André Bernardo
TV Press
Nos anos 50, a região da Times Square em Nova York ficou conhecida como a esquina do mundo. Dizia-se que, se alguém ficasse parado lá por apenas cinco minutos, provavelmente iria encontrar algum conhecido. Foi justamente por isso que o diretor Carlos Manga escolheu o nome do coração da Broadway em Nova York para batizar um dos mais importantes humorísticos da tevê brasileira. Afinal, o ‘‘Times Square’’, exibido pela extinta TV Tupi, reunia nomes conhecidos de todo o público da época, como Oscarito, Grande Otelo e Paulo Gracindo.
Não por acaso, o ‘‘Times Square’’ serviu de inspiração para ‘‘Meio Século de Espetáculo’’, o primeiro dos episódios temáticos da série ‘‘50 Anos de Tevê Brasileira’’. O especial que vai ao ar hoje, pela TV Globo, depois do ‘‘Programa do Jô‘‘, promove o inusitado encontro de humoristas das mais diferentes gerações, como Renato Aragão, Ronald Golias e Tom Cavalcante. ‘‘Tive uma trabalheira danada, mas consegui homenagear a todos os grandes humoristas da tevê brasileira. Ninguém ficou de fora...’’, festeja Manga.
O supervisor geral da série ‘‘50 Anos de Tevê Brasileira’’, no entanto, não teve trabalho sozinho. Para não esquecer de nenhum dos comediantes que fizeram o Brasil rir em frente à tevê, ele contou com a ajuda da roteirista Maria Carmem Barbosa e da diretora Cininha de Paula. As duas, por sua vez, resolveram vasculhar as respectivas memórias afetivas. A primeira é filha do redator Haroldo Barbosa, fiel companheiro de Max Nunes em humorísticos como ‘‘Faça Humor, Não Faça a Guerra’’ e ‘‘Satiricon’’. Já a segunda é sobrinha do comediante Chico Anysio, responsável por outros sucessos como ‘‘Noites Cariocas’’ e ‘‘O Riso É o Limite’’, ambos exibidos pela extinta TV Rio. ‘‘Não dá para fazer uma retrospectiva de 50 anos em apenas 50 minutos de especial. É muito pouco tempo...’’, lamenta Maria Carmem.
Mesmo assim, ela acredita que cumpriu bem o papel. Para escrever o roteiro de ‘‘Meio Século de Espetáculo’’, resgatou o formato do extinto ‘‘Balança, Mas Não Cai’’, transferido do rádio para a tevê por Max Nunes em 1968, a pedido do diretor Walter Clark, da Globo. Os humoristas convidados vão se esbarrar nos corredores de um hotel cenográfico, construído nos estúdios do Projac, como se fosse uma tresloucada convenção de humor. A roteirista só lamenta o veto da Globo à participação de Jô Soares. A aparição do humorista vai ficar restrita a imagens de arquivo. O próprio apresentador admite que não pretende mais investir em humorísticos. ‘‘Ainda continuo fazendo humor no meu programa. Só não posso entrevistar o senador Antônio Carlos Magalhães vestido de Capitão Gay, não é mesmo?’’, diz o gordo apresentador, sem explicar o motivo do impedimento.
De qualquer forma, a lista de convidados é extensa e inclui humoristas de outras emissoras, como Carlos Alberto de Nóbrega e Ronald Golias, do SBT. O primeiro vai esbarrar com João Canabrava, interpretado por Tom Cavalcante, em pleno bar. Já o segundo vai resgatar o velho Bartolomeu Guimarães num esquete em que contracena com Didi Mocó, criado por Renato Aragão, na piscina do hotel. Filho do veterano Manoel de Nóbrega, Carlos Alberto lembra que o pai teve a idéia de criar o programa ‘‘A Praça da Alegria’’ em Buenos Aires, quando sentado num banco de praça observava os mais diferentes tipos que passavam por ali. ‘‘Atribuo a longevidade do programa à simplicidade da proposta. Sempre fizemos um humor ingênuo e sem apelação’’, frisa.
Na galeria de tipos que vão interagir no especial, os sete integrantes do grupo Casseta & Planeta vão dar boas risadas ao lado de Paulo Silvino. Embora seja um dos mais recentes exemplares do gênero, o humorístico ‘‘Casseta & Planeta, Urgente!’’ consegue agradar a veteranos como Renato Aragão, Agildo Ribeiro e Carlos Manga. Com o passar do tempo, eles também adotaram bordões como ‘‘Sou espada!’’ e ‘‘Vou dar porrada!’’. Os integrantes da trupe conseguem ser irreverentes até quando são convidados para participar do ‘‘Meio Século de Espetáculo’’. ‘‘Tapinha nas costas, tudo bem. Só não aceito que passem a mão na minha bunda’’, avisa Marcelo Madureira.