Poderia ser próprio ao tema falar em magia, mas o assunto não pode ser tratado como mera manipulação ilusória em um palco. Nos anos 50, o glamour de Hollywood imperava nos continentes, fascinando jovens de todo o mundo que sonhavam em viver naquele ''planeta'', onde tudo era rico, belo e eterno. Em 1954, tendo como cenário o requintado Cassino Quitandinha, em Petrópolis (RJ), foi realizado o concurso que elegeu Martha Rocha, a primeira miss brasileira que concorreria ao título de Miss Universo. No concurso, apenas cinco candidatas representando quatro estados e o Distrito Federal (Rio de Janeiro). Assim se deu o início de uma história com momentos felizes, tristezas, conquistas e derrotas. Foi a partir de 1954, quando começou ao ser promovido todos os anos, que o concurso passou a ter caráter oficial. Somente em 1990, o Brasil não enviou candidata ao Miss Universo.
Em 1954, a segunda Copa do Mundo perdida quatro anos depois de amargar a antológica derrota de 1950 em pleno Maracanã, os brasileiros sonharam então com o título de Miss Universo, a ser conquistado por uma 'atleta especial', de olhos verdes e beleza estonteante. O certame não aconteceu em um estádio, mas em uma passarela montada em Long Beach-USA, onde o concurso Miss Universo foi realizado pela terceira vez.
A bela brasileira se vestiu com elegância e a cada aparição, câmeras, flashes, aplausos e mais admiradores. Na arena, o jogo do charme e sensualidade foi travado. Os pontos foram conquistados e a certeza que o título disputado seria brasileiro. Vestindo seu uniforme de banho, a ''atleta Martha'' entrou em campo, ou melhor, na passarela. O inacreditável aconteceu: um drible maroto de um dos juízes, impiedoso e até hoje inexplicável, deu aos americanos o cobiçado título. A campeã foi Miriam Stevenson Upton, eleita Miss Universo 1954. Qual o motivo da derrota, com sabor de vitória? Ah! Nossa deusa tinha duas polegadas a mais nos quadris...
Foi nas décadas de 50 e 60 que o futebol encontrou um concorrente à altura para disputar a atenção popular. Se de um lado 22 jogadores entravam em campo, na passarela eram as mais belas mulheres do País, cada qual representando um Estado brasileiro. A realização do Miss Brasil, em cada edição, reunia mais de 20 mil espectadores no Maracanãzinho. O povo queria conhecer de perto a referência de beleza que, durante um ano, reinaria soberana no País. As eleitas eram recebidas nos estados como rainhas, atraindo multidões por onde passavam. Ao chegar para a disputa do título de Miss Universo, eram tidas como favoritas. O Brasil, em seu pior momento político da história, ano após ano fez semifinalistas no Miss Universo. As conquistas do título máximo aconteceram em 1963, com a gaúcha Ieda Maria Vargas, e em 1968, com a baiana Marta Vasconcelos.
O concurso deixou de ser realizado no Quitandinha em 1958, sendo transferido para o Maracanãzinho. Da ''meca dos concursos', como era conhecido, foi transferido para Brasília, no Ginásio de Esportes Presidente Médici, de 73 a 80. O veterano Paulo Max e Marli Bueno eram os mestres de cerimônias.
Os Diários e Emissoras Associados, conglomerado que tinha Assis Chateaubriand como presidente, assumiu de 1955 a 1980 a promoção do Miss Brasil. Sílvio Santos adquiriu os direitos de realização do evento, de 1981 a 1989. Marlene Brito esteve à frente do concurso de 91 a 93. Em 1994, convidado pela organização do Miss Universo, Paulo Max passou a ser o franqueado brasileiro até 1996. Em agosto de 1996, Paulo Max e sua mulher Maria José morreram em um acidente automobilístico. Por dois anos o evento foi promovido pela Singa Brasil, de propriedade dos filhos de Paulo Max. Hoje o concurso pertence a Gaeta Promoções Eventos Ltda (RJ), sob a direção de Boanerges Gaeta Júnior e Nayla Micherif Miss Brasil 1997.
Registrar a história do concurso sem citar Silvio Santos, é subtrair um dos grandes momentos por que passou o concurso. Historiadores e aficionados dos concursos temem que foi nesta época, de 1981 a 1989, que o concurso começou a cair no ostracismo. No entanto, os números confirmam que a ''era SS'' foi uma das mais produtiva.
A primeira Miss Brasil A história revela que o primeiro concurso Miss Brasil foi realizado por volta de 1865, com a vitória de uma francesa radicada no Brasil, de nome Aideé. Deste concurso pouco se sabe, mas Aideé e outras sete brasileiras antecederam Martha Rocha com o título Miss Brasil. Em 1900, Violeta Lima Castro, do Rio de Janeiro, deu início ao novo século sendo eleita a mais bela brasileira. Nas comemorações do Centenário da Independência, a santista Zezé Leone, também conquistou para São Paulo o título de Miss Brasil 1922. Olga Bergamine de Sá, do Rio de Janeiro/DF, foi eleita em 1929.
Um jornal carioca, A Tarde, promoveu no Rio de Janeiro dois concursos em 1930: O Miss Brasil e Universo, ambos vencidos por Yolanda Pereira, do Rio Grande do Sul. Em seguida também receberam títulos de Miss Brasil Ieda Telles Menezes, do Rio de Janeiro, em 1932; Vânia Pinto, do Rio de Janeiro, em 1939, e Jussara Márquez, de Goiás, em 1949.
Vale registrar que esses concursos, mesmo tendo valor histórico, não podem ser reconhecidos como oficiais. Não eram realizados ano a ano, como um evento tradicional. Não eram regidos sob nenhum estatuto regulamentar. Até que algum documento prove ao contrário, Martha Rocha continua sendo a primeira Miss Brasil que deu início a uma tradição.