Imagem ilustrativa da imagem MENTIRA OU VERDADE - 'A Forma da Água' vira objeto de zoeira
| Foto: Fotos: Reprodução
‘A Forma da Água’ faz referência a um mito amazônico que também figura no filme ‘O Monstro da Lagoa Negra’ (no detalhe); mas a história de uma pornochanchada ter influenciado filme de Del Toro é puro boato ou ‘zoeira’



No dia seguinte à cerimônia do Oscar, realizada no domingo (4), enquanto o mundo repercutia a vitória de "A Forma da Àgua", de Guillermo Del Toro, como melhor filme de 2017, o perfil do Twitter MarchaDaHistória (@MarchaHist) repercutiu: "O filme 'A Forma da Água', vencedor do #Oscar2018, é a refilmagem de uma pornochanchada brasileira chamada 'O Pirarucu Tarado e a Mudinha' (1978)", junto com uma foto de uma criatura e uma mulher assustada. A postagem foi replicada quase 600 vezes, até o fechamento desta edição. Páginas, como a "Proibido Ler", que tem mais de 500 mil seguidores, republicaram o tuíte no Facebook (mesmo que sem crédito). O post teve mais de cinco mil curtidas e sete mil compartilhamentos. O boato estava criado. Mas o melhor filme de 2018 foi mesmo inspirado em uma "pornochanchada brasileira de 1978?"

Uma rápida olhada no perfil que tuitou a mensagem, dono de quase 10 mil seguidores, já esclarece a brincadeira. Basicamente, as publicações do perfil são fotos e legendas com o objetivo de fazer piadas ou brincar com alguma situação. O post anterior a esse é uma foto do presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com a legenda "Donald Trump - presidente norte-americano - e seu exótico penteado 'comb hair' (Casa Branca, 1978)".

Imagem ilustrativa da imagem MENTIRA OU VERDADE - 'A Forma da Água' vira objeto de zoeira



Boato puro? Sim, mas, de fato, houve influência, se não brasileira, com certeza, da América Latina para o filme vencedor do Oscar. Além da nacionalidade mexicana do diretor, a inspiração veio de outra obra hollywoodiana: "O Monstro da Lagoa Negra" (1954). O produtor do filme, William Alland, estava em um jantar com Orson Welles, diretor e personagem principal de "Cidadão Kane" (1941), que Alland produziu, e Gabriel Figueroa, um mexicano diretor de fotografia. Neste jantar, Figueroa teria contado sobre a lenda de um povo que vivia na Amazônia e nele havia uma "criatura metade homem e metade peixe", que todos os anos tomava para si uma donzela. Quem pesquisou e investigou essa história foi o jornalista e pesquisador sul-mato-grossense Andriolli Costa. O texto está em seu blog "Colecionador de Sacis" (https://colecionadordesacis.com.br/), destinado a unir jornalismo e folclore.

O texto foi produzido também em inglês e o próprio Del Toro, em seu perfil oficial no Twitter (@RealGDT), comentou a mesma história envolvendo Figueroa e o jantar com Alland. O jornalista brasileiro, investigou outros mitos nacionais e latinos e encontrou semelhanças, mas não o mesmo ser retratado nos filmes. Como ele diz em seu texto: "O que temos então é um americano que ouviu de um mexicano uma narrativa fantástica da América do Sul. Uma fonte terciária que pode ter derivado um mito realmente existente ao ponto dele se tornar irreconhecível. Fica difícil saber se Figueroa ouviu a história no Brasil ou em algum outro país. Afinal, a floresta amazônica também integra o território de Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. Da mesma forma, fica difícil saber se entre as centenas de povos indígenas há algum que possua exatamente o mito narrado sobre o homem peixe." Referência brasileira? Talvez. Influência amazônica? Com certeza. Há uma "pornochanchada chamada 'O Pirarucu Tarado e a Mudinha'"? Puro Boato.

Supervisão: Celia Musilli
Editora da Folha 2