Mais humanos que super-heróis
"Viúva Negra" estreia em alguns cinemas ou pode ser visto na Disney Plus e traz de volta às telas uma heroína das HQs
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 22 de julho de 2021
"Viúva Negra" estreia em alguns cinemas ou pode ser visto na Disney Plus e traz de volta às telas uma heroína das HQs
Carlos Eduardo Lourenço Jorge
‘Madame Natasha’, codinome Viúva Negra, foi introduzida nas HQ em 1964, uma personagem orientada pessoalmente pelo líder soviético Nikita Kruschev para espionar o Homem de Ferro. No princípio apenas uma sedutora agente secreta, ela retornou 12 edições mais tarde em trajes de super-vilão, transitando de HQ em HQ e apenas ocasionalmente conquistando seu próprio lugar na galeria dos personagens UCM. Já a Natasha de Scarlet Johansson estreou no medíocre “Homem de Ferro 2” (2010), e mostrou seu peso em “Vingadores” e “Capitão América” antes de morrer heroicamente para salvar metade do universo em “Vingadores: Ultimato”(2019). Talvez para manter Johansson a bordo da franquia, a Disney/Marvel há muito promete um veículo-solo para a Viúva Negra – obviamente definido por uma lacuna entre os filmes anteriores, quando a heroína ainda estava viva.
E o filme está aí. Aliás, em todas as salas de todos os shoppings de capitais e cidades grandes. Em Londrina, para ver legalmente só pagando caro via Disney Plus, porque as salas continuam interditadas via decretos. Como está se tornando hábito, uma diretora independente – a australiana Cate Shortland, mais conhecida pelo drama claustrofóbico de abdução “Berlin Syndrome” – ganhou a direção. Sua tarefa principal foi gerenciar a tensão evidente entre as sequências big size obrigatórias em filmes da franquia Marvel (lutas, objetos voadores caindo em chamas, inimigos aparentemente indestrutíveis) e não poucos momentos, digamos, menores, íntimos, emocionais. As cenas familiares entre ela, a irmã Yelena (Florence Pugh) e os “pais”, casal de russos espiões, Alexei e Melina (David Harbour e Rachel Weisz).
Natasha tinha uma irmã ? Sim, e uma “família”, como mostram cenas introdutórias que se passam em 1995. Todos devem fugir às pressas para Cuba, onde são recebidos por um grupo de russos. Russos, Cuba, espiões, o modelo de família como fachada: este esquema remete à serie “Americans” sobre espiões russos, em plena Guerra Fria, nos EUA, vivendo usos e costumes americanos. Ali também havia uma filha que começou a sentir que os pais não eram quem pareciam ser, abrindo assim uma porta para o que se poderia chamar de melodrama de identidade. Caminho semelhante ao que “Viúva Negra” segue. Pois o que se vai narrar a partir desses primeiros quinze minutos nada mais é que a busca da personagem para saber quem ela de fato é.
A busca a levará primeiro à irmã e depois, juntas, a uma poderosa organização liderada pelo coronel Dreykov (Ray Winstone), que usa e abusa das mulheres para tentar comandar os destinos do mundo. Até aqui tudo muito espionagem e muito Marvel, mas...uma bela surpresa: “Viúva Negra” opta por tomar um rumo muito mais humano, menos pirotécnico, priorizando as ressonâncias do reencontro de Natasha consigo mesma, com sua “família” postiça e com sua história de vida. Nada assim muito grave, tipo crise existencial bergmaniana, somente algo bem mais terra a terra. Claro, inevitavelmente não faltam situações de luta, explosões espetaculares, e para temperar a exasperação física há situações bem humoradas via evocação daqueles ótimos personagens animados de “Os Incríveis”. O “papai” Alexei, inclusive, até mereceria uma experiência solo.
Resta saber, a partir das cenas colocadas no final, pós créditos, que destino terá a irmã menor, Yelena, já que foi ela quem assumiu nas HQs o título de Viúva Negra.
Assista ao trailler de Viúva Negra
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