Esse é um assunto intrigante, mas uma coisa é certa: o preconceito, a falta de informação ou ainda a má interpretação das inevitáveis alterações físicas e psicológicas atrapalham a continuidade da prática sexual na terceira idade. Algumas vezes, fracassar ou evitar o sexo induzido pelo mito - pessimista e ansioso - ou pelas alterações biológicas tanto no homem como na mulher, gera uma diminuição na frequência das atividades sexuais; porém, isso não significa o fim da expressão ou do desejo sexual na velhice.
A idéia de que o ser humano tem que perder sua habilidade sexual à medida em que o tempo passa não está correta. Na verdade, o sexo, assim como outras atividades, torna-se menos necessário com o avanço da idade, mas não há idade para praticá-lo: homens e mulheres saudáveis, se assim o desejarem, podem se manter sexualmente ativos por toda a vida. O importante é manter a prática sexual em ação, mesmo que numa menor quantidade. Pois é na ausência regular desse comportamento que aparecerão os distúrbios tróficos, fatores que impedirão contatos posteriores, desencadeando os distúrbios psicossexuais. Assim, o primeiro passo é renovar os paradigmas ao longo da vida; o segundo, variar numa busca constante por novas alternativas, procurando eliminar uma falsa moral sexual que se interpõe e condiciona à uma disfunção biológica - que deveria estar preservada.
Em toda perda, há um ganho!
Na maturidade, sabemos que a resposta sexual, considerando desejo, excitação e orgasmo, diminui como outras do organismo; porém, a qualidade do comportamento sexual, quando se deseja e se organiza para continuar praticando-o, aumenta. Mudanças físicas e orgânicas não são, necessariamente, as responsáveis pelo fim da intimidade entre um casal de idosos. Na avaliação dos sexólogos, as barreiras são socioculturais, ou seja, a idéia errada de que sexo é privilégio dos mais jovens e que não deve fazer parte da melhor idade.
No geral, as necessidades sexuais dos idosos são diferentes das dos jovens, pois as pessoas mais velhas vivem num outro momento da vida: prezam mais a intimidade e as trocas com seu companheiro(a) do que, por exemplo, a frequência das relações sexuais. Sexo entre pessoas mais velhas é muito natural e importantíssimo para manter a qualidade de vida, pois ajuda a perder peso, melhora a disposição física, a qualidade do sono, o apetite e a digestão, além de favorecer a circulação sanguínea. Não há contra-indicações!
Doenças Sexualmente Transmissíveis
Esse é um problema sério. Estatísticos demonstram um alto índice de infecção do HIV e outras DSTs na terceira idade. Por qual motivo? Porquê usar camisinha é novo para os idosos de hoje, em especial, para os homens que, empolgados com algumas drogas contemporâneas - que ajudam no vigor e na potência peniana - estão saindo por aí em busca de uma juventude que não volta mais; de uma ilusão quantitativa... desenfreada.
Para você, que tem companheiro(a) fixo, é preciso olho vivo! Na menor supeita, o melhor é o diálogo e acordar o uso do preservativo, recusando, sempre, a prática sexual sem ele. Ah... não posso me esquecer de observar uma crença social bastante errada: que as DSTs são só para os ''diferentes'' do ''imposto padrão social''. Pesquisas demonstram que os heterosexuais lideram os índices de infecção e transmissão, justamente por estarem certos de que o mal está só para os ''diferentes''.
Enfim, de forma geral, defendem-se que com idosos não se deve falar sobre sexo, fantasias sexuais ou novos relacionamentos. Penso aí numa certa confusão instalada entre dois conceitos: respeitar e conquistar, podendo, esse segundo, ser um espaço aberto e amigo com o idoso, a fim de se conversar sobre tudo, inclusive, seus desejos/hábitos sexuais.
Sexo na maturidade é um exercício também de expansão dos paradigmas do que, de fato, sejam comportamentos sexuais. Um fator bastante desconhecido é que o simples ato de dormir junto - ''de conchinha'', sentindo o calor do outro encostado em você, por exemplo, já é uma das formas de se praticar a sexualidade. Não esqueça que valores muito importantes passam despercebidos na prática sexual quantitativa dos mais jovens: intimidade, sensação de aconchego, afeto, carinho e o verdadeiro amor. Então, não os use como referência. Curta o seu momento da vida. Utilize a maturidade para qualificar uma prática sexual ímpar e inigualável, cada vez que acontecer.
Uma ótima semana!

Marcelo Caires é gerontólogo em Londrina
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