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Folha 2 5m de leitura

Mais arte no "fundão" das salas de aula

Projeto de arte leva o graffiti ao Colégio Hugo Simas, objetivo é ampliar a ideia para as escolas estaduais e municipais, trazendo um colorido extra para crianças e adolescentes

ATUALIZAÇÃO
22 de junho de 2021

Natalia Perezin - Especial para a FOLHA
AUTOR

Graffiti de Carão, no Colégio Hugo Simas: com as salas vazias, artistas aproveitaram o momento para deixar um "presente" que servirá de inspiração ao cotidiano dos alunos
 

O “fundão” das salas de aula é conhecido como um espaço de brincadeiras e muita conversa. De modo geral, a turma do fundão é aquela conhecida por fazer arte. No Colégio Estadual Hugo Simas, essa arte, agora, tem um duplo sentido: as paredes do fundo de 16 salas estão cobertas de lindos e coloridos graffitis. 

Nos dias 5 e 6 de junho, 16 artistas se reuniram na escola para um dia de muita produção de arte, em específico, o graffiti. O Arte na Escola foi idealizado pelo grafiteiro Carão, que está na cena do graffiti há 21 anos e faz parte do coletivo CapStyle Crew. A palavra graffiti vem do italiano "graffito". O coletivo prefere utilizar essa terminologia em vez de "grafite" porque se assemelha mais com a origem. Além disso, para os artistas, grafite é o lápis grafite ou o que se coloca nas lapiseiras.

O projeto tem como objetivo despertar a curiosidade e criatividade de crianças e adolescentes, envolvendo-os com o mundo artístico. Ao todo, 16 das 19 salas da escola foram pintadas com os mais diversos estilos, ganhando muito mais vida. Pessoas, animais, elementos da natureza e frases como “Conhecimento é Poder” e “Empodere-se”, agora, vão alegrar ainda mais os dias dos alunos e de todos que visitarem as salas. 

Carão, idealizador do projeto, comenta que viu o Arte na Escola sendo feito em capitais, como Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. Isso despertou a vontade de realizar o projeto também em Londrina. Segundo ele, a cidade conta com ótimos artistas e a presença do graffiti é muito forte. O artista conta que a pandemia foi um empurrão para dar início ao trabalho: as escolas estariam fechadas e as salas, ociosas. Além disso, pensou no impacto que os alunos teriam ao voltar para as salas de aula e se depararem com as pinturas. 

Graffiti de Huggo Rocha para o projeto Arte na Escola
 

Há alguns anos, havia pintado um painel no Hugo Simas e, por isso, escolheu essa escola como ponto de partida. Quando propôs à diretoria, aceitaram prontamente a ideia. Alexandre Vilas Boas, diretor do colégio, afirma que os painéis são muito apreciados pelos alunos.

Depois da aprovação da diretoria, Carão convidou alguns artistas - entre eles, dois apucaranenses e um chileno radicado em São Paulo - para participarem da ação. O colégio contribuiu com parte dos materiais utilizados nas pinturas e com a alimentação dos artistas nos dois dias. O restante dos materiais foi subsidiado pelos próprios artistas. O Arte na Escola também recebeu apoio cultural de duas lojas de tinta.

UMA AÇÃO POR MÊS

 

Após a criação de um perfil na rede social para a divulgação do grupo, muitos artistas foram falar com Carão, pedindo para participar das próximas edições. A ideia é que seja feita uma ação por mês em diferentes escolas da cidade, de todas as regiões, principalmente, as periféricas. Para isso, é ideal que haja verba para arcar com os custos. O próximo passo seria a remuneração dos artistas. “A gente pretende fazer por nossa conta, mas precisamos do básico, que é a alimentação e o material”, diz. Ele reconhece que não são todas as escolas que poderão arcar com o essencial, como ocorreu com o Hugo Simas. O projeto está aberto para parcerias com empresas que desejam atrelar seus nomes a esta boa causa. 

O artista revela que começou a grafitar dentro de escolas na Zona Norte da cidade - região onde cresceu. “A oportunidade de levar seu trabalho pra dentro da sala de aula é demais. Porque além de contagiar o aluno, ele contagia o professor também”, comenta. Os professores disseram que vão usar as pinturas como inspiração ao ensinar os alunos. Ou seja, a transformação por meio do graffiti acontece para todos. De acordo com Carão, essa afirmação poderia se estender para mais segmentos de arte, espalhando, cada vez mais, a criatividade, a reflexão e a expansão de ideias. 

A professora de Geografia do Hugo Simas, Liliam Perez, ficou muito feliz com a ação realizada. Ela acredita que, quando os estudantes retornarem à escola, ficarão muito felizes com a mudança. “Essa recepção para eles vai ser muito bacana. E a escola tem que ser esse espaço de arte, porque a arte engloba todas as outras áreas. Os alunos vão se sentir representados”, diz. Também pontuou que a alegria transmitida pelos artistas no momento da ação foi muito especial.

Projetos como esse são responsáveis por estimular a criatividade de todos os indivíduos e, durante a infância e adolescência, isso é ainda mais importante. O contato com trabalhos artísticos pode provocar curiosidade e gerar reflexões a respeito de nós mesmos e do mundo. Vilas Boas acredita no poder de acolhimento da arte: “É uma forma de deixar o espaço mais estimulante, o sentimento de pertencimento é favorecido. Quando a pessoa está num lugar acolhedor, bonito, ela se identifica mais com o ambiente, ela cuida mais desse espaço.”

 

A aproximação das pessoas da arte é um movimento que deve ser constante na vida de todos. Dessa maneira, obtemos novos referenciais e alcançamos uma capacidade maior de compreender a história, o funcionamento da sociedade e, até mesmo, nossos sentimentos. “A arte contagia, ela chega para todos. E o graffiti é a arte mais democrática porque é feita na rua. Ele não é uma tela que se guarda em casa. O graffiti é para todo mundo”, diz Carão. 

Participaram do projeto os seguintes artistas e coletivos: Carão, Huggo Rocha, Napa, Korneta, Thiago Águ, Zion, Kenia e Jana, Muka, Eco Art, Zulian, Grilo, Jota Dias, Sayuri, Narizinho, Paulinho Circo e Rotka.

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