 1984, o estabelecimento foi vendido.

Terceiro dos quatro filhos, Fernando Antonio Prado Gimenez é professor de Administração da UFPR (universidade Federal do Paraná), viveu intensamente a rotina do comércio e não guardou para si tudo o que viu. Sem pressa, mas com o espírito curioso, o leitor é convidado, já no sumário, a conhecer as 25 crônicas e criar sua própria ordem de leitura ou seguir o autor e suas memórias registradas nas 60 páginas do livro.

Em "- Zezinhoooo, vai lá no Gimenez", o escritor reforça que muitos filhos e filhas de diferentes nomes de batismo atendiam a esse chamado. Uma caixa de sabão, uma lata de óleo cinco pães e um litro de leite, eram alguns pedidos que os adultos confiavam às crianças. "Fala para o Seu Christovam ou para Dona Kilda marcarem. Depois eu passo lá e pago", adiantavam. A crônica é de 2012. "É meu primeiro texto sobre o mercado e para mim é emocionante, pois minha mãe ainda era viva", diz.

Desde que a pandemia eclodiu, o professor passou a trabalhar de modo remoto e encontrou uma oportunidade de colocar no papel mais sobre o mercado da família. "Decidi lançar no dia do meu aniversário, em maio, e publiquei uma foto no Facebook. Um monte de gente pediu o livro. A proposta já era essa, presentear as pessoas e não vender." Com experiência em seu blog https://brevestextos.blogspot.com/, Gimenez trouxe também para o seu livro textos já publicados sobre empreendedorismo. Do ponto de vista do autor, nesse contexto, uma pequena empresa, que existiu por algumas décadas no mesmo local, deixa de ser apenas um espaço de trocas comerciais. "E torna-se um lugar onde laços de amizade e companheirismo se formam e permanecem", reflete.

PARA RECORDAR HISTÓRIAS

Livro com edição limitada tem distribuição gratuita
Livro com edição limitada tem distribuição gratuita | Foto: Divulgação

Na capa com imagem sépia, a fachada do mercado. Duas portas de ferro e janelas amplas com grades que davam mais luminosidade ao interior da unidade. Aparecem na foto também um fusca, uma kombi e logomarcas consagradas até os dias de hoje. O toque de nostalgia cabe e assim como as fotos do miolo, todas em preto e branco, permite que as pessoas se reconheçam e se sintam parte de um tempo especial não só para a família Gimenez. Pipoca, o cachorro que olhava para os dois lados da rua antes de atravessar, está entre os personagens divertidos.

Era ali na rua Paranaguá numero 1120, cruzamento com a Goiás, que o londrinense passava a maior parte do dia. "Eu observava", descontrai. Os amigos da filharada eram bem-vindos e seu Christovam tinha até um baleiro que era para agradar as crianças que fossem acompanhadas dos pais. Os amigos de Fernando e de seus irmãos batiam ponto no local. "E se gabam até hoje dos doces que levaram na mão grande", recorda o escritor que me 1981, antes de o mercado ser vendido já estava inclinado para a docência.

O aspecto envelhecido vai até a contracapa. "Sonhos não envelhecem", diz a canção de Márcio Borges e a última crônica registrada na obra trata sobre o sonho de dona Kilda de erguer um galpão no jardim Itamaraty, a caminho da UEL. Seria uma filial do mercado. Um sonho não realizado é o título da crônica. Com a reprodução da planta e um texto que expõe todo o afeto pelos pais, o autor despede-se mas avisa que as memórias o perseguem e a qualquer momento podem ser motivadas. É o que os leitores já esperam, mais crônicas sobre a porta que começou com secos e molhados e tornou-se um lugar para se sentir em casa.

Serviço:

Nos Tempos do Gimenez -

Autor: Fernando Antonio Prado Gimenez

Tiragem limitada

Valor: Gratuito

Pedidos pelo email: [email protected]

Editora: Bétula