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Folha 2 5m de leitura

Marília Mendonça faz pontes com o brega em EP póstumo sem inéditas

A gravação, que abre o primeiro álbum póstumo da cantora, 'Decretos Reais, Vol.1', foi retirada de uma live feita em maio de 2021

ATUALIZAÇÃO
22 de julho de 2022

Lucas Brêda/ Folhapress
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São Paulo - Um arranjo sofrido de sax introduz o novo EP de Marília Mendonça, expoente da música sertaneja que causou um rebuliço no gênero e morreu trágica e precocemente no ano passado, em um acidente de avião. Ela surge cantando "Te Amor Demais", hit de Leonardo de 2002, em versão arrastada e ainda mais romântica que a original. "É amor demais, tenho nem palavras para expressar", ela diz durante a performance.

A gravação, que abre o primeiro álbum póstumo da cantora, "Decretos Reais, Vol.1", foi retirada de uma live feita por Mendonça em maio do ano passado, assim como as outras três faixas do EP. A transmissão, chamada "Serenata", trouxe um repertório que mesclava músicas gravadas pela própria Mendonça e versões de canções de diversos estilos.

Até por isso surpreende que o lançamento do EP tenha causado uma instabilidade no Spotify, a plataforma de streaming mais consumida no Brasil, devido a alta procura dos fãs. Segundo um levantamento do G1, Mendonça deixou pelo menos 100 composições registradas, mas nenhuma delas está presente na nova obra, e é difícil saber quais dessas inéditas a artista chegou a gravar em estúdio.

"Decretos Reais, Vol.1", na verdade, não traz sequer performances inéditas, já que essas gravações puderam ser ouvidas na live no YouTube. Nem por isso, o EP chega sem apelo - mesmo sete meses depois de morrer, Mendonça tem sua obra ainda muito escutada país afora, com mais de 9 milhões de ouvintes mensais no Spotify.

Se não traz novidades, o EP destaca alguns dos aspectos que fizeram da cantora uma das mais queridas do país. Ela surge cantando ao vivo, sem grandes retoques em sua voz, mais crua e orgânica do que em seus lançamentos regulares.

Por se tratarem geralmente de obras não finalizadas, lançamentos póstumos costumam soar artificiais e robotizados, manipulados por produtores e engenheiros para esconder as marcas de imperfeição que, muitas vezes, são a razão dessas obras não terem sido lançadas pelo artista em vida. Não é o caso do primeiro volume de "Decretos Reais", que traz uma Mendonça humana como era conhecida pelo público.

ARRANJOS DE SAX E TECLADO

Na voz de Mendonça, as versões soam mais despojadas, com uma banda guiada por bongôs e atabaques que ecoam a bachata - estilo latino que há alguns anos empresta elementos à música sertaneja -  e arranjos de sax e teclado. Sem grandes requintes estilísticos, ela faz conexões com o brega do Nordeste e a música popular incrustada na trilha sonora do dia-a-dia dos interiores do país.

Originalmente, "Te Amo Demais" traz batidas eletrônicas e uma voz fina e dramática de Leonardo. Com Mendonça, a música soa arrastada e o sentimentalismo ganha vida com os vocais robustos da goiana. Ela canta "Te Amo, Que Mais Posso Dizer", versão em português de "More Than I Can Say" conhecida na voz de Ovelha, com versos que poderiam ser declamados por fãs à cantora, como "volte logo, não suporto esta distância de você".

Ela também canta "Não Era Pra Ser Assim", outra música do começo dos anos 2000, esta de Zezé di Camargo e Luciano, e um pout-pourri que une dois clássicos românticos - "Sendo Assim", de Genival Santos, e "Muito Estranho", de Dalto. O medley é pontuado por um sax rasgado e colorido por guitarras que vão dos solos cheios de eco às levadas de lambada.

Na live que originou o EP, Mendonça não se limita ao sertanejo, e canta de Xamã a Rick & Renner, de Milionário & José Rico a Tierry, passando por Calypso, Roberto Carlos e Jorge e Mateus. A cantora navegava por um espectro amplo e original de influências, e ainda que a obra póstuma destaque o lado romântico mais tradicional da Rainha da Sofrência, ela está presente em toda sua potência.

Lançado na véspera da data em que a cantora celebraria 27 anos de idade (22 de julho), e sem ineditismo, "Decretos Reais, Vol.1" abre a porteira para que a obra de Mendonça continue emergindo mesmo na ausência de sua protagonista. Não é um álbum que expande o entendimento em torno da cantora, mas a reafirma como uma das artistas que melhor soube decifrar o que significa sofrer por amor.

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