.
. | Foto: Divulgação

O poeta e dramaturgo londrinense Maurício Arruda Mendonça foi agraciado, na última quinta-feira (11) com o Prêmio Biblioteca Nacional de 2021, um dos mais tradicionais prêmios de literatura brasileira. O prêmio contou com 1.454 obras inscritas em oito categorias.

Maurício Mendonça recebeu o 1º lugar na categoria “Ensaio Literário – Prêmio Mário de Andrade” com o livro “Kafka e Schopenhauer: Zonas de Vizinhança” publicado pela Eduel (Editora da Universidade de Londrina) em 2020.

A obra investiga as conexões entre literatura e filosofia presentes na obra ficcional do escritor tcheco Franz Kafka (1883 – 1924) e no pensamento do filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788 – 1860).

Analisando os textos de Franz Kafka através da ótica da filosofia, o autor demonstra que uma das mais importantes contribuições de Kafka para aquilo que conhecemos hoje como romance moderno, seria a “capacidade em estruturar textos de forma a fazer o leitor experimentar e vivenciar a estranheza do mundo”. E que Kafka e Schopenhauer consideram que o mundo poderia ser descrito como uma enorme penitenciária: “Um presídio a céu aberto, de condenação, no qual o indivíduo é carrasco e vítima a um só tempo.”

Maurício Arruda Mendonça: "O prêmio significa  o reconhecimento por um trabalho de ensaio no meio literário brasileiro, num contexto em que a educação e a cultura estão sendo constantemente depreciadas e agredidas"
Maurício Arruda Mendonça: "O prêmio significa o reconhecimento por um trabalho de ensaio no meio literário brasileiro, num contexto em que a educação e a cultura estão sendo constantemente depreciadas e agredidas" | Foto: Valéria Félix/ Divulgação

Em setembro de 2021, a editora Kotter, de Curitiba, lançou “Luzes de Outono – Poesia Reunida (1983 – 2020)”, volume que reúne toda produção poética de Mendonça. O livro traz obras esgotadas como “Eu Caminhava Assim Tão Distraído” (1997), “Epigrafias” (2002) e “A Sombra de um Sorriso (2003). Também traz poemas inéditos escritos entre 1983 e 2020.

A seguir, Maurício Arruda Mendonça fala sobre a premiação.

O que representa, para você como escritor, ganhar o Prêmio Biblioteca Nacional?

O fato de ser um prêmio importante concedido pela Biblioteca Nacional, uma instituição tão antiga quanto fundamental para a cultura brasileira, é um fator para mim de contentamento. Mas principalmente significa o reconhecimento por um trabalho de ensaio que passa a ser considerado relevante para o meio literário brasileiro, num contexto em que a educação, a cultura, as artes e o pensamento estão sendo injusta e constantemente depreciadas e agredidas.

Qual a tese central de “Kafka e Schopenhauer: Zonas de Vizinhança”?

Minha linha de pensamento é a relação entre literatura e filosofia, desde meu trabalho com o romance-ideia “Catatau” de Paulo Leminski e sua relação com a filosofia de René Descartes. Tenho um estilo de abordagem hermenêutico. Minha tese central é a de que Kafka efetivamente leu e dialogou com a filosofia de Arthur Schopenhauer nos períodos mais brilhantes de sua curta carreira literária. Analisei obras de Kafka como o romance “O Castelo”, os “Aforismos de Zürau”, a novela “Na Colônia Penal” e a narrativa curta “O Caçador Graco”, e suas relações filosóficas com “O Mundo Como Vontade e Como Representação”, “Metafísica da Morte” e “Sobre a Doutrina da Indestrutibilidade” de Schopenhauer. Constatei que Kafka realmente jamais esteve alheio à filosofia da Vontade de Schopenhauer, mas em total diálogo com ela. Por isso, exemplifico a questão pelo fato de Kafka ter retirado a expressão e parte da ideia da ‘colônia penal’ do livro “Parerga e Paralipomena” de Schopenhauer.

Ser agraciado com o prêmio foi algo inesperado?

Recebi a notícia do primeiro lugar com grande surpresa. Confesso que tinha dúvida sobre a aceitação de um estudo ‘sui generis’ entre literatura e filosofia. Mas me encorajei a tentar o prêmio porque sabia que um estudo abrangente sobre a relação entre Franz Kafka e Arthur Schopenhauer ainda não havia sido feito, nem mesmo no exterior. E o desafio foi esse: traçar todas as linhas que mostrassem a vizinhança entre a filosofia de Schopenhauer e determinados textos de Kafka. Devo agradecer muito ao meu orientador, professor Volnei Edson dos Santos, que foi meu mentor em meu doutorado no Departamento de Letras da UEL. Agradecimento também à Editora da Universidade e seus pareceristas, que decidiram pela publicação desse livro.

.
. | Foto: Divulgação

Serviço


“Kafka e Schopenhauer: Zonas de Vizinhança”

Autor – Maurício Arruda Mendonça

Editora – Eduel

Páginas – 226

Quanto – R$ 54 (papel) R$ 32,40 (e-book)