"Mama Mundi", quarto disco de Chico César, chega às lojas17/Mar, 16:00 Por Mauro Dias São Paulo, 17 (AE) - Na capa do libreto que acompanha "Mama Mundi", Chico César usa óculos em forma de losango, posando contra fundo desfocado, futurista. Na contracapa, está de cocar e colares indígenas, imagem tratada em sépia, com jeito de antiga. As imagens não se contrapõem: completam-se. Ilustram a perspectiva musical do disco. O tratamento musical de "Mama Mundi" tem toques ancestrais de tambores, gritos e grunhidos rituais, eventalmente estilizados, loopings, octeto de cordas, piano e contrabaixo acústicos, gaita de fole e samplers. Não é disco de world music (os três CDs anteriores de Chico César foram lançados no exterior pela gravadora Putumayo, especializada em música étnica), nem bricolagem sonora - embora possa parecer, para quem lê a ficha técnica. Não é também uma tese sobre a universalidade ou atemporalidade dos ritmos e dos instrumentos. É a obra mais bem realizada de um músico contemporâneo, respeitador de sua história cultural - Chico, descendente de negro e índio, nasceu em Catolé do Rocha, na Paraíba -, mas inquieto, curioso, corajoso. O conceito de "Mama Mundi" veio ao músico no fim de 1998. "Eu resolvi fazer um disco mais intimista, acústico, mas com pegada, não molinho, ainda assim sem guitarra, sem bateria, sem baixo elétrico", conta. "Eu queria cordas; quis mudar de produtor, para experimentar outros rumos", diz. "Pensei em Mário Manga, Arto Lindsay, Liminha, Eumir Deodato, Jaques Morelenbaum e, por sugestão de Mazzola, que produzia meus discos até então, fiquei com Mário Manga, que conhece minhas manias, meus cacoetes, meus defeitos e toca comigo". Mazzola, dono da MZA Music, gravadora de Chico, produziu duas faixas: a que dá título ao CD e a faixa escolhida pela gravadora para tocar no rádio, "Pensar em Você", têm produção de Mazzola. Na quarta-feira, o compositor gravou o clipe de "Pensar em Você" num acampamento de sem-terra, em Matão, interior paulista. Chico quis o maestro Nelson Ayres para fazer os arranjos de cordas e tocar o piano acústico; quis o jovem Célio Barros (vencedor da edição instrumental do Prêmio Visa de MPB) para o contrabaixo elétrico. Quis Naná Vasconcelos e Marcos Suzano, para as percussões. Swammi Jr. (co-produtor do trabalho, como Chico também é co-produtor) para o violão de sete cordas, Toninho Ferragutti para o acordeão, Sacha Ambak para os sintetizadores e samples. São mundos diversos, múltiplos sotaques. Amadeu Magalhães toca a gaita de foles em "4h15 ou 10 p/3", a faixa de abertura, e o pai do compositor, Francisco, abre o pot-pourri "Dança do Papangu", de Chico e Zeca Baleiro, com cantos de reisado. O trompetista Walmir Gil assina os arranjos de metais (flugelhorns e trombones) em "Tambor", linda melodia, letra que é um achado - e assim por diante. Todos servindo à canção: todos trabalhando para destacar melodia e palavras. "Eu queria que soasse com unidade, com concentração", diz Chico. "Não como o disco anterior, "Beleza Mano", que era disperso, estilhaçado; ali havia um espírito dançante, para cima, e eu achei que deveria puxar para a reflexão". Chico César percebe que uma parte do público está cansada de facilidades: embora não queira que seu disco seja difícil, prefere não facilitar. "O País de Gonzaga, Noel e Pixinguinha, é o País da canção; as pessoas vão ouvir o disco e ver que o groove é bom, o loopbin é bom, o funk é bom, mas estão lá para servir à canção, para dar-lhe vida", diz. "Quero chamar o público para perto da música, não gritar para que ele ouça". Seja como for, o caminho escolhido é oposto ao do mercado. Mas Chico César tornou-se astro apesar do mercado - não por causa dele. "Escolhi caminhar na direção oposta", afirma. Sucesso? Ele acha que um determinado segmento ouvirá, analisará, espalhará a notícia. Uma grande notícia: mais um Chico César na praça.