"Pergunte ao criador quem pintou essa aquarela: livre do açoite da senzala, preso na miséria da favela". Esse verso é parte do samba de enredo "100 anos de liberdade: realidade ou ilusão?", que a Estação Primeira de Mangueira levou à Marquês de Sapucaí no carnaval de 1988 sobre o centenário da abolição da escravatura. De tão bonito e representativo, o samba se tornou em abril deste ano o Hino Oficial do Dia Nacional da Consciência Negra no Estado do Rio de Janeiro.

O orgulho da nação verde e rosa se misturou ontem com sentimento de pesar pela perda de Hélio Turco, um dos compositores do samba antológico e presidente de honra de uma das mais tradicionais escolas de samba do carnaval carioca. Ele morreu aos 87 anos, de causas não reveladas. Conforme destacou o "Portal Carnaval", o poeta foi o maior vencedor dos concursos da Mangueira, sendo autor de 16 sambas cantados pela agremiação na Sapucaí. Seis deles ajudaram a verde e rosa a se tornar campeã.

Era uma época em que as disputas envolviam apenas gente das próprias comunidades das escolas, sem as parcerias profissionais de hoje em dia, em que os mesmos autores concorrem em várias agremiações diferentes.

Curiosamente, o samba de 1988 não levou o título. Naquele ano, a Mangueira ficou com o vice-campeonato, atrás da Unidos de Vila Isabel, que levou um enredo igualmente histórico: "Kizomba, a festa da raça". Um dos sambas campões na Avenida de autoria de Hélio Turco foi o de 1984, em homenagem ao compositor Braguinha ("Yes, nós temos Braguinha").