Manifestos contra o retrocesso
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sábado, 30 de dezembro de 2017

Para o cantor gaúcho Filipe Catto, em 2017 o Brasil passou por um estado de absoluta catástrofe cultural. "A cultura foi colocada de novo num estado de marginalização pela sociedade. O sistema conseguiu embutir na cabeça das pessoas que a arte é uma linguagem que vai destruir mais ainda esse país. Isso fez com que a gente tivesse menos apoio pra conseguir frear um pouco esse retrocesso", avalia.
Apesar disso, Catto salienta que o Brasil nunca se fez uma arte tão contundente e descentralizada. "É uma resposta a isso tudo. A cultura foi violentada por esse governo de uma forma sem precedentes, não só pelo governo federal, mas também em nível estadual e municipal. A gente sofreu uma coisa inadmissível, principalmente por causa das campanhas de ódio dessa ala reacionária da sociedade contra o artista. Acho que isso tudo foi um combo de ignorância e de desinformação sem fim que aconteceu neste último ano. Apesar dessa história toda, a cena artística brasileira nunca esteve tão forte. Vejo uma pluralidade cultural, uma riqueza de trabalhos artísticos, uma linguagem estética nova, interessante, forte e potente que está nascendo dessas cinzas", ressalta o artista que em 2018 pretende excursionar pelo Brasil com a turnê de seu mais recente álbum, intitulado "Catto".

Na opinião da cantora paulistana Ana Canãs, a força gerada pela união da classe artística será a solução para conter o retrocesso cultural que o país atravessa. "Com a internet, as minorias nesse país ganharam voz. Unidas, elas têm muita força e conquistaram inúmeros avanços. Que essas vozes sigam ainda mais fortalecidas, apesar de todo fascismo presente nos discursos atuais. Que possamos resistir, nos unir e lutarmos para que o direito e a liberdade de todos sejam garantidos e mudanças sejam retomadas", ressalta.
Canãs afirma ainda que "a retração e redução de incentivos é o reflexo do governo atual, ilegítimo, que promove de maneira avassaladora o desmantelamento de todo aparato cultural de um país plural, rico e amalgamado em belezas idiossicátricas e únicas - além da derrubada de quase todos os demais direitos que foram duramente conquistados nas últimas décadas. Precisamos de um governo voltado radicalmente para o social, que promova mudanças nas estruturas, na base - isso significa a elite desse país abrir mão de seus enormes privilégios", conclui. (M.R.)

