Bastante utilizada nos anos 1970 por jornalistas e quadrinistas opositores ao regime militar que dominava o Brasil, a palavra pasquim está sendo resgatada pelo médico e escritor Carlos Homero Giacomini. O termo criado na Roma antiga para se referir a textos irônicos dirigidos às autoridades vigentes foi escolhido para dar título ao seu mais recente livro. Em “Pasquim da Pandemia – Saúde e Democracia Fragilizadas”, o autor produz um diário crítico sobre a evolução do coronavírus no Brasil e os fatores que colocaram o país no epicentro mundial da doença, com mais de 110 mil mortes e mais de 3,3 milhões de casos confirmados.

Mestre em Saúde Pública, Carlos Homero Giacomini escreveu crônicas diárias mesclando seus conhecimentos como médico pediatra, especialista em doenças infecciosas e parasitárias com mais de 35 anos de atuação como gestor público. “O livro é fruto da indignação com as opções que o Brasil fez no enfrentamento da maior crise de sua história. Quis me manifestar como médico de saúde pública, ajudando as pessoas a compreenderem a epidemia do ponto de vista da epidemiologia e da saúde em meio a uma monumental disseminação de fake news mal intencionadas em todo o mundo, no Brasil em destaque. Como cidadão, analisando as atitudes do governo e das organizações públicas. E como pessoa, trazendo minhas inquietações, inseguranças e expectativas num momento de muitas dificuldades para qualquer ser humano”, diz o autor.

O livro reúne textos produzidos entre o início da pandemia (março) até Brasil atingir o epicentro da crise, em maio. “Uma das primeiras projeções apontava no cenário otimista 1 milhão de casos e 40 mil mortes no Brasil até o controle da epidemia e, no cenário mais pessimista, 2 a 3 vezes isso. Parece não haver dúvida agora, de que suplantaremos as mais pessimistas. Pensava-se que o negacionismo maléfico adotado como estratégia política do governo central não persistiria por muito tempo, ele está aí em pleno vigor, enquanto morrem mil pessoas por dia há 10 semanas”, critica.

Na avaliação do escritor, faltou competência para administrar a crise gerada pela pandemia. “Quem poderia ter assumido o papel de liderança escolheu não fazê-lo, sequer foi solidário, deixando o país perplexo e desorientado. Muitos estão convencidos de que esta fuga às inegáveis responsabilidades de presidente, sobretudo nas horas mais críticas da nação, só pode ser explicada por motivos ainda não claros, que quase ferem de morte nossa frágil democracia, mas que, por obra dela mesma, começam a ser esclarecidos. Vai passar, mas muitos não poderão se orgulhar do papel que desempenharam para isso”, ressalta.

Carlos Homero Giacomini: “Uma das primeiras projeções para a covid-19 no Brasil apontava 1 milhão de casos e 40 mil mortes no Brasil, no cenário mais pessimista, 2 a 3 vezes isso; mas não há dúvida que suplantaremos as projeções”
Carlos Homero Giacomini: “Uma das primeiras projeções para a covid-19 no Brasil apontava 1 milhão de casos e 40 mil mortes no Brasil, no cenário mais pessimista, 2 a 3 vezes isso; mas não há dúvida que suplantaremos as projeções” | Foto: Divulgação

Giacomini aponta algumas medidas que julga imprescindíveis para conter a crise causada pela pandemia. “Distanciamento social nas suas várias modalidades com orientação estritamente epidemiológica. Uso constante e adequado de máscaras. Valorização da capilaridade dos serviços do SUS para orientação, busca, identificação e manejo dos casos e contatos. Aperfeiçoamento contínuo do tratamento intensivo hospitalar. Além, é claro, da dedicação das maiores energias nacionais à vacina, com distribuição equânime e participação na solução do problema mundial. Para que tenhamos luz no fim do túnel é preciso que todo o mundo possa contar com alguma luz, pois o SARS-CoV-2 é uma das ameaças à humanidade inteira”, conclui.

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. | Foto: Divulgação

“Pasquim da Pandemia – Saúde e Democracia Fragilizadas” é o quatro livro de autoria de Giacomini, que já publicou “Valor, Talento e Método”, “Os Segredos do Gestor Público de Sucesso” e “Brasileiros, Paixão Itália!”. A obra recém-lançada pode ser adquirida no formato digital e físico no site da Editora Reler.