MACHADO, IMORTAL
PUBLICAÇÃO
sábado, 15 de abril de 2000
Francelino França
De Londrina
A obra aplaudida e consagrada do escritor Machado de Assis continua sendo uma fonte inesgotável para reflexão. Todos os anos, novos lançamentos surgem no mercado editorial, apresentando importantes análises literárias da obra do grande escritor, cuja característica principal era a ironia.
Muitos romancistas, com reverência e licença poética, se inspiram em figuras imortais machadianas para compor uma nova obra. Incontáveis personagens criados por Machado de Assis foram alforriados das páginas do imortal, seguindo outro rumo, numa chamada ficção crítica.
Os estudos caminham pelos pensamentos dos personagens que, de certa forma, explicam o autor, indicam pensamentos filosóficos machadianos. Há livros em que o autor se vale até da psicologia mórbida dos personagens e de como trabalha o tempo. Alfredo Bosi, Antônio Cândido, John Gledson, Josué Montello, José Paulo Paes, Affonso Romano Santanna, Roberto Shwarz, entre outras estrelas de maior ou menor brilho, já se debruçaram sobre a questão machadiana, revelando aspectos universais em sua obra.
Um dos mais recentes lançamentos Armário de Vidro, Velhice em Machado de Assis (Editora Nova Alexandria) se atenta especificamente sobre as representações da velhice nos romances e nas personagens do imortal. A autora Márcia Lígia Guidin, professora universitária, se detém em obras escritas quando Machado contava com 42 anos, até seu último livro, aos 69 anos. Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires passam pelo crivo crítico da professora.
Nessas obras selecionadas, Machado revela para si a própria velhice e reflete sobre ela. De Brás Cubas a Aires, se passaram 23 anos, mudou o grau e qualidade da ironia. A melancolia foi tomando conta de Machado, na constatação de Márcia Guidin. Ela faz uma ponte entre velhice, tempo e morte.
Caminhando por uma vertente mais poética, Rio de Assis (Editora Casa da Palavra), mergulha nas imagens cotidianas do Rio de Janeiro da época em que viveu o escritor carioca. A concepção e design do livro ficou sob o olhar criterioso de Aline Carrer, como trabalho de graduação do curso de Comunicação Visual. Ela concede à cidade maravilhosa o papel de protagonista na literatura machadiana, unindo fragmentos da obra de Machado em que se referia ao Rio de Janeiro. Um Rio quase inexistente é resgatado. Imagens de locais ainda presentes, como Rua do Ouvidor, Catete, Santa Teresa, Laranjeiras, Cosme Velho, Glória, Passeio Público, e tantos outros, forram as páginas do livro.
Copacabana no século XIX era de difícil acesso. Só se chegava lá a cavalo, após vencer a inclinada ladeira do Leme. De um trecho de Esaú e Jacó, pode-se viajar por esse passado remoto. Metia-se por bairros excêntricos, trepava aos morros, ia às igrejas velhas, às ruas novas, a Copacabana e à Tijuca... Rio de Assis encanta pelo esmero visual e, sem dúvida, é uma viagem à antiga e bucólica capital federal.
Mas a obra machadiana pode ser servida em outro formato, sem ser livro. A editora Luz da Cidade, do Rio de Janeiro, possui um trabalho em que coloca em áudio (CD) obras dos mais renomados escritores brasileiros. Já foram realizados dois lançamentos com obras de Machado de Assis, lidos pelo ator Othon Bastos. O primeiro volume reúne uma seleção de importantes contos, tendo como destaques A Cartomante e Um Apólogo. A narração precisa de Othon Bastos se apresenta com mais vigor no segundo volume, em que Paulinho Lima, idealizador do projeto, escolhe poesias, crônicas e contos.Novas publicações lançam luz sobre a obra de Machado de Assis, sucessivamente reeditado e pesquisado por sua importância literária
ReproduçãoMachado de Assis: num dos mais recentes lançamentos, Márcia Lígia Guidin detém-se sobre as representações da velhice na obra do escritor