‘Madame Natasha’, codinome Viúva Negra, foi introduzida nas HQ em 1964, uma personagem orientada pessoalmente pelo líder soviético Nikita Kruschev para espionar o Homem de Ferro. No princípio apenas uma sedutora agente secreta, ela retornou 12 edições mais tarde em trajes de super-vilão, transitando de HQ em HQ e apenas ocasionalmente conquistando seu próprio lugar na galeria dos personagens UCM. Já a Natasha de Scarlet Johansson estreou no medíocre “Homem de Ferro 2” (2010), e mostrou seu peso em “Vingadores” e “Capitão América” antes de morrer heroicamente para salvar metade do universo em “Vingadores: Ultimato”(2019). Talvez para manter Johansson a bordo da franquia, a Disney/Marvel há muito promete um veículo-solo para a Viúva Negra – obviamente definido por uma lacuna entre os filmes anteriores, quando a heroína ainda estava viva.

E o filme está aí. Aliás, em todas as salas de todos os shoppings de capitais e cidades grandes. Em Londrina, para ver legalmente só pagando caro via Disney Plus, porque as salas continuam interditadas via decretos. Como está se tornando hábito, uma diretora independente – a australiana Cate Shortland, mais conhecida pelo drama claustrofóbico de abdução “Berlin Syndrome” – ganhou a direção. Sua tarefa principal foi gerenciar a tensão evidente entre as sequências big size obrigatórias em filmes da franquia Marvel (lutas, objetos voadores caindo em chamas, inimigos aparentemente indestrutíveis) e não poucos momentos, digamos, menores, íntimos, emocionais. As cenas familiares entre ela, a irmã Yelena (Florence Pugh) e os “pais”, casal de russos espiões, Alexei e Melina (David Harbour e Rachel Weisz).

"Viúva Negra": Scarlet Johansson interpreta Natasha no filme cheio de ação e que traz um reencontro de irmãs
"Viúva Negra": Scarlet Johansson interpreta Natasha no filme cheio de ação e que traz um reencontro de irmãs | Foto: Divulgação

Natasha tinha uma irmã ? Sim, e uma “família”, como mostram cenas introdutórias que se passam em 1995. Todos devem fugir às pressas para Cuba, onde são recebidos por um grupo de russos. Russos, Cuba, espiões, o modelo de família como fachada: este esquema remete à serie “Americans” sobre espiões russos, em plena Guerra Fria, nos EUA, vivendo usos e costumes americanos. Ali também havia uma filha que começou a sentir que os pais não eram quem pareciam ser, abrindo assim uma porta para o que se poderia chamar de melodrama de identidade. Caminho semelhante ao que “Viúva Negra” segue. Pois o que se vai narrar a partir desses primeiros quinze minutos nada mais é que a busca da personagem para saber quem ela de fato é.

A busca a levará primeiro à irmã e depois, juntas, a uma poderosa organização liderada pelo coronel Dreykov (Ray Winstone), que usa e abusa das mulheres para tentar comandar os destinos do mundo. Até aqui tudo muito espionagem e muito Marvel, mas...uma bela surpresa: “Viúva Negra” opta por tomar um rumo muito mais humano, menos pirotécnico, priorizando as ressonâncias do reencontro de Natasha consigo mesma, com sua “família” postiça e com sua história de vida. Nada assim muito grave, tipo crise existencial bergmaniana, somente algo bem mais terra a terra. Claro, inevitavelmente não faltam situações de luta, explosões espetaculares, e para temperar a exasperação física há situações bem humoradas via evocação daqueles ótimos personagens animados de “Os Incríveis”. O “papai” Alexei, inclusive, até mereceria uma experiência solo.

Resta saber, a partir das cenas colocadas no final, pós créditos, que destino terá a irmã menor, Yelena, já que foi ela quem assumiu nas HQs o título de Viúva Negra.

Assista ao trailler de Viúva Negra

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